(Luiz Costa)
Vaidosa, dona de um belo sorriso, com 1,72 m e 57 kg. Com tantos atributos, Rubiana Suzie Pereira, 28, poderia certamente ter tentado a carreira de modelo. Mas optou por deixar o salto alto de lado. Calçou as chuteiras e as luvas, deu um drible no preconceito e se tornou uma das goleiras mais respeitadas do futebol feminino no país.
“Mulher que joga futebol não é ‘Maria-homem’. Não tem nada disso”, garante Rubi, que não vive sem perfume, lápis nos olhos e creme hidratante. Contratada pelo América para a disputa do Campeonato Brasileiro, a camisa 1 – bicampeã da Libertadores pelo Santos, ao lado de Marta, cinco vezes seguidas eleita a melhor jogadora do mundo – entra em campo novamente na próxima quinta-feira, para enfrentar o Corinthians. O jogo, pela quarta rodada, acontece às 18h, em Osasco.
Se hoje Rubi garante vida confortável vivendo exclusivamente do futebol, o início da carreira não foi nada animador. “Pensei em desistir várias vezes. Uma época estava até trabalhando como operadora de telemarketing. Graças a Deus, e com o apoio da minha família e do meu padrasto, consegui superar tudo”, comemora a paulista, de Santo André, que passou boa parte da adolescência em Minas Gerais, onde começou a carreira no Atlético.
Futebol e pipa na rua
“Minha mãe insistia em me dar bonecas de presente, mas eu gostava mesmo era de jogar bola na rua e soltar pipa com os meninos”, lembra Rubi. “Ela morria de medo de eu me machucar. E até hoje é assim. Quando eu caio no campo, ela quase entra para me socorrer”, se diverte a camisa 1.
De fato, a mãe tinha um pouco de razão. A goleira já quebrou as duas tíbias e sofreu várias lesões. “Faz parte da nossa profissão.”
Desde que chegou ao América, no mês passado, Rubi está vivendo com o pai e alguns parentes na Região Nordeste de BH.
Na última quarta-feira, quando o América venceu o Vasco da Gama, por 1 a 0, no campo do Baleião, a arquibancada estava lotada de familiares. “Foi a primeira vez que a vi jogar como titular ao vivo. Foi uma emoção muito grande, difícil de descrever”, comemora o comerciante Geraldo Januário, 64 anos, pai da jogadora. Quem também estava lá era a prima e maior fã, Mireile Pereira. “Tenho uma coleção de camisas que ela me dá de todos os times por onde passou”, diz, exibindo uma do Santos, com o autógrafo do craque Neymar.
Ao lado de Marta
No Peixe, onde atuou de 2007 a 2011, Rubi viveu o grande momento de sua carreira. Ao lado de Marta, ajudou o Santos na conquistar do bi da Libertadores e da Copa do Brasil, num time que ficou conhecido como “Sereias da Vila” e estampou campanhas publicitárias. “Aprendi muito com a Marta, dentro e fora de campo. O jeito de ela chutar a bola e se movimentar é diferente. Mas o que mais me chamou a atenção foi a simplicidade”, relembra Rubi.
Apesar de vaidosa, a goleira prefere aproveitar o tempo livre com a família. Para tirá-la de casa, basta o convite para uma saborosa pizza. “Amo. Não vivo sem”, admite. Rubi também aproveita as folgas para ler a bíblia, ouvir música e tocar violão. Quando terminar o contrato com o Coelho, ela voltará para São Paulo, onde disputará o Paulista por algum time.