(Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Colecionar títulos e buscar novas conquistas virou rotina na vida do lateral-esquerdo Egídio, que há 12 anos estreava na equipe principal do Flamengo. Titular absoluto no Cruzeiro de Mano Menezes, o camisa 6 criado na Zona Norte do Rio de Janeiro traz no currículo três troféus do Brasileirão, outros três da Copa do Brasil, um da Série B e diversos estaduais.
Nesta entrevista ao Hoje em Dia, o jogador de 32 anos fala sobre a carreira vitoriosa, relembra o início da trajetória no Flamengo, explica a relação de amor com a Raposa e a cidade de Belo Horizonte, credita à esposa Thaysa todo o amadurecimento como pessoa e profissional, não esconde o desejo de defender a Seleção Brasileira principal e projeta uma decisão difícil contra o Corinthians, na sua busca individual pela quarta volta olímpica na Copa do Brasil.
Como você iniciou sua caminhada no futebol e o que te fez segui-la?
Com seis anos de idade, tinha um campinho perto da minha casa, lá em Inhaúma (bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro). Um cara me viu jogando e pediu para eu chamar a minha mãe. Eu fui lá, chamei, e ela veio. Eu era bem 'bagunceirinho', e ela até achou que era besteira que eu tinha feito na rua. Mas ele disse que eu tinha futuro e pediu para me levar para jogar no salão. Comecei no Coimbra Esporte Clube, e minha mãe se revirou com o dinheiro da passagem, porque a dificuldade batia à porta. Quando ela não podia, minhas irmãs mais velhas me levavam. Depois fui para o Social Ramos Clube e, dali, outro rapaz me viu e me levou para o society. Fiquei pouco tempo e fui fazer um teste no Flamengo, onde tive vínculo dos 11 aos 26 anos e peguei praticamente todas as convocações para a Seleção Brasileira de base. Logo que acabou esse contrato, entre indas e vindas, é que eu vim para o Cruzeiro, em 2013.
Você foi campeão por onde passou, mas parece que a identificação com o Cruzeiro é diferente. Como explica essa relação com a Raposa?
Quando cheguei aqui em 2013, junto com mais uns 15 jogadores, estava tranquilo, vindo de um bom ano de Série B (pelo Goiás), assim como o Ricardo Goulart. O clube estava reformulando o elenco. Fui ganhando espaço e ganhei a vaga de titular na final do Mineiro. Dali, segui e ganhei meu primeiro título na Série A. Foi uma festa linda que fizemos a do Tri. Em 2014, ganhamos o Mineiro e quase levamos também a Copa do Brasil. Conseguimos o tetra no Brasileiro e eu fui eleito o melhor lateral do país. Eu nunca havia sido vendido para nenhum clube, nem campeão nacional e nem o melhor da posição. Isso para mim foi muito marcante. Além disso, conheci a minha esposa e casei em Belo Horizonte. Meu vínculo com a cidade vai ficar para sempre. Quando eu saí, em 2014, eu tinha a certeza dentro do meu coração que eu voltaria para o Cruzeiro. Estou muito feliz, e acho que esse meu bom momento é pela alegria de ter retornado. Me sinto em casa e estou lisonjeado. Por isso, minha dedicação é enorme.
Você jogou com o Ronaldinho Gaúcho no Flamengo e se tornou muito amigo dele. Se tivesse seguido os “embalos” do Bruxo, estaria solteiro até hoje?
Em 2011, quando estávamos no Flamengo, ele me abraçou de uma tal forma e me levava para onde ia. Eu era solteiro, comecei a andar com ele, e minha mãe no início achava muito legal. Depois, ela viu que eu estava me envolvendo muito e saindo demais, chegando de madrugada ou nem dormindo em casa, enfim. Quando saí do clube, ele ligou para a minha mãe e perguntou se ela estava precisando de alguma coisa, querendo dar uma atenção, já que eu não estava mais no estado. O treinador (Vanderlei Luxemburgo) começou a implicar comigo e começou a me afastar do time, nem relacionado eu era. Isso me incomodou e eu pedi para deixar o Flamengo.
E em 2013, quando ele defendia o Atlético?
Quando eu vim para o Cruzeiro, em 2013, ele estava no rival, o Atlético. Nos encontramos algumas vezes na casa dele, porém eu estava num clube que era rival. Como não sou burro, percebi que, se fui afastado do Flamengo por acompanhá-lo, jogando juntos, imagina com ele estando no nosso rival? Conheci a minha esposa, me apaixonei por ela, e ali vi que aquele era o meu caminho. Até hoje nos falamos. Ele (Ronaldinho) diz que eu o abandonei, mas sabe que foi por uma boa causa.
Como foram os dois primeiros anos no Cruzeiro, com o bicampeonato brasileiro? Foi o que, de fato, alavancou a sua carreira?
Ah, com certeza! Falo até com a minha esposa. Nos conhecemos, e logo que fizemos uma semana de namoro eu assumi a titularidade. Fui seguindo de titular e fomos campeões brasileiros. No ano seguinte, campeões mineiros e novamente brasileiros, além de fazer a final da Copa do Brasil. Fui eleito o melhor lateral-esquerdo do país. Isso mostra que meu maior desempenho profissional foi aqui. Quando voltei, quis dar continuidade nessa linda história e nos grandes títulos que tenho no Cruzeiro. E minha esposa sempre do meu lado. Hoje, inclusive, os caras aqui comentam comigo que sou outro como jogador e também como pessoa.
Você mudou muito na parte técnica também. Era muito mais ofensivo e agora, com o técnico Mano Menezes, ganhou mais responsabilidade na marcação...
Quando cheguei aqui, vindo do Goiás, eu tinha feito oito gols no ano, como lateral, além de 29 assistências. Fui o melhor nesse quesito no Brasil. Cheguei aqui com essa fama de dar assistências porque eu atacava bastante. Mas não é que eu não priorizava a linha defensiva. Eu tinha liberdade de atacar, e aqui não foi diferente. Eu criei a questão de priorizar a linha defensiva junto com o Mano, mas não deixo de atacar. Hoje, consegui esse equilíbrio de fazer as duas coisas. Gosto de aprender sempre e de me cuidar, fazendo muito trabalho de força na academia para desfrutar nos jogos, com velocidade e potência.
Você chegou para substituir o badalado Diogo Barbosa, que hoje defende o Palmeiras, seu ex-clube, onde você chegou a ser questionado. Os números, porém, mostram que o Cruzeiro se deu melhor nessa escolha. O que acha disso?
O Diogo teve uma passagem de um ano aqui, foi muito bem, conquistou o título da Copa do Brasil. Mas eu também tinha ficado dois anos aqui e fui bicampeão brasileiro, eleito o melhor lateral-esquerdo do país... Ele foi para o Palmeiras, onde eu também ganhei um Brasileiro e uma Copa do Brasil. Fiz mais de cem jogos lá. Então, a minha história lá não é apagada. Quando você ganha título, você vai ser sempre lembrado. Só tem história quem tem título. O futebol dele lá ainda não foi do mesmo nível que tinha no Cruzeiro.
Qual o sentimento de estar novamente no Cruzeiro?
Estou muito feliz por ter voltado para cá. O ambiente é muito bom, e todos me receberam super bem. Isso é uma alegria enorme, então eu venho todos os dias trabalhar no Cruzeiro feliz da vida.
Acha que ainda pode chegar à Seleção Brasileira principal?
O que eu penso e quero é manter esse nível que venho apresentando aqui. Se mantiver, tenho chance, sim, de pegar uma convocação, assim como foi na base. Na principal, ainda não peguei nenhuma. O que eu faço e o tanto que me dedico é em prol do Cruzeiro, mas se vier amanhã ou depois uma convocação, vou ficar muito feliz.
O Egídio é um jogador ‘papa-títulos’?
Não digo papa-título. Eu sempre agradeço muito a Deus pela minha carreira. Por onde passei fui abençoado com títulos. Quando você ganha, caraca! É bom para você comemorar, levar para sua família ver... Sempre que acontece, chego para eles e falo ‘esse título é nosso, vocês também são campeões’. Desde pequenininho, quando comecei a jogar bola, meu pai, quando queria me chamar, falava ‘vem cá, meu campeão, vem cá, meu campeão’. Então acho que essa fala dele tomou posse dentro de mim.
E a sua relação com o torcedor e com o clube?
Me sinto, muito, muito em casa mesmo. Quando fiquei sabendo que voltaria para cá, foi uma felicidade imensa de toda a família. Essa torcida, neste ano, mostra que está mais junta do que nunca com a gente. Pegamos toda essa energia para dar o nosso máximo dentro de campo. Eles têm um respeito por cada atleta, e nós damos a vida em campo em prol deles e do Cruzeiro. Essa união está muito bonita.
Você está a dois jogos de mais um título da Copa do Brasil...
Sabemos que ganhar título é muito difícil. Para chegar até a final, passamos por muitas dificuldades. Temos que pegá-las e colocar na ponta da chuteira para ganhar mais este título. Sabemos da grandeza do Corinthians, da força deles, mas nós chegamos muito fortes nesta final. Temos que ter a humildade e continuar fazendo o que apresentamos até agora. Temos que acreditar, pois temos feito grandes jogos em partidas decisivas.