Quando a diretoria do São Paulo anunciou no fim de 2012 que reintegraria Thiago Carleto, a reação foi de indiferença. Poucos imaginavam que o jogador seria uma boa opção após uma fraca primeira passagem em 2010. E, menos de quatro meses depois de iniciada a temporada, ele mostrou as promessas de vida nova na sua chance do Morumbi: desbancou o badalado Cortez, ganhou a vaga de titular e conquistou o prestígio do técnico Ney Franco.
"Confesso que nem eu esperava que acontecesse tão rápido. Sabia que tinha condições, mas as coisas aconteceram depressa", disse o lateral. Assim que voltou ao clube, Carleto foi chamado pelo treinador para uma conversa reservada e ouviu que teria chances para provar seu valor se fizesse por merecer. E desde sua reestreia contra o Atlético Sorocaba pôs em prática seu plano de mostrar que sua volta não era um erro. "Tive uma passagem ruim em 2010 e é claro que a reação da torcida seria dizer que fui uma contratação errada, que não deu certo, eles tinham razão de pensar isso", reflete.
A maturidade atual em nada reflete o comportamento do então promissor lateral que se perdeu na fama precoce alcançada quando ainda defendia o Santos e foi negociado com o Valencia. Mas o sucesso rápido quase foi o vilão de sua carreira. Após passagens frustrantes na Espanha e no São Paulo, mergulhou no ostracismo e percebeu que seria preciso reagir para não virar mais nome na lista das carreiras efêmeras. "Quando cheguei ao América-MG percebi que era preciso mudar. Pensei 'olha o que estou fazendo comigo mesmo, tive todas as chances que um jogador pediu e desperdicei. Ou faço alguma coisa ou minha carreira acaba'.
Foi no Fluminense, seu clube seguinte, que a volta por cima começou. Mesmo jogando pouco por causa da grande fase do então titular Carlinhos, amadureceu seu jogo e preparou terreno para retornar ao Morumbi, primeiro para ser "sombra" de Cortez e agora como dono da posição. A relação com o antigo titular, no entanto, é das mais amistosas. "Ele me respeita muito como eu o respeitei quando buscava a vaga. Antes de tudo precisamos ser profissionais, mas buscamos os objetivos como um grupo", pondera. Na comparação, uma lavada: Carleto é o líder de assistências no time (cinco, mesma marca de Osvaldo) e virou o cobrador de faltas e escanteios, posto que Cortez nunca teve.
O comprometimento demonstrado nos treinos e jogos e as boas atuações renderam um novo contrato de dois anos, um cenário que parecia bastante improvável há pouco tempo. Mas Carleto quer mais. "Falta um título, é isso que planejo agora. Não sei qual Deus vai nos reservar, mas é isso que quero", afirma. O desejo de ser campeão vem ainda antes de outra meta ambiciosa, chegar à seleção. "Minha família fala que esse precisa ser meu próximo passo, mas prefiro pensar em uma coisa de cada vez. Não adianta querer ir muito longe".
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