Centenário no Independência, um fruto da crise, é duro golpe na história cruzeirense

Alexandre Simões
@oalexsimoes
25/12/2020 às 12:26.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:24
 (Bruno Haddad/Cruzeiro)

(Bruno Haddad/Cruzeiro)

Muito antes do sal grosso espalhado por Felipão e sua comissão técnica no gramado do Mineirão, ou do uso da camisa branca por superstição, o Independência aparece na história cruzeirense como um estádio que teve seu auge no momento em que o clube amargava um dos piores períodos da sua história. E assim nasceu a resistência celeste ao Gigante do Horto.

A uma semana do centenário, em entrevista ao podcast GE Cruzeiro, do Globoesporte.com, o presidente Sérgio Santos Rodrigues revelou que o Cruzeiro pode usar o Independência no ano do seu centenário, por causa da questão financeira.Bruno Haddad/Cruzeiro

A partir do empate com o CSA, no último dia 15, o Independência passou a ser a "casa" cruzeirense por causa da crise financeira vivida pelo clube

“O Cruzeiro ainda tem que pagar as punições do dia do rebaixamento. Se não tiver torcida, o Cruzeiro só vai para o Mineirão se o Mineirão cobrir a proposta financeira do Independência. Se não cobrir, enquanto não tiver torcida, será o Independência. E a hora que tiver a torcida, temos que ver a proporção, para ver se vale a pena”, revelou o mandatário celeste.

A conta é simples. Jogar no Mineirão significa despesa de cerca de R$ 50 mil por jogo. No Independência, o custo de cada partida é perto de R$ 14 mil. Três vezes e meia menos.

Em 2021, o Cruzeiro terá, no mínimo, 24 partidas como mandante, sendo cinco na fase classificatória do Campeonato Mineiro e mais 19 no Campeonato Brasileiro, seja na Série B, o mais provável, ou na Série A, o que depende de um milagre.

Nesses 24 jogos, a diferença de cerca de R$ 36 mil entre os dois estádios, no que se refere às despesas, chega a quase R$ 900 mil. É quase a metade dos cerca de R$ 2 milhões que serão economizados com a saída da sede administrativa do Barro Preto.

História

Se a questão financeira justifica a possibilidade cruzeirense de adotar o Independência, a história mostra que o estádio nunca foi um local confortável para o torcedor celeste.

E isso vem muito antes de o Gigante do Horto se tornar a “casa” do rival Atlético, que assinou contrato de exploração comercial da arena com a atual administradora no início de 2012. Desde então, só este ano o Independência não foi o estádio a receber mais jogos do clube na temporada.

Inaugurado em 1950, para ser uma das sedes da primeira Copa do Mundo disputada no Brasil, o nome Estádio Independência é por causa do fato de ser propriedade do Sete de Setembro, apesar de praticamente toda a obra ter sido bancada pela Prefeitura de Belo Horizonte.

Isso porque a capital mineira corria o risco de ficar fora da Copa do Mundo, pois a construção do estádio estava muito atrasada. Foi terminado na correria, com dinheiro público.

Logo virou o grande palco do futebol mineiro, com a chamada Era do Horto durando de 1950 a 1965, quando foi inaugurado o Mineirão.

Foram 15 os Campeonatos Mineiros jogados neste período. E o Atlético ganhou nove (1950, 1952, 1953, 1954, 1955, 1956, 1958, 1962 e 1963), o Cruzeiro, quatro (1956, 1969, 1960 e 1961). Com um título aparecem Villa Nova (1951), América (1957) e Siderúrgica (1964).Cruzeiro/Arquivo

O Cruzeiro ganhou quatro títulos entre 1950 e 1964, entre os 15 disputados na chamada Era do Horto. O rival Atlético foi campeão estadual nove vezes no período

São 16 campeões porque em 1956, atleticanos e cruzeirenses dividiram a taça. O Galo ganhou a decisão, mas tinha escalado um jogador de forma irregular, e depois de uma longa batalha nos tribunais, a solução declaram os dois campeões.

Crise

Além de ver o rival decretar uma hegemonia no período em que o Gigante do Horto era o maior estádio de Minas Gerais, o Cruzeiro viveu nos anos 1950 uma grave crise, financeira e política, que só perde para a enfrentada atualmente pelo clube.

A instabilidade provocou vários trocas na presidência do clube, com a estabilidade chegando apenas em 1961, com a eleição de Felício Brandi.

Neste período, por causa da grave crise financeira, uma corrente dentro do clube chegou a trabalhar pelo fim do futebol. A sede do Barro Preto estava sendo reformada e ficou pronta apenas no final de 1956.

A partir daí, o número de sócios cresceu, a arrecadação também, as contas foram sendo colocadas em dia, e o tricampeonato em 1959, 1960 e 1961 foi o início de novos tempos, após o Cruzeiro voltar quase ao amadorismo, com o ídolo Niginho chegando a treinar o time de graça, pois o clube não tinha dinheiro para contratar treinador.

Todo este cenário afastou o Cruzeiro do Independência, estádio que agora pode voltar a ser a “casa” cruzeirense por causa das crises política e financeira que tomaram o clube.

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