Cielo abre o jogo em papo exclusivo com o Hoje em Dia

Felippe Drummond Neto - Hoje em Dia
03/08/2014 às 08:32.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:38
 (SATIRO SODRE)

(SATIRO SODRE)

A vida de um atleta profissional não é fácil. Muitas vezes, a pressão pelos resultados supera até mesmo o esforço físico para se alcançar o lugar mais alto do pódio. Imagine então como funciona o universo de um campeão olímpico. Agora imagine que trata-se ainda do homem mais rápido da história nas piscinas. Este é Cesar Cielo, um dos atletas brasileiros mais importantes de todos os tempos. Contratado pelo Minas Tênis Clube em março deste ano, Cesão segue à risca uma dura rotina de treinos, passando mais de três horas por dia dentro d’água. Além disso, divide o tempo entre a piscina do clube da rua da Bahia e as competições mundo afora.   Mesmo com uma agenda apertada, Cielo encontrou um tempo para um papo exclusivo com o Hoje em Dia. Durante a conversa, contou os detalhes da preparação visando aos Jogos do Rio, em 2016, em que buscará o bicampeonato nos 50m livres e o título inédito dos 4x100m livres.     Preparação   “Estou indo passo a passo. A prioridade atual é me classificar para o Mundial de piscina curta, em setembro, e treinar para o Mundial de dezembro. Depois, vou seguir as temporadas. Ano que vem tem Pan-americano e Mundial novamente. Eu até penso na Olimpíada, mas ainda não faz parte da minha vida na prática”.      Belo Horizonte   “É uma cidade muito tranquila, não tive nenhum problema de adaptação. Consigo fazer muita coisa a pé, o que só era possível nos Estados Unidos. Também moro perto do clube, o que facilita. Algumas vezes, saio para almoçar e jantar e acabo conhecendo bons restaurantes. Como atleta, também não tenho do que reclamar”.     Equipe   “Tenho uma relação tranquila com meus companheiros e com o Scott Volcker (técnico). Também facilita muito o fato de não ter nenhum companheiro como adversário direto. Como treino junto com o pessoal de velocidade, a gente acaba se ajudando bastante. Com o Scott tenho uma relação bem profissional. Sinto-me confortável para trabalhar com ele. É um cara que segue a mesma filosofia que eu e não mudou quase nada a minha forma de trabalhar”.      Abstinência   “O pessoal fala que fiquei muito tempo sem sexo antes da Olimpíada de 2008, mas isso não é verdade. Não tenho uma regra para isso, apenas tento me concentrar nas competições. O que eu falo é que se o atleta não tem um relacionamento e chegou o período da prova, é melhor esquecer aquilo e focar na piscina. Relacionamentos geram stress, e isso atrapalha”.     Obrigação   “Não penso que tenho a obrigação de vencer. Diariamente meu objetivo é sempre evoluir. Acredito que se eu melhorar tanto quanto quero, a medalha de ouro virá. Porém, se alguém melhorar mais do que eu, parabéns a ele. É uma coisa que foge ao meu controle. Na natação não temos contato direto, não posso invadir a raia dele para atrapalhar. Tenho de fazer o meu melhor e torcer para que meu tempo seja o melhor”.     Cobrança   “Após a final da Olimpíada de Londres, o mais difícil foi lidar comigo mesmo. Fiquei muito triste com aquele resultado (medalha de bronze). A parte externa (torcedores) foi muito pequena se comparada com minha própria cobrança. Botei na cabeça que não podia ficar daquele jeito. Foquei no Mundial de 2013, queria voltar a ser o primeiro. Comecei a fazer algumas ações e alcancei o resultado desejado”.     Rivais   “Nos 50m livres, meus grandes rivais fora do Brasil são Florent Manaudou e Eamon Sullivan. No Brasil, além do Fratus, que está nadando muito bem e disputando diretamente comigo, tem o Marcelo Chierighini. Ele fez a semifinal de Mundial no ano passado e está fora do radar de muita gente, mas já estou de olho nele. Nos 100m livres, tem o João de Lucca que foi bicam-peão na NCAA (EUA), nos 200m livres, e campeão nos 100m livres, feito que não acontecia desde o Gustavo Borges, na década de 1990. Ele ainda está fora dos radares, mas, no momento certo, com certeza vai incomodar. Quem sabe esse não seja o nosso revezamento 4x100m livres: Fratus, Chierighini, De Lucca e eu. Além deles, tem o Matheus Santana e o Nicolas Oliveira, que vão brigar para fazer parte. Essa é uma competição saudável, quanto mais pudermos competir em alto nível aqui, melhor, pois estaremos mais preparados e com tempos melhores”.     Desejo   “Acho que não vou disputar os 100m livres individualmente em 2016. Penso em nadar o revezamento 4x100m livres, que normalmente é disputado no primeiro dia, e depois focar na prova dos 50m livres. Por enquanto não faz parte dos meus planos, mas pode ser que mude nas próximas temporadas. Se fosse hoje eu disputaria o 50m livres e o 4x100m livres, e talvez o 4x100m medley”.      Tapas   “É uma coisa minha. Sinto que me acorda, me dá uma ativada. Estamos numa zona de adrenalina e concentração muito alta, é bom sentir o corpo. Às vezes fico formigando, com a mão gelada, o rosto gelado, então é a hora de esquentar. Acaba intimidando os adversários e virou uma marca minha”.     Estados Unidos   “Competi por cinco anos na NCAA e acho que o grande diferencial deles é a estrutura. É algo incomparável. Cada cidade, mesmo as pequenas, tem sua universidade com um campus muito superior a qualquer um do Brasil. Nem mesmo a USP, que é o que temos de melhor, chega perto. Tudo é bem cuidado, até os pequenos detalhes. Todos os pesos das academias têm o símbolo da universidade, o que pode parecer pequeno, mas você está ali todos os dias vendo aquilo, acaba criando um orgulho da universidade. Por isso, os atletas americanos não saem do país. Se eu fosse americano também acho que ficaria por lá.

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