Clubes do velho mundo expandem suas marcas no Brasil com escolas e clínicas

Wallace Graciano - Hoje em Dia
23/02/2015 às 07:11.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:06
 (Renata Freitas)

(Renata Freitas)

A última Copa do Mundo deixou feridas no futebol brasileiro que demorarão a cicatrizar. Porém, apesar da mancha pela vergonhosa participação no torneio, o País ainda mantém a fama de ser um dos maiores celeiros de craques do planeta. Tanto que não é raro ver clubes da Europa buscando joias nas categorias de base tupiniquins. Alguns deles foram até além, e montaram suas próprias escolinhas. Assim, poderão expandir a visibilidade de sua marca ao mesmo tempo que formam seus próximos craques.    É o caso do Espanyol. Vivendo à sombra do seu rival citadino, o Barcelona, os Periquitos já possuem uma das maiores redes de escolinhas do Brasil. Ao todo, são 19 unidades espalhadas por quatro estados – Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santos - e o Distrito Federal, que reúnem quase dois mil alunos (4 a 18 anos). Uma das franquias está instalada em Belo Horizonte, mais especificamente no bairro Betânia.   Quem a administra é o ex-jogador do América Cláudio Marques. Após pendurar as chuteiras em 1999, Pintinho, como é conhecido, optou por se especializar na formação de jovens atletas, trabalhando com diversos clubes, até que o Espanyol apareceu para ele em 2013.    “No início, fundei meu próprio clube, o Manchester. Depois, peguei a franquia de escolinhas do Fluminense. Como tive problemas, rompi com eles. Pouco depois, apareceu o Espanyol. Conversei com representantes e outros interessados pelo Brasil e comprei o direito de exploração da marca do clube em Minas Gerais”, explicou Cláudio Marques, que pretende abrir outras franquias no Estado.    Pintinho conta que, no momento, o clube catalão não interfere na metodologia de treinamentos dos jovens atletas. A ideia do Espanyol é, primeiro se instalar no país, para depois promover intercâmbios com brasileiros e, quem sabe, aproveitar alguma joia na equipe.    “O Espanyol tem como desejo buscar bons jogadores aqui. Porém, como estamos no início do processo, eles pretendem radicar primeiro sua marca no Brasil. Depois, implantarão sua metodologia. De qualquer forma, temos o direito de exploração da marca do clube por aqui”, afirmou Pintinho.   Pintinho e dos demais professores do projeto têm como objetivo montar um torneio envolvendo os centros de formação de atletas do clube no Brasil. A sede da competição será Brasília, onde a rede tem uma escola performance.   “Nosso projeto é fazer um torneio envolvendo todas as escolinhas do Espanyol ainda neste ano, por volta do segundo semestre. Assim, queremos trazê-los aqui para avaliarem os jogadores e, quem sabe, levar algum para fazer testes”, completou o professor.   Real Madrid fatura com clínicas semanais itinerantes    Outra forma encontrada pelos clubes europeus de marcar território no Brasil são as clínicas especializadas. É através delas que Barcelona, Milan e Real Madrid tentam difundir suas filosofias e, ao mesmo tempo, expandir suas marcas.    É o caso da Real Madrid Campus Experience. Nela, crianças e adolescentes participam de trabalhos específicos orientados por técnicos da base merengue. “Na Real Madrid Campus Experience, os jovens têm a oportunidade de conviver diretamente com técnicos das categorias de base do Real Madrid. A clínica tem como principal objetivo passar a metodologia do clube. Transmitimos aos garotos a filosofia do Real e os treinamentos que são aplicados aos atletas da base”, revela Tess de Oliveira, coordenadora do projeto no Brasil.    Diferentemente das escolinhas, as clínicas não possuem um local fixo e são itinerantes, ocorrendo normalmente durante uma semana específica.  “Normalmente, o projeto ocorre durante as férias, pois é o período em que os pais podem se programar. A clínica tem duração de uma semana e o aluno pode escolher pelo período integral ou meio período, sendo manhã ou tarde. Como o clube busca fortalecer sua marca, a clínica é itinerante. A cada semestre, buscamos uma cidade nova”, explica Tess, que disse que Belo Horizonte pode receber o projeto em breve.   Segundo Tess, apesar de se tratar de um grande investimento, vários pais concordam em colocar suas crianças devido à insistência delas. Ao ser questionada sobre o porquê de tamanho envolvimento com um time europeu, a coordenadora do projeto destacou o impacto que uma marca como a do Real Madrid possui.    “Creio que as crianças despertam o interesse pelos clubes europeus por ali estarem os melhores jogadores. Elas querem estar próximas do clube onde joga o Cristiano Ronaldo. Sabem que ali está um grande clube e sonham em aprender com a experiência”, concluiu a coordenadora do projeto merengue no Brasil.   Barça vende mais camisas no Brasil que Atlético e Cruzeiro   Com marcas cada vez mais fortes no Brasil, clubes europeus já disputam de igual para igual com os locais a preferência dos torcedores.    Para se ter uma ideia, em 2014, a Centauro, uma das principais lojas de produtos esportivos do País, vendeu mais camisas do Barcelona do que de clubes como Corinthians, São Paulo, Atlético e Cruzeiro. O time de Messi ocupa o terceiro posto do ranking, atrás apenas de Flamengo e Palmeiras.   Fornecedora do Barça, a Nike vê com naturalidade a resposta do público brasileiro. “Os clubes europeus sempre atraíram a atenção do brasileiro. Além dos jogadores do país que atuam na Europa, acredito que o aumento das transmissões de campeonatos como o inglês, italiano, espanhol, e principalmente a Liga dos Campeões, também contribuíram para o aumento de interesse do público brasileiro”, avalia Alexandre Alfredo, diretor de comunicação da empresa.    Videogame e álbum de figurinhas aumentam o intercâmbio 
  Esse interesse cada vez maior pelo futebol praticado no velho mundo rendeu até mesmo um apelido aos aficionados. Não é difícil ver pelas redes sociais quem se refira aos fãs de Messi e companhia como “Geração Playstation”.    Segundo esses torcedores “de vanguarda”, o interesse cada vez maior pelo futebol europeu tem como motivo a expansão de mercado de games, através da série Fifa e do Pro Evolution Soccer, e a maior exposição de jogos na TV.   É o que afirma o publicitário Mateus Ribeiro, de 30 anos, membro da “Carsughi Mania”, uma comunidade que critica o futebol moderno: “Essa exposição através de jogos e TV criou um mito sobre o futebol europeu. A geração atual é facilmente influenciada”.   Figurinha   Mas não é somente o meio cibernético que sofre influência do mercado europeu. Os álbuns de figurinhas, que para muitos trazem um tom saudosista de uma era de pouco acesso à informação, também possuem edições especiais com o mote voltado para o futebol no Velho Mundo.   Principal editora do ramo, a Panini está atenta a esse nicho de mercado. Não à toa, lançou nos últimos meses álbuns para celebrar a disputa da Liga dos Campeões da Europa e do Campeonato Espanhol. E pode vir mais por aí. É o que explica o presidente do grupo no Brasil, José Eduardo Martins.    “O álbum de figurinhas é um elemento catalizador e socializador. Ele agrega interesse do fã ao futebol, seja qual for a idade. É o contato que eles têm com a imagem dos atletas e a informação. Posso te dizer que a Copa do Mundo começa quando a gente lança o álbum de figurinhas, que temos reuniões para trocas e interesse massivo. E vejo que o álbum de figurinhas congrega as pessoas em torno do futebol, seja qual for a distância. Não por acaso, o futebol é nosso carro chefe”, explica José Eduardo Martins.

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