Coluna da Copa #5: 'Chorando se foi' de jangada pra Rússia; a música brasileira na terra da Copa

Frederico Ribeiro
Enviado Especial à Rússia
18/06/2018 às 16:18.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:48
 (Reprodução/Channel One)

(Reprodução/Channel One)

SÓCHI (Rússia) - O taxista rasga a rodovia A-147 que liga o Parque Olímpico ao centro de Sóchi. Já era madrugada, logo após Cristiano Ronaldo fazer três gols e ter a melhor atuação da primeira fase da Copa do Mundo. O pé no acelerador se empolga quando a música do rapper 50 cent é substituída por funks de Anitta a MC Kevinho. O russo no volante se anima como nunca diante do desconhecido que estoura a caixa de som do painel.

Mas não é de hoje que a música brasileira consegue invadir o gélido corpo soviético, acostumado a danças militares. No trajeto pós-Espanha x Portugal, os funks são repentimanente substituído por um ritmo que tanto eu, quanto o taxista, já cansamos de escutar: "Canção da Partida", de Dorival Caymmi. Conheço como "Minha jangada vai sair pro mar".

Já o motorista, mentalmente chamado de Sergei, faz olhar de reprovação. É uma música antiga e antiguada para quem se locomove ao som de 50 cent. O sucesso de Caymmi foi exportado para a Rússia através do filme "Capitães de Areia", baseado no livro homônimo de Jorge Amado, escrito também conhecido entre os russos. Teve a letra adaptada, virou hino da juventude; e até mesmo ligada aos mafiosos que vieram da Guerra do Afeganistão (1979-1989).

Caymmi na jangada: hino da juventude soviética

A profundidade da influência brasileira na música russa ainda vai para "Garota de Ipanema" e "Mas que nada", mas para por aí. Alguns anos depois, na década de 1990, foi a vez do trash. A canção "Bate forte o tambor, eu quero tic-tic-tic-tá" da falecida banda Carrapicho foi exportada para Moscou, e filmada num clipe nonsence.

A letra foi adaptada para "O menino que queria pra Tambov", com personagem da família Addams tocando xilofone na praia. Ainda houve a exportação do "Aí se eu te pego" do cantor Michel Teló, que invadiu a Europa Ocidental e corroeu a Cortina de Ferro.

Mais recentemente, a febre brasileira na sonoridade russa foi Gabrielle, cantora que se casou com um russo e por lá ficou. Participou do The Voice do país e arrancou gingadas da jurada Polina Gagarina quando soltou da alma um "Chorando se foi quem um dia só me fez chorar", famosa canção-lambada do grupo Kaoma. Virou fenômeno e até cantou para o ex-presidente Dimitri Medvedev.

A ligação cancioneira é uma via de mão dupla. Graças ao canal "Wally e Dasha - Pensando Alto", no Youtube, é possível descobrir que a famosa música de apresentações dos calouros do Silvio Santos (lá, lá, lá, lá) foi inspirada em canção russa "Dorogoi dlinnoyu" (Pela Longa Estrada).

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