(Mourão Panda/América/Divulgação)
Uberlândia e Atlético fecham neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, mais uma rodada do Campeonato Mineiro sem qualquer presença feminina nas equipes de arbitragem. Das 60 partidas realizadas, 52 foram apitadas e “bandeiradas” apenas por homens.
O quadro da Federação Mineira de Futebol (FMF) conta atualmente com 279 integrantes, entre árbitros e auxiliares, considerando todos os habilitados do nível amador até o Módulo I. E as mulheres correspondem a somente 8,9% desse total (25).
"A procura é até alta, temos várias mulheres no curso. Mas, quando sentem a discriminação dentro de campo e no meio do futebol em geral, muitas vão desistindo", conta a especialista Alessandra Monteiro, psicóloga da Comissão de Arbitragem da FMF.
Em Minas, as únicas aptas a trabalhar em jogos da elite são as assistentes Fernanda Nandrea Antunes e Helen Aparecida Gonçalves. Cada uma atuou quatro vezes até o momento nesta edição do Estadual, totalizando oito partidas, ou apenas 4,4% de assiduidade feminina nos trios de arbitragem do torneio.
"Realmente, é um número muito baixo. Na realidade, esse percentual já foi até menor. Mas aos poucos estamos recebendo crédito, as pessoas estão observando o nosso potencial", comemora Fernanda.
A situação, realmente, já foi pior. E a previsão é de crescimento, ainda que tímido, nesta participação. Segundo o presidente da comissão, Giuliano Bozzano, a expectativa é que haja ao menos uma mulher atuando como árbitra principal, inicialmente no Módulo II (equivalente à Segunda Divisão), em 2020.
“Em 2014 (ano em que assumiu o cargo), tínhamos só uma mulher habilitada a trabalhar no nível profissional (como assistente). Eu diria que, hoje, em comparação com a CBF e as principais federações estaduais, a FMF é certamente a que mais incentiva”, afirma o dirigente.
Regras
Desde 2008, a Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol exige que as mulheres alcancem o mesmo desempenho físico dos homens para serem aprovadas em competições masculinas como a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro.
No entanto, mesmo havendo atualmente oito habilitadas, um jogo de primeiro escalão não é apitado por uma árbitra desde 2005, quando a já aposentada Silvia Regina comandou a vitória do Fortaleza por 2 a 1 sobre o Paysandu, pela 32ª rodada da Série A. O argumento é a falta de experiência.
Vale ressaltar que as exigências físicas e técnicas são mais rigorosas para os donos do apito em comparação com os "bandeirinhas".FMF/Divulgação
Helen Aparecida (dir.) também trabalhou em quatro jogos deste Estadual:
América x Patrocinense, Villa Nova x Boa, Uberlândia x América e Cruzeiro x Boa
Módulo II
Com o objetivo de incentivar o interesse e a permanência das mulheres na carreira, a FMF ampliou esse leque de atuação em Minas. Assim, as auxiliares que atingiram apenas os índices físicos exigidos para as categorias de base e competições femininas têm trabalhado também nos jogos masculinos do Módulo II.
“Isso possibilita que elas sigam atuando em um maior nível técnico enquanto buscam a aprovação nos testes. Essas medidas partem de cada federação, e nós nos adiantamos nisso. Estamos colhendo bons frutos e, por isso, vamos manter”, avalia Bozzano.
Sobre a arbitragem principal no Módulo II, o dirigente revela haver duas candidatas aptas em termos físicos nos torneios de base e femininos, mas ainda inexperientes. Por isso, a previsão é para apenas daqui a dois anos.
Alto nível
No ano passado, somente duas das oito integrantes habilitadas no quadro da CBF trabalharam em jogos masculinos profissionais de nível nacional. E ambas nas divisões inferiores.
Ao todo, Deborah Cecília (Fifa/PE) e Edina Batista (Fifa/PR) comandaram nove partidas, sendo duas na Série B, duas na Série C e cinco na Série D.
O número de auxiliares é consideravelmente maior, com um total de 26 aprovadas nos testes físicos e técnicos. Apenas duas delas, no entanto, atuaram na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro da última temporada: Neuza Back (Fifa/SC) e Tatiane Sacilotti (Fifa/SP).
"As que continuam até chegar a um alto nível são realmente aquelas que têm muita personalidade, um perfil diferenciado, e mostram que têm condições de se manter nesse meio. Na parte técnica e mental, não há dúvida de que elas não ficam devendo para nenhum homem. Pelo contrário, costumam ser mentalmente mais fortes", conclui a psicóloga Alessandra Monteiro.FMF/Divulgação
Alessandra Monteiro, especialista em Psicologia do Esporte e mestre em Psicologia do Desenvolvimento