Bem distante dos altos orçamentos dos clubes mais tradicionais, a competitividade da Ponte Preta no Campeonato Brasileiro têm provocado olhares de curiosidade e espanto. Afinal de contas, qual o segredo do rendimento positivo deste time do interior que se orgulha de ser o "clube mais velho do País" e nunca ganhou um título em 116 anos? Neste caso, a fórmula de sucesso está ligada ao DNA dos homens responsáveis pelo dia-a-dia do departamento de futebol.
A comissão técnica reúne uma gama de profissionais que têm a mesma origem, além de ser identificada com a Ponte Preta. O técnico Eduardo Baptista, de 44 anos, é filho de Nelsinho Baptista, ex-lateral-direito do time campineiro nos anos 70. O auxiliar técnico permanente é Felipe Moreira, de 38 anos, filho de Marco Aurélio, meia que reinou nos anos de 1970 com a camisa pontepretana ao lado de Dicá, considerado o maior jogador da história do clubes. Não por acaso o "mestre", como é reverenciado pela torcida, é pai de Gustavo Bueno, de 41 anos, gerente de futebol.
O trio de mosqueteiros conta ainda com a retaguarda de Cristiano Nunes, de 44 anos, superintendente de futebol, filho de Flamarion, volante que atuou no Guarani, Cruzeiro e Botafogo-SP na década de 1970 e depois trabalhou na base da Ponte Preta. Os quatro tentaram a carreira de jogador no próprio clube, porém sem êxito. A solução para viver um pouco das emoções que os pais sentiram foi se preparar fora de campo. Todos têm formação em educação física, alguns com pós-graduação, mestrado e outros com currículos recheados de cursos de aperfeiçoamento.
Amigos de longa data, eles foram unidos pela diretoria em maio, no final do Campeonato Paulista, competição na qual o time teve altos e baixos. Desde o ano passado já trabalhavam Gustavo Bueno e Felipe Moreira. "Nós gostamos desta fórmula de unir competência com amor à camisa", explicou o vice-presidente Giovanni Dimarzio.
Por isso, ao final do Paulistão foi agregado à equipe Cristiano Nunes, que começou como fisicultor no clube no início dos anos 2000 e depois trabalhou com Abel Braga em grandes clubes como Fluminense e Internacional. Por último chegou Eduardo Baptista, que tinha iniciado a carreira de técnico em 2014 no Sport, pelo qual sagrou-se campeão da Copa do Nordeste, e esteve por seis meses no Fluminense.
"Sou da cidade, torço pela Ponte Preta, mas, acima de tudo, sou um profissional que me preparei por 22 anos para chegar onde estou. Não caí de paraquedas. E devo muito ao meu pai, com quem trabalhei inicialmente como preparador físico", disse Eduardo Baptista, cujo pai, aos 68 anos, é o único técnico brasileiro na primeira divisão do Japão. Ele dirige o Vissel Kobe.
SONHANDO ALTO - Mesmo antes de especulações de que iria para clubes como Grêmio e Corinthians, Eduardo Baptista acaba de ampliar o seu contrato com a Ponte Preta para o final de 2017. Aceitou ficar na cidade porque existe um plano ambicioso de conquistar um título e entrar para a história.
"Nós temos um extenso banco de dados de jogadores e estamos monitorando dezenas deles para integrar nosso elenco no futuro", disse Gustavo Bueno, que além de cuidar de negociações também coordena a logística do clube. "Um clube com limitação de orçamento não pode errar nas contratações", lembrou Felipe Moreira.
Para completar, Cristiano Nunes diz que "existe um planejamento estratégico no futebol para os próximos cinco anos". Isso inclui a reestruturação do departamento amador, que sempre foi o grande fomento do clube na formação de atletas. O clube acaba de receber o certificado de clube formador, o que o credencia a uma linha especial de crédito. Ele comanda a integração do amador com o profissional, além de supervisionar o funcionamento de áreas específicas como a preparação física, a fisiologia, a nutrição, a área médica e de fisioterapia.
"Nós estamos vivendo um momento especial na Ponte Preta porque finalmente existe uma grande estrutura por trás de nosso trabalho. Contamos com uma ampla estrutura física para unir todas estas especialidades. E isso só é possível porque temos uma diretoria organizada e com credibilidade", atestou Nunes.