Com intercâmbio esportivo, handebol coloca o Brasil mais perto da África

Estadão Conteúdo
02/01/2018 às 07:50.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:32

O camaronês Michael Tsamene Chuala ficou encantado com os prédios e as rodovias de São Paulo no trajeto do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), até o hotel. Mas ele não está aqui como turista. Chuala faz parte do grupo de 20 atletas da seleção masculina de handebol que veio para um intercâmbio esportivo.

Embora tenha sido apenas o 13.º colocado no quadro de medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 e ainda conviva com problemas estruturais, o Brasil é uma referência para os africanos. Desde o ano passado, vieram de Camarões o time de basquete masculino e o handebol feminino. Nos anos anteriores, atletas de Ruanda e Quênia treinaram no Brasil.

A experiência com as meninas do handebol deu certo: elas conseguiram a vaga no Mundial. Após um período de treinos em Barueri (SP), a seleção feminina de vôlei faturou, pela primeira vez, o Campeonato Africano de Nações. Os meninos do handebol se preparam para a Copa de Nações, no Gabão, em janeiro de 2018. Eles estão em São Bernardo do Campo (SP), com apoio da prefeitura local, até o próximo dia 11. O intercâmbio é tão importante que recebeu até a visita do embaixador de Camarões no Brasil, Martin Mbeng.

Uma das razões da procura pelo Brasil é a infraestrutura. Lá, as quadras poliesportivas são construídas a céu aberto. São quase como o asfalto pintado. Se chove, não tem treino. As condições para os atletas também são difíceis. No ano passado, das 22 atletas que vieram para o intercâmbio no Brasil, 21 nunca haviam feito exame de sangue. "A maioria das pessoas trabalha e depois vai treinar", disse Michael Tsamene Chuala, que atua em Angola.

A escolha pelo Brasil tem motivações emocionais. Os camaroneses reclamam de discriminação racial na Europa. "O que mais me encantou no Brasil foi a hospitalidade. Isso não acontece em todos os lugares", afirmou o goleiro Fonsho Isaac Junior.

A vinda da maioria dos africanos é viabilizada pelo ex-jogador de vôlei Paulo Pan. Com o financiamento do Ministério dos Esportes, federações e Comitês Olímpicos de cada país, Pan desenvolve projetos variados. Paralelamente, busca apoios de parceiros brasileiros para melhorar as condições de treinamento lá. Nos últimos meses, arrecadou bolas de handebol e pares de tênis para serem reutilizados na África. "Fazemos uma corrente do bem por meio do esporte", disse o ex-atleta que já realizou mais cerca de 30 viagens à África.

Em Ruanda, o esporte tem papel importante na reconstrução do país após o massacre de 800 mil pessoas da minoria tutsi por extremistas hutus nos anos 1990. Era preciso um esporte que apontasse um caminho para as crianças. Paulo Pan fez um projeto de iniciação de vôlei. A rede no meio da quadra dificultava eventuais agressões físicas entre rivais, mas também inspira atletas em busca de uma saída para o futuro.
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