(Reginaldo Castro)
O último ato de Pelé no Hospital Albert Einstein, onde esteve internado por mais de duas semanas com a função renal comprometida, foi conceder uma entrevista coletiva no início da tarde desta terça-feira – por vontade própria. O “idoso de 74 anos”, conforme os médicos Oscar Pavão e Fábio Nasri se referiram ao ex-jogador, provou estar recuperado do seu problema de saúde com um otimismo e bom humor que desafiavam a morte. Vestido com uma camisa xadrez azul e branca, Pelé apareceu no auditório do hospital amparado por sua namorada, Márcia Aoki, e contou com a ajuda dos ombros de quem via pela frente para caminhar até o centro da mesa. Com dificuldades para enxergar por causa dos flashes de incontáveis máquinas fotográficas, ele inicialmente interrompeu uma pergunta para agradecer pelas preces de fãs do mundo todo. “É muito gratificante saber que, além de Deus, tenho o apoio de tanta gente. Mas podem estar certos de que já estou me preparando para as Olimpíadas.” A brincadeira em relação aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, parecia ensaiada. Foi repetida quando Pelé se levantou para enfim deixar o hospital e iniciar o seu repouso domiciliar: “Queria só lembrar: podem jogar três atletas profissionais nas Olimpíadas, e eu sou um deles”. A descontração é contrastante com o estado de Pelé há poucos dias, quando chegou a ser encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Albert Einstein por apresentar uma resposta inflamatória sistêmica. Apesar de ele jamais ter temido o pior. “Tive alguns calafrios, mas isso era uma coisa que eu já tinha sentido outras vezes. Não imaginava que pudesse ser uma infecção. Estava em Santos, me preparando para uma tarde de autógrafos no Museu Pelé, e achei que passaria logo. Não foi como eu esperava. Fiquei preocupado, é claro, mas me surpreendi. Não tive medo de morrer porque sou um homem de três corações. Vai ser difícil eu morrer”, gargalhou Pelé, mineiro de Três Corações, com uma referência que usa desde os tempos de atleta. Mesmo com os seus três corações – e um rim a menos desde os anos 1970, conforme só agora foi revelado –, Pelé admitiu que refletiu bastante após as sessões de hemodiálise, as conversas com a namorada no quarto do hospital e uma e outra música tocadas no violão. “Opa, parece que Deus está esquecendo de mim”, chegou a pensar. Um assessor e amigo, no entanto, tentou acalmá-lo ao comparar a situação do ídolo brasileiro com a vivenciada pelo ex-piloto alemão Michael Schumacher. “O meu amigo Schumacher, depois de passar tanto perigo na Fórmula 1, teve um acidente em um passeio e até hoje a gente não sabe a real situação dele.” De acordo com o médico Fábio Nasri, Pelé continuará a recuperação em sua casa em São Paulo – ele pretende retornar a Santos só depois de alguns dias – com normalidade. Fará fisioterapia e passará por algumas reavaliações, normais para um idoso ou para quem pretende disputar as Olimpíadas. “É rotina, nada de novo”, minimizou, enquanto o Rei do Futebol sorria ao seu lado.