Combate às reclamações faz explodir número de cartões no início do Brasileirão

Estadão Conteúdo
26/05/2015 às 08:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:12

No Campeonato Brasileiro agora é assim: jogador reclamou com o árbitro, leva cartão amarelo. A ordem da comissão de arbitragem da CBF vem sendo cumprida quase à risca e, com isso, registrou-se um recorde no número de cartões amarelos nas três primeiras rodadas. E, claro, aumentaram também as reclamações de técnicos e jogadores, inconformados com a restrição à "liberdade de expressão".

De acordo com a comissão de arbitragem, nos 30 primeiros jogos deste ano os árbitros distribuíram 165 cartões amarelos, 37 por reclamação - e um jogador, Walter, do Atlético Paranaense, recebeu vermelho por ofender o árbitro. Em 2014, em igual número de partidas, foram 127 advertências, apenas 8 por reclamação.

A chiadeira é geral. De jogadores e técnicos, que também estão na mira e alegam que não podem abrir a boca. "Tomamos um gol irregular, falei para ele (Raphael Claus) que a bola saiu e ele disse: ‘Não pode falar nada. Se falar vou ter expulsar’. Como não pode falar? É complicado", reclamou Vanderlei Luxemburgo, técnico do Flamengo, após a derrota por 2 a 1 para o Avaí, no domingo. Detalhe: até agora Raphael Claus foi o árbitro que mais deu cartões amarelos a jogadores por reclamação: foram seis em dois jogos.

Ricardo Oliveira também chiou contra o baiano Jailson Macedo Freitas, que deu 11 cartões no jogo entre Chapecoense e Santos. Apenas dois foram por reclamação e o santista critica a intolerância. "Eu não sou de reclamar, mas está demais. Você vai conversar educadamente com o árbitro, ele não te escuta e já dá cartão amarelo. É um critério muito rigoroso".

Gostando ou não, é bom jogadores e técnicos se adaptarem aos novos tempos. O rigor contra as reclamações não será relaxado, garantiu Sérgio Corrêa, presidente da comissão de arbitragem. "Os árbitros estão agindo dentro do que foi orientado", disse o dirigente da CBF. "Árbitro que não cumprir a recomendação vai ser afastado".

Ele explica que a violência também tem de ser coibida com rigor e diz já ser possível perceber uma melhora com a nova determinação: a média de faltas diminuiu. Segundo estudo da CBF, foi de 32,6 no Brasileirão do ano passado e está em 30,4 este ano. "É nível de Copa do Mundo".

Corrêa não quis revelar os nomes, mas informou que dois árbitros que apitaram no fim de semana vão tomar gancho na próxima rodada por ter permitido que jogadores reclamassem à vontade. Na circular enviada aos árbitros em 13 de abril, foi avisado que quem não atuar de acordo com as regras será "sumariamente afastado das programações".

O chefe da arbitragem também entende que os treinadores não podem reclamar, pois foram alertados para a mudança de critérios. "Foi feito um congresso com os técnicos antes do Brasileiro e foi tudo explicado direitinho. E todos vão ter de se adaptar. Jogador joga, árbitro apita, técnico orienta, imprensa analisa e torcedor torce. É assim que tem de ser".

Técnicos chiam

No grupo de WhatsApp criado pelos treinadores, a maior parte das mensagens tem como tema no momento o rigor dos árbitros. Eles reclamam que, assim como os jogadores, não podem abrir a boca que são excluídos do jogo, mesmo que não façam críticas à arbitragem. Estão inconformados e preocupados.

"Os árbitros estão superprotegidos e nós (treinadores) extremamente expostos. Viramos vilões", disse o técnico da Ponte Preta, Guto Ferreira, que no início da noite desta segunda-feira ainda não havia conseguido engolir a sua expulsão no domingo, no jogo contra o Cruzeiro.

Ele diz que foi excluído após fazer uma desabafo depois de situação de jogo de seu time, mas o quarto árbitro entendeu que era contra a arbitragem. "Aí, no intervalo, entrei no campo para falar com o (Anderson) Daronco que só desabafei com o meu banco e fui excluído". De fato é o que consta na súmula como motivo da expulsão.

Segundo o técnico da Ponte Preta, Marcelo Fernandes, Gilson Kleina e Argel Fucks estão entre os mais preocupados com o comportamento dos árbitros. "Não tem liberdade de expressão. Isso não existe. É um direito meu discordar do árbitro. O que eu não posso é interferir no jogo ou ofendê-lo. E isso eu não fiz", desabafou.
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