Conselheiro promete ir à Justiça se venda da Campestre 2 desrespeitar Estatuto; Cruzeiro responde

Guilherme Piu
@guilhermepiu
24/07/2020 às 16:52.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:07
 (Divulgação/Cruzeiro)

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Divulgação/Cruzeiro

O conselheiro nato do Cruzeiro Luiz Carlos Rodrigues, candidato derrotado nas eleições presidenciais para o Conselho Deliberativo em maio deste ano, enviou à imprensa um manifesto (leia no fim da página) denominado "Grupo Independente - clube social / S.A.F", mostrando contrariedade ao posicionamento do presidente Sérgio Santos Rodrigues em relação ao tema da alienação da Campestre 2. 

No documento enviado aos jornalistas o conselheiro cita detalhes da campanha presidencial anteriormente feita por Sérgio Santos Rodrigues. 

"Estamos com 50 dias da posse do novo Presidente (...) hora nenhuma fora aventada tal situação (necessidade de vender imóveis), ao contrário, sempre otimista em função de sua Equipe de trabalho, das receitas, de novas captações de recursos, da disposição de empréstimos por grandes cruzeirenses (taxa Selic), das parcerias, dos investidores e da capacidade de inovação", frisou.

Luiz Carlos, que promete judicializar o assunto se não houver discussão dentro do que permite o Estatuto do clube, afirma que alienar imóvel do Cruzeiro não estava na plataforma de campanha de Sérgio Santos Rodrigues. E que por isso não deveria acontecer essa venda, justificada oficialmente como fonte de renda para quitar dívidas cobradas na Fifa. 

"Se necessário eu vou judicializar. Nenhum assunto sobre alienação de imóveis do Cruzeiro foi discutido na campanha do atual presidente. Isso, então, ilegitima qualquer tentativa da parte dele em vender o imóvel. E na minha opinião macula a gestão dele. Não sou contrário à venda, mas isso desde que essa alienação cumprisse o que está previsto em estatuto, que fosse altamente vantajosa para o Cruzeiro. E sabemos que não é, vender esse patrimônio não fará cócegas nas dívidas do clube", critica Luiz Carlos Rodrigues, em entrevista ao Hoje em Dia, após divulgação do manifesto. 

Clube empresa

Na visão de Luiz Carlos e que consta no manifesto disponibilizado a todos os conselheiros, segundo o próprio autor, ainda há salvação para o clube. Mas isso passa por transformá-lo em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o famoso "clube empresa". Isso em função das dívidas acumuladas ao longo dos anos, situação que se agravou bastante após a gestão de Wagner Pires de Sá, que registrou rombos estratosféricos nas contas do clube.

O Cruzeiro apresentou em 2019 déficit de R$ 394 milhões, número apontado por especialistas como o pior da história do futebol brasileiro, e chegou ao patamar de segunda maior dívida dentre os grandes clubes, atrás apenas do Botafogo. A Raposa ultrapassou os R$ 803 milhões em dívidas.

"Ninguém mais do que eu pensa, e isso faz parte do meu princípio, na valorização do associado, do torcedor e do futebol do Cruzeiro. E o único projeto que contempla isso é o nosso projeto de clube empresa. O torcedor poderá comprar ação, se tornar sócio vinculado à administração do clube, vai participar efetivamente dessa administração. Não me preocupo com exposição ou desagradar A ou B, eu falo que essa é a salvação do clube", opina Rodrigues.

Na página dois do manifesto o conselheiro cita a questão do clube empresa, que anteriormente também já tinha sido destacada pelo ex-Diretor executivo (CEO) do Conselho Gestor, o empresário Vittorio Medioli.

"Ressalvamos nossos “princípios”, sustentado nas eleições à Mesa Diretora e reforçar nosso entendimento, que não há saída para o futebol, senão pela transformação em S.A.F (...) É premente a transformação do futebol em Clube Empresa, e somente assim, haverá saída para a crise financeira. A responsabilidade da dívida é do futebol. Do torcedor. O ônus não pode ficar para o associado. Temos um clube, que com uma administração profissional, separados da administração do futebol, tornar-se-á muito mais pujante. Assim, teremos a oportunidade, eleitos novos Presidentes, novo Conselho (constituinte -convocado e eleito para promover a Reforma do Estatuto), de tornarmos ao futebol empresa. Proporcionando aos torcedores e a investidores, a possibilidade de participarem do Cruzeiro S.A.F. e lhes dar sustentabilidade", reitera Luiz Carlos. 

Medo de críticas

Perguntado se o conselheiro não temeria uma avalanche de críticas da torcida por se mostrar contrário à venda da Campestre 2, Luiz Carlos foi direto: "Como eu disse, se fosse uma situação altamente vantajosa e pagasse todas as dívidas do clube, seria pelo menos razoável discutir o tema no Conselho. Mas eu não vejo vantagem. Se tivesse o assunto em campanha do atual presidente, o que não aconteceu, seria legítimo. Como não esteve, não é. Colocar um bem, um patrimônio do Cruzeiro à venda, demanda respeito ao estatuto", afirma.

Velha discussão

E outro ponto destacado no documento produzido por Luiz Carlos é justamente ao que ele chama de respeito ao Estatuto do Cruzeiro. O conselheiro retomou a discussão da necessidade de, na reunião extraordinária para a discussão desse tema da alienação da Campestre 2, haver aprovação de nove décimos de todo o conselho e não somente dos que se fizerem presentes ao encontro do dia 3 agosto, a partir das 18h, na sede do Barro Preto. 

"Obvio, a mesma importância, ao se deliberar sobre a alienação de terreno, xifópago à Sede Campestre, não vislumbrada qualquer situação “altamente vantajosa”, pois indispensável ao seu funcionamento, inclusive perante à PMBH, devido ao seu potencial (subestimado), por isto necessária a aprovação mediante “9/10 (nove décimos) dos Conselheiros”. Atentem-se, a inexistência da palavra “presentes”. Então pá de cal, em malsinada pretensão, pois inexistente qualquer vantagem", diz o documento.

"Se for preciso, judicializo para que não aconteça essa alienação, farei o que precisar ser feito. Antes da eleição não vejo necessidade, pois na reunião pode ser que sequer haja quórum para tal aprovação. Mas depois se houver aprovação em desrespeito ao Estatuto depois na Justiça derruba-se essa decisão", disse Luiz Carlos Rodrigues. 

A polêmica sobre o quórum da reunião extraordinária para decidir sobre venda de imóveis como previsto no Estatuto começou com análise do ex-presidente José Dalai Rocha. Em seu blog pessoal ele publicou texto dizendo que, necessariamente, nove décimos de todo o Conselho Deliberativo precisariam aprovar tal alienação, conforme o artigo 20, inciso VI da "Constituição do Cruzeiro". 

O que não é do mesmo entendimento da ala de apoio ao presidente Sérgio Santos Rodrigues, que em live transmitida há algumas semanas, garantiu que o quórum necessário para aprovar tal tema era de 9/10 dos presentes à reunião.

Cruzeiro

A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Cruzeiro. A demanda por uma resposta da presidência, que tem em mãos o documento enviado pelo conselheiro Luiz Carlos Rodrigues, foi respondida por meio de nota.

"A direção executiva do Cruzeiro Esporte Clube respeita e considera legítimos todos os tipos de manifestações sobre o assunto, mas reforça seu entendimento e posicionamento contrários em relação à interpretação de artigos do Estatuto.

Em menos de dois meses à frente do Clube, a nova gestão já pagou quase R$ 30 milhões em dívidas, anunciou diversas novas parcerias, dentre elas quatro novos patrocinadores e extensão de contratos de outros dois, além de ter criado plataformas de monetização, em um delicado período de pandemia e sem a realização de jogos e eventos, tendo em seu planejamento o lançamento de novos produtos em breve.

Mesmo com todo o esforço e dedicação para honrar compromissos e pagar as dívidas urgentes, e sempre contando com o apoio da Nação Azul no envolvimento com os novos projetos, a diretoria considera de suma importância a necessidade de venda de um ativo que não gera qualquer tipo de receita ao Clube, mas apenas despesas.

A diretoria reitera que o processo de votação do Conselho e da possível venda, caso aprovada, serão realizados de forma totalmente transparente. E informa que, mesmo aprovada, a venda só será concretizada a partir de uma boa proposta que atenda aos anseios e necessidades do Clube".

Veja o documento enviado à imprensa pelo conselheiro Luiz Carlos RodriguesDivulgação Divulgação / N/ADivulgação 

  

  

  

  

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