Entre uma apitada e outra no Centro de Treinamento do Cerezo Osaka, Levir Culpi sentiu o chão tremer. A 600 km dali, Oswaldo de Oliveira se dirigia à estação de trem em Tóquio e testemunhou rachaduras na estrada. Os brasileiros viveram de perto o pior abalo sísmico da história do Japão. Mas o terremoto de 8,9 graus na escala Richter, em março de 2011, foi o único aspecto negativo da época que transformou a carreira dos dois treinadores que se enfrentam neste domingo, no Independência, às 16h.
Os técnicos deixaram trabalhos em Minas, quase simultaneamente, para desbravar a terra do sol nascente. Campeão mineiro pelo Atlético em 2007, o curitibano voltou ao Cerezo Osaka com a missão de reerguer o clube afundado na Segunda Divisão japonesa. O carioca, por sua vez, não renovou com o Cruzeiro em dezembro de 2006 e arrumou as malas para, ainda sem saber, virar ídolo no Japão.
Neste domingo, o Galo tenta a recuperação no Brasileirão e conta com o mando de campo para tentar superar o Urubu, que vinha de seis vitórias consecutivas antes de perder para o Coritiba – sequência que só o time mineiro havia conseguido nesta Série A.
A Ásia ficou no passado, mas o aprendizado adquirido mudou o modo de pensar dos técnicos: organização e educação em nível jamais visto no Brasil, como conta Caio Júnior, contemporâneo dos dois em 2009, à frente do Vissel Kobe.
“Fui enfrentar o Oswaldo pelo Kashima e foi feita uma reunião com os árbitros, treinadores, intérpretes, presidentes de cada clube e os árbitros. Em determinado momento, o coordenador da reunião pediu para todos nós conferirmos os relógios e confirmou o acerto até dos segundos. Oswaldo olhou para mim, riu e disse: ‘aqui é o Japão, Caio’. Foi então que confirmei que o Japão era mesmo diferente”, relatou o treinador, atualmente no Al Shabab (Emirados Árabes).
Rivalidade
Com um time mais qualificado, Oswaldo conquistou a J-League entre 2007 e 2009. Mas na primeira vez que se encontraram na Primeira Divisão, Levir levou a melhor sobre o compatriota. Na edição de 2010, foram duas vitórias do Cerezo Osaka, essenciais para alcançar a terceira colocação, a vaga na Liga dos Campeões da Ásia e, de quebra, ficar um ponto e uma colocação à frente do rival.
Em 2011, o flamenguista devolveu as duas derrotas e venceu a Copa da Liga. Ao fim da temporada, ambos se despediriam do Japão – Oswaldo foi para o Botafogo e, depois, para o Palmeiras.
Levir ainda voltaria ao Cerezo, em 2012. Oito meses depois, retornou ao Atlético no lugar de Paulo Autuori para se tornar, hoje, o treinador há mais tempo no cargo entre todos os times do Campeonato Brasileiro.
Churrasco, telefonemas e amizade: o trio brasileiro no Japão
No país do sushi e do sashimi, Levir e Oswaldo tinham a convivência limitada pela distância entre Osaka e Kashima. Em 2009, Caio Junior entrou no círculo de amizades dos dois. Paranaenses, Levir e Caio estavam mais próximos e se encontravam toda semana para matar a saudade do Brasil e, principalmente, do churrasco.
“Eu estava em Kobe, e ele em Osaka, que são próximas. Então, quase toda semana eu pegava o trem e ia comer carne com ele”, lembra Caio. “Depois deste período, nos encontramos seguidamente em Curitiba para jogar uma peladinha e jantar com a família. Ele é de um caráter extraordinário e um exemplo para nós, treinadores”, conta.
De Oswaldo, Caio também ouviu conselhos para se dar bem no Japão por meio de longos telefonemas. Ele se admirou com a cordialidade e gentileza do tricampeão japonês.
“Eu não tinha experiência como treinador fora do Brasil. Encontrei com eles em uma reunião com todos os treinadores da J-League, em Tóquio. Trocamos os números do telefone. Para minha surpresa, o Oswaldo me ligou alguns dias depois, completamente solícito, me dando informações e me ajudando muito. Foi sensacional, e guardei com muito carinho essa atitude dele”, revela o treinador, que retribuiu o favor quando Oswaldo assumiu o cargo do amigo no Botafogo.