(Rafael Ribeiro / CBF)
Quando o vento do Rio Uruguai batia nas janelas, a família Bledorn Verri, de Ijuí, Rio Grande do Sul, logo se lembrava que a Argentina estava logo ali ao lado. Dunga, o filho mais ilustre da cidade, cresceu e desenvolveu uma relação ainda maior de intimidade com a pátria do general San Martín. E amanhã, pelas Eliminatórias, ele voltará a encarar o adversário que marcou a vida dele.
Por um lado, a Argentina é um rival conveniente para o treinador, após boatos de possível demissão em nova derrota. Afinal, a Seleção principal jamais perdeu para os hermanos sob o comando de Dunga.
Por outro, as duas derrotas de Dunga para a Argentina foram emblemáticas – na Copa de 1990, como jogador, e em Pequim 2008, como técnico. Mas o fato é que, no geral, ele ostenta 64% de aproveitamento nesta rivalidade.
Responsável pela primeira convocatória de Dunga à Seleção Brasileira, em 1987, o ex-técnico mineiro Carlos Alberto Silva tem uma teoria que ajuda a explicar porquê o capitão do tetra se dá tão bem no superclássico: a alma de argentino que ele carrega.
“A raça, a vontade de ganhar, quase sempre prevaleceram no duelo entre essas seleções. E o Dunga encarna isso como ninguém. Ele foi, por essência, um jogador brasileiro com alma argentina”, avalia o aposentado ao Hoje em Dia.
Como jogador, Dunga celebrou o primeiro título pela Seleção na Copa América 1989, derrotando a Argentina de Maradona no Maracanã no quadrangular final. Um ano depois, porém, Dieguito eliminaria o time de Lazaroni na Copa do Mundo da Itália, deflagrando a chamada “Era Dunga”, rótulo crítico em relação a um futebol mais pragmático simbolizado pelo ex-volante.
Messi & Cia.
A verdadeira “vingança” daquele gol de Cannigia em passe magistral de Maradona só viria 17 anos depois. Na Copa América da Venezuela, Dunga venceu a Argentina com um sonoro 3 a 0 na final. Antes, como jogador, havia varrido a equipe alviceleste da Copa América de 1995, nas quartas-de-final, ao converter uma das cobranças na disputa de pênaltis após empate de 2 a 2, no famoso gol “La Mano de Túlio”.
Uma nova decepção seria protagonizada em Pequim, na Olimpíada de 2008. A busca pelo ouro inédito foi adiada quando a Argentina de Riquelme, Messi & Cia. derrotou a Seleção nas semifinais.
Uma nova redenção veio em 2009. Em pleno Gigante de Arroyito , estádio do Rosário Central, Dunga superou Maradona (então treinador) em um 3 a 1 que carimbou a vaga da Seleção à Copa da África do Sul.
Nesta terceira edição da “Era Dunga”, a segunda como treinador, o gaúcho confirmou o estrelismo diante da Argentina. Pôde afastar o trauma de Pequim ao vencer o Superclássico das Américas por 2 a 0, gols de Diego Tardelli.