(Flávio Tavares/Hoje em Dia)
A vida do atacante Jô não é a mais a mesma. Se, antes, baladas e festas faziam parte da rotina do paulista de 29 anos, hoje, fora do horário de trabalho, só é possível encontrá-lo em casa, curtindo a esposa Cláudia e o filho Pedro, ou participando de cultos.
Após dois anos fora do Brasil – onde atuou pelo Al Shabab, dos Emirados Árabes, e depois pelo Jiangsu Suning, da China –, Jô voltou ao país mês passado.
Enquanto não assina contrato com novo clube, mantém a forma física treinando na Cidade do Galo. Um dos personagens mais importantes da Libertadores conquistada pelo Atlético em 2013, o atacante recebeu o Hoje em Dia no condomínio onde mora, na região metropolitana da capital, e falou sobre o novo momento. Voltar à Seleção, inclusive, é o maior sonho do jogador.
O que tem feito desde que voltou da China? Quais os planos para o futuro?
É difícil explicar porque desde que me batizei e entreguei a vida a Deus, deixei de fazer planos. Quando eu não era da igreja, conseguia ficar muito tempo num clube, apesar dos altos e baixos. Hoje, vou num clube e faço o que tenho que fazer. Fui um dos artilheiros nos dois últimos e saí. Hoje estou muito feliz, tenho uma vida muito tranquila com minha família. Vou continuar treinando no Galo e esperar uma porta abrir. Me sinto bem em Belo Horizonte e vou esperar uma oportunidade.
O Atlético hoje tem Fred e Pratto, ambos da sua posição. Isto dificulta o seu retorno ao clube?
Vendo por este aspecto, sim. Acho que o Atlético não aceitaria ficar com três atacantes. Teria que aguardar possível venda de um dos dois. Claro que existe a possibilidade. Estou treinando lá e tenho contato com a diretoria. Os jogadores brincam que aguardam a minha volta, mas tem esta questão burocrática. É um clube onde eu fui muito feliz e as coisas andaram bem. Vejo com bons olhos, mesmo sendo complicado.
Você jogou em vários clubes e países. Foi no Atlético que o Jô realmente se encontrou no futebol?
Joguei em diversos países, mas creio que não foi da maneira que eu achei que seria. Era muito novo e ganhei muito dinheiro. Acontece com vários jogadores. Há um deslumbramento e você quer aproveitar a vida ao mesmo tempo em que está jogando. Isso é 100% do que o jogador não deve fazer. Quando fui para o Inter, depois de seis anos fora, acabou também não sendo uma ida proveitosa. Fiz coisas que um jogador profissional não deve fazer, principalmente um homem casado. Tudo isso me serviu de aprendizado. No Atlético eu consegui focar na parte profissional, já com 25 para 26 anos. Me encontrei um pouco mais no lado profissional e com certeza foi o melhor momento da minha carreira. Foi onde busquei meu objetivo de ser campeão da Libertadores e da Copa do Brasil. Foi através do Galo que cheguei a uma Copa do Mundo.
Você fez parte do grupo que foi derrotado pela Alemanha por 7 a 1. Aquele momento ainda está fresco na memória?
Já se passaram dois anos. Acho que um pequeno detalhe explica. Talvez, para aquele jogo, a preparação foi diferente. Viemos de dois jogos muito difíceis, contra Chile e Colômbia. Foi uma guerra. Passamos pelos dois e pensamos que pegaríamos um país mais frio e com menos guerra em campo. Demos uma relaxada. Faltou preparação, assim como aconteceu com a gente no Galo após ganhar a Libertadores. Já estávamos pensando no Bayern. Não nos preparamos o ideal. Frustrou nossos planos. Eu tinha uma proposta oficial do Borussia Dortmund, mas o presidente me pediu para esperar, já que valorizaria após a Copa do Mundo. Não aconteceu. Fui para Dubai, onde me espiritualizei.
Você trabalhou com o Tite em 2004 no Corinthians. Acha que tem portas abertas com ele na Seleção?
Quando você toma um baque de 7 a 1, fica sentido. Pensei que não servia mais na Seleção. Confesso que há um ano e meio eu não pensava em voltar à Seleção. Agora, convertido, tenho novamente esta expectativa. Na semana passada, um obreiro me disse que eu preciso voltar para a Seleção. Ele me pediu para vestir a camisa em casa e pensar nisso. O Tite é um treinador com quem trabalhei, que sabe das minhas características. Vou voltar a jogar, em alto nível, fazendo gols. Quero, sim, ir à Copa do Mundo.
O Corinthians hoje não tem um centroavante de referência e é um clube especial para você. Foi lá que começou a jogar. Gostaria de atuar pelo Timão em 2017?
É um clube onde cresci. Muito antes do Atlético, pensei em terminar a carreira lá. Hoje vive numa fase meio conturbada na questão de atacantes, mas tem um disponível no mercado. São Paulo é a cidade onde fui criado, meus pais são de lá, e tenho identificação muito grande. Hoje a vida da família é em Esmeraldas e BH.
Quando se aposentar, pensa em continuar morando em Minas?
Tenho uma casa aqui em Esmeraldas. Minha família adora aqui. Tenho uma casa também no Rio de Janeiro, cidade da minha esposa, mas é em Minas que me sinto tranquilo, em paz. Não sei se vou morar aqui, mas a cidade ficou marcada para sempre na minha vida. Meu filho nasceu aqui.
Seu filho Pedro tem apenas dois anos, mas já dá sinais de que será alto como o pai. É a nova geração da família no futebol?
Depois que eu parar, tenho mais uma aposentadoria aí (risos). Tomara que ele seja jogador. Aqui em Belo Horizonte vou colocá-lo para jogar no Galo.
Seu maior sonho, depois de tudo o que conversamos, é voltar à Seleção. Correto?
Sim. É o meu sonho. Ainda não fiz o meu papel na Seleção Brasileira. Apesar de ter feito gols na Copa das Confederações e em amistosos, em Copa do Mundo ainda não cumpri o meu papel. Espero ter esta chance e ser campeão. Agora, na minha cabeça, aflora muito.Bruno Cantini/Atlético
O que Ronaldinho Gaúcho significa na sua vida?
Como profissional, espetacular. Me ajudou muito no Atlético. Foi um cara fantástico. Dentro de campo é um cara muito inteligente, mas vive uma vida um pouco diferente da minha; totalmente oposta. Não posso falar que ele influenciou muito porque hoje tenho 29 anos e os momentos que eu passei foi decisão minha, como ir em festas. Mas hoje tenho minha vida e ele a dele. Como profissional, para mim, foi fundamental.
O que você acha deste rumo que ele escolheu neste fim de carreira?
Pela história que ele tem no futebol – conversando com amigos meus que o conhecem – vemos que acabou ficando estranho e triste. É um jogador consagrado, que fez tudo no futebol, e a carreira dele tomou este rumo. Hoje você não o vê mais jogando, vai para um lado e para o outro. Ele tem os compromissos dele, claro, mas poderia estar numa situação melhor, mas é a vida dele. É uma ótima pessoa, muito gente boa, mas hoje, na minha opinião, leva uma vida de autodestruição. Sempre vou orar por ele, para que tenha uma vida melhor.
Se tivesse esta mentalidade de hoje, o seu caminho no Atlético poderia ter sido diferente?
Se eu tivesse me cuidado mais, poderia ter feito muito mais gols e brilhado mais. Muitos não sabem o tanto que eu sofria. Era separação (da esposa) toda hora e minha vida não andava. Hoje tenho minha família estruturada. Antes, era tudo ilusão. Gastei muito dinheiro e não vivia uma vida digna.