(Henrique André)
Como jogava bola o valente, veloz e eficaz Vanderlei Eustáquio de Oliveira, eternizado no mundo da bola como Palhinha. Era de encher os olhos! Nascido e criado no Barreiro, em Belo Horizonte, o ex-atacante e treinador, hoje aos 68 anos, curte a família e vê o neto Caio, de oito, herdar o apelido entre os amigos.
Ídolo no Cruzeiro, clube que o revelou, importante peça do Atlético no início da década de 1980, e do Corinthians de 1977, Palhinha se diz triste com o nível técnico do futebol brasileiro atualmente. Para ele, a força física se sobrepôs ao talento dos jogadores.
Nesta entrevista ao Hoje em Dia, o ex-companheiro de Piazza, Reinaldo, Sócrates e companhia relembra o passado vitorioso, fala da frustração por não ter ido a uma Copa do Mundo e afirma que, se atuasse hoje, não deixaria o futebol brasileiro para ganhar os milhões no futebol asiático.
Como ex-secretário de esportes de Belo Horizonte, acredita ser possível desenvolver o esporte com dinheiro público?
A dificuldade é muito grande, sabe? A gente não tinha uma verba constante. Era uma coisa muito complicada. Mas com o pouquinho que a gente tinha, fizemos um bom trabalho na época, melhorando os campos. Infelizmente, o Governo nunca preocupou de uma forma definitiva. A criança e o adolescente, com incentivo ao esporte, serão afastados do caminho errado. Eles deveriam preocupar mais com isso e aumentar a verba.
Já se reencontrou com Figueroa, rival nos confrontos históricos do Cruzeiro com o Inter na década de 1970, e que fraturou seu nariz em um desses duelos?
Depois disso eu não tive esta oportunidade de encontrá-lo. Naquela época, ele tinha usado o cotovelo para quebrar meu nariz. Continuei no jogo, mesmo sangrando. Quando chegou aqui (Mineirão) no 5 a 4, eu resolvi chegar forte. Encostei a bola no fundo do campo para descontar; mas eu não sabia dar cotovelada. Ele era mestre nisso. Meti o cotovelo, ele caiu e eu fui expulso. Estava 3 a 1 para o Cruzeiro. Veio o 3 a 2, o 3 a 3, o 4 a 3 e o 4 a 4. Ainda bem que fizemos o quinto. Imagina se a gente perde aquele jogo? Saí aplaudido pela torcida, mas passei um aperto danado depois.
Guarda mágoa dele?
Não. Eu tenho uma felicidade grande porque ele foi apontado como o melhor jogador do mundo e disse que o atacante mais chato que ele enfrentou não foi Pelé e nem outro; ele disse que era eu. Isso me marcou bastante como jogador de futebol.
Qual time foi mais marcante que você atuou, o Cruzeiro de 1976, o Corinthians de 1977 ou o Atlético de 1980?
Olha, os três foram marcantes, cada um dentro das suas limitações. Se você for analisar, os times de 1980 e 1981 do Atlético eram muito bons, começando lá o João Leite. O de 76, do Cruzeiro, também não tem como discutir. A única infelicidade foi ter perdido o Roberto Batata (jogador que faleceu num acidente automobilístico). Tínhamos Nelinho, Piazza, Joãozinho, Zé Carlos... Já no Corinthians, também peguei uma grande equipe e acabamos com aquele jejum de 23 anos sem um título. Fui negociado por 1 milhão de dólares. Fiquei três anos lá e fui campeão em 1977, com um gol de rosto de que fiz na primeira partida, e em 79.
O senhor nasceu e foi em criado em Belo Horizonte. Era cruzeirense assumido. Como foi sua saída do Cruzeiro para o Corinthians em 1977?
Nasci e fui criado no Barreiro. Meu pai foi presidente e fundador do Comercial por muitos anos. Desde menininho, com cinco, seis anos, eu o acompanhava no futebol amador. Ir para São Paulo foi uma questão de oportunidade. Eu não queria nascer no Cruzeiro e morrer no Cruzeiro. Fui para o Corinthians numa época em que o clube lutava por uma conquista; foi o momento certo. Arquivo Hoje em Dia
Quando vai a São Paulo, ainda tem o reconhecimento do torcedor do Timão?
Até hoje e, honestamente, é até engraçado... Talvez o reconhecimento lá seja maior do que aqui. O mineiro é muito tímido, mas vem se soltando. Está mudando um pouquinho. O torcedor mais antigo e até o mais novo chega para conversar. Quem se realiza na vida profissional é quem não é esquecido.
Mesmo após dois títulos nacionais, o técnico Mano Menezes tem o trabalho questionado por parte da torcida. Como avalia a forma em que o técnico arma suas equipes, o chamado “Manobol”?
Quando falam que ele fecha o time lá atrás quando faz gol, é justamente para chamar o time adversário, que precisa do resultado, e apostar nos contra-ataques. O Cruzeiro tem jogadores de velocidade que conseguem fazer bem este papel. O Mano, para mim, é excelente e um dos melhores do país. Foi injustiçado na Seleção.
Qual a sua visão do que aconteceu naquele confronto do Atlético com o Flamengo, no estádio Serra Dourada, em 1981?
Em 81 foi um roubo, uma coisa absurda. O Wright foi preparado para dar o título ao Flamengo.
Acredita que o Atlético seria o campeão da Libertadores naquele ano?
Tínhamos tudo para ser porque o nosso time era muito bom. Um time que você pega seis ou sete jogadores de Seleção, com o futebol que vinha jogando, certo? Naquela partida, eu era o capitão. Ele expulsou o Reinaldo sem mais, sem menos; logo depois o Éder. Passou mais um pouquinho, naquela confusão, quando a gente queria continuar o jogo com nove jogadores, foi a vez do Chicão ser expulso. Aí eu cheguei pra ele e perguntei se ele queria que o Flamengo ganhasse; que, se quisesse, era para me expulsar. Não deu outra. Vou morrer com isso entalado na minha garganta.
Como chegou ao América já aposentado?
Eu tinha encerrado. Como o João Avelino (ex-técnico) era muito meu amigo, eu aceitei o convite que ele fez. Disse que a situação estava ruim financeiramente. Ele frequentava minha casa, viajávamos juntos...
Se jogasse hoje, ia preferir ser ídolo no Brasil ou ganhar os milhões na Ásia?
Eu não iria para a China; ficaria por aqui mesmo. Você vê hoje os jogadores ganhando um milhão e meio. Eu não iria lá para fora com o que pagam aqui atualmente. Com três, quatro anos, você está feito.Arquibo Hoje em Dia