(Lucas Prates)
O clássico segue tenso e o placar do Mineirão marca 0 a 0. Mas, logo no primeiro minuto da segunda etapa, o lateral Genilson rouba a bola pela esquerda, avança e toca na direção de Hamilton. O atacante, que havia entrado após a lesão de Vanderley, faz um corta-luz, desarruma a zaga do Atlético e a bola sobra livre na entrada da área para Careca encher o pé e vencer João Leite.
“Ele não conseguiu dominar e fala que fez um corta-luz”, debocha o ex-camisa 10. “Que nada! Ouvi ele gritando para deixar a bola passar”, devolve Hamilton, em tom bem-humorado.
O gol abriu o caminho para a conquista do Mineiro de 1987 (Robson ainda balançaria as redes, aos 51 minutos), após 10 anos de jejum. Afinal, o título de 1984 só foi sacramentado em 1990, depois de muita briga entre Raposa e Galo nos tribunais. Por isso, o triunfo daquele 2 de agosto foi muito festejado pelo lado azul da capital mineira.
NO COMANDO
Passados 25 anos, a dupla homônima reedita a parceria na Toca da Raposa. Agora, porém, a missão não é mais fazer gols. Cabe a Hamilton Lima e Silva, 52 anos, e a Hamilton de Souza, o Careca, 44, respectivamente, técnico e auxiliar do time sub-17, indicar aos futuros craques os atalhos que resultarão em carreiras vitoriosas, dentro e fora das quatro linhas.
SUSTO
Se depender da experiência de ambos, a trajetória nos túneis tem tudo para vingar. Pernambucano de São Lourenço da Mata, Hamilton desembarcou na Toca da Raposa em 1986, aos 26 anos, após passagens por clubes como Portuguesa. No time celeste, ficou até 1990, quando se transferiu para o Internacional.
Entre idas e vindas, encerrou a carreira em 1995, no América, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). “Estava com 35 anos, mas queria jogar mais uns dois. Conversei com minha família e resolvi parar. Foi uma decisão consciente”, explica Hamilton.
BRINCADEIRA SÉRIA
Nascido em Passos (MG), Careca surgiu como uma das principais promessas do futebol brasileiro na década de 80. “Cheguei ao Cruzeiro com 15 anos. Lembro-me que, no dia, fiquei sentando, observando o treino do time principal. Vim do interior porque me escolheram, mas não tinha a pretensão de ser um profissional. Jogava por jogar, por amor”, recorda.
O que era encarado como brincadeira virou coisa séria. Promovido por Carlos Alberto Silva, em 1986, aos 17 anos, ele não somente jogou, como se tornou ídolo da Raposa.
De 1987 a 1990, Careca envergou a camisa 10, ganhou títulos e chegou à Seleção Brasileira. Defendendo o Brasil, foi campeão do Pan-Americano de Indianópolis (1987), e prata, na Olimpíada de Seul, no ano seguinte.
As boas atuações lhe renderam uma transferência para o Sporting, de Portugal. Em 1993, retornou ao Cruzeiro e, um ano depois, começou a “rodar”, incluindo uma passagem pelo Atlético. Encerrou a carreira em 2000, no América, aos 32 anos. “Parei por causa de uma lesão no joelho”, justifica.