Há quatro décadas, Cruzeiro e Internacional faziam aquele que é considerado o maior jogo do Mineirão

Alexandre Simões - Hoje em Dia
07/03/2016 às 08:09.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:42
 (Correio do povo/Divulgação)

(Correio do povo/Divulgação)

O futebol brasileiro ainda vivia um clima de depressão pelo fracasso e péssimo futebol da Seleção na Copa da Alemanha, em 1974. Aquele Cruzeiro 5, Internacional 4, considerado o maior jogo da história do Mineirão e que foi disputado há exatamente 40 anos, foi a prova definitiva de que os conceitos equivocados colocados em campo menos de dois anos antes, por Zagallo, não tinham contaminado nossos gramados.

A primeira impressão disso aconteceu na decisão do Brasileiro do ano anterior, quando os dois times se enfrentaram no Beira-Rio, em 14 de dezembro de 1975, e o Colorado levou a melhor vencendo por 1 a 0.

A prova definitiva veio menos de três meses depois, na tarde de 7 de março de 1976, no Mineirão.

Apesar da proximidade, uma preocupação cruzeirense era entrar em campo sem o sentimento de vingança. “Não temos intenção de vingança. Perder é da profissão. Em futebol se perde ou se ganha, e foi isso que aconteceu no Sul. Portanto, não temos o que vingar agora. O objetivo é ganhar, este sim, mas com calma e ordem”, afirmou o lateral Nelinho.

Craques não faltavam em campo, mas nenhum brilhou tanto na Pampulha como o ponta esquerda Joãozinho.

Era apenas o começo da sua consagração como um dos grandes ídolos cruzeirenses, pois foi dele, cinco meses depois, o gol do título continental, na vitória por 3 a 2 sobre o River Plate, da Argentina, no jogo desempate da final, em Santiago.

Para o craque, a falta cobrada na malandragem, que surpreendeu Landaburu, era o pagamento de uma promessa, feita no Mineirão, após os 5 a 4 sobre o Inter.

“Realmente me sinto feliz porque fui eleito o melhor jogador em campo. Este ano começou de forma espetacular para mim, longe das contusões e me mostrando o caminho certo a seguir. Graças a Deus colaborei com vários gols e espero continuar jogando da melhor forma possível para trazer para Minas essa Libertadores, uma dívida que temos para com a nossa torcida”, afirmou Joãozinho.

Veja o relato de Palhinha sobre os 5 a 4

 

Cruzeiro 5 x 4 Internacional. Palhinha, autor de dois gols, dá o seu depoimento sobre este jogo inesquecível.https://t.co/p7MIMxfXNA — Cruzeiro E. Clube (@Cruzeiro) 7 de março de 2016

SELEÇÃO

Pode-se dizer que a atuação diante do Colorado levou Joãozinho à Seleção Brasileira pela primeira vez. Antes, ele tinha vestido a camisa amarela numa goleada de 6 a 0 sobre a Venezuela, em 13 de agosto de 1975, no Mineirão, quando entrou no lugar de Romeu.

Mas aquela Seleção era formada por jogadores de clubes mineiros, reforçada pela dupla de zaga Luís Pereira (Palmeiras) e Amaral (Guarani).

Naquele 7 de abril de 1976, quando entrou em campo no Defensores del Chaco, em Assunção, formando o ataque do Brasil com Gil, Enéas e Zico, pode-se dizer que Joãozinho estreou na Seleção.

O que já era esperado depois dos 5 a 4, assistido ao vivo, como relatam os jornais da época, pelo técnico da Seleção, Oswaldo Brandão. O show foi transmitido pela TV Tupi para todo o país, que teve a chance de constatar que nosso futebol não tinha morrido na Alemanha.

Uma pena que 38 anos depois, no palco em que Joãozinho brilhou, a Alemanha tenha “matado” o futebol brasileiro com um 7 a 1, na semifinal da Copa de 2014. Apesar de histórica, a goleada não fez frente aos 5 a 4, pois a qualidade era exclusividade de um lado.

*Colaborou Felipe Repolês

Direto ao ponto*

*Parte da coluna de Roberto Drummond publicada no jornal Estado de Minas de 9 de março de 1976

A Jairzinho nota 10. A Figueroa, o genial Figueroa, outra vez nota 10. Para Manga (mesmo com os cinco gols) também dou 10. A Palhinha, idem: nota 10. A Eduardo (Por que não?) nota 10. Um 10 eu dou também a Lula.

Agora para Joãozinho, o assombrado Joãozinho, eu dou nota mil, mas nota mil é pouco: eu dou a Joãozinho a volta da alegria e da vontade de chorar e de cantar e de rir, independente da cor da sua camisa que é azul (mas isso não importa); eu dou a Joãozinho a volta de um momento que havia desaparecido do futebol brasileiro com Garrincha, Pelé e Tostão, a volta de uma emoção que não nos larga depois do jogo, que segue com a gente e fica, como as emoções muito intensas... O que eu senti durante o excelente jogo entre Cruzeiro e Inter, um jogo que mostra como o futebol brasileiro está voltando a ser o que já foi, o que eu senti é que, quando Joãozinho pegava a bola, cada um dos milhares de torcedores não ficava mais sentado na cadeira, não ficava nas arquibancadas, não ficava mais nas gerais: cada um entrava na pele de Joãozinho.

Aquele drible em Figueroa foi meu – foi meu e de milhares de pessoas. Aqueles dois gols de Joãozinho foram meus – foram meus e de milhares de pessoas.

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