Depois de Danilo, "fábrica de craques" americana está desativada

Rodrigo Rodrigues - Hoje em Dia
28/10/2013 às 07:44.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:41


Por menos de 50 milhões de euros (cerca de R$ 150 milhões), Danilo, de 22 anos, não deixa o Porto. Inegavelmente, trata-se de uma fortuna. Mas, na Europa, os poderosos Chelsea e Real Madrid já demonstraram que estariam dispostos a abrir os cofres para contar com o futebol do lateral-direito, que deixou o Santos em 2012.

A Vila Belmiro, no entanto, não foi o berço desse talentoso atleta. A Baixada Santista serviu apenas como uma escala rumo a Portugal. Os primeiros chutes, na verdade, o menino nascido em Bicas, na Zona da Mata, deu em Santa Luzia, no centro de treinamentos da base do América.

O camisa 2 do Porto é mais um exemplo de várias promessas que surgiram no Coelho e voaram alto para conquistar o mundo da bola. Por essas e outras, o clube alviverde adquiriu a condição de “fábrica de craques”, certificação que tem perdido força com o passar dos anos.

Danilo deixou o América em 2010, quando o Santos pagou R$ 2 milhões por 75% dos direitos do jogar. Um ano depois, o time paulista o repassou aos portugueses, por R$ 29 milhões. Talvez, ele tenha sido o último exemplar dessa engrenagem que já produziu talentos em escala quase industrial. 

De Tostão a Fred, o Coelho sempre teve orgulho de suas crias. Hoje, os tempos são outros. Assim, reeditar 2001, quando foi campeão do Mineiro, tendo nove titulares revelados em casa, é algo que está muito distante do CT Lana Drummond.

“Quando assumimos o América, há sete anos, passamos por um período de dificuldades financeiras, que resulta em perda de qualidade”, admite Marcus Salum, presidente do Coelho. “Mas falo isso sem querer desmerecer ninguém”, completa.

A exceção

Embora a diretoria americana faça questão de reafirmar a vocação para formar atletas, o goleiro Matheus, de 21 anos, é o único “menino” titular absoluto na equipe de Silas. O lateral-esquerdo Danilo, 22, que passou dois meses no juvenil e outros seis no júnior, também tem atuado.

“O fato de ter sido revelado no América e estar jogando como titular só aumenta a minha responsabilidade. Por outro lado, serve como inspiração para trabalhar e me dedicar ainda mais. Afinal, vida de goleiro não é nada fácil. Se você pegar tudo nos 90 minutos, mas falhar nos acréscimos, não adiantou nada”, ressalta Matheus. Ele é irmão do volante Moisés, da Portuguesa, que também começou a carreira no Coelho.

Outros nove atletas oriundos da base compõem o grupo do técnico Silas, à espera de uma chance efetiva: Glaycon (goleiro), Anderson, Lula e Otávio (zagueiros), Carlos Renato (lateral-esquerdo), China, Junior Lemos e Kaio (meio-campistas), e Ygor (atacante). O experiente Alessandro, 31 anos, também surgiu no alviverde, mas depois de rodar bastante, é reserva.

“Quem está aqui tem que trabalhar para, quando tiver oportunidade, agarrar com unhas e dentes”, aconselha o camisa 1 americano.

Expectativa de um futuro promissor

Depois de uma entressafra, o América trabalha para começar a colher os novos frutos. Se há três anos, quando Danilo foi vendido para o Santos, não pinta um grande nome na base do clube, a expectativa para as próximas temporadas é animadora. Pelo menos na visão de quem está diretamente ligado à formação de atletas.

“O trabalho está melhorando bastante. A diretoria tem atuado para encurtar a distância entre a base e o profissional”, afirma Milagres. Ex-goleiro do Coelho, ele é treinador do time júnior.

Milagre atribui o escasso aproveitamento das revelações no grupo principal às circunstâncias do futebol. “A oportunidade vem de acordo com a qualidade de cada um. Hoje, só temos o Matheus como titular, por contingência. Mas há outros que tiveram chances, que vão surgindo naturalmente”, aponta o treinador.

Em contrapartida, Milagres alerta para o cuidado no momento de lançar o jovem recém-saído das categorias inferiores. “Temos a consciência de que o jogador da base tem que chegar no profissional para encorpar o grupo, e não para resolver o problema. Afinal, existe uma cobrança muito grande de todos”, alerta.

Este processo foi enfrentado com tranquilidade pelo goleiro Matheus. Talvez por isso ele tenha conseguido conquistar seu espaço. “A ansiedade e a falta de maturidade atrapalham, mas é normal. Não foi diferente comigo, mas consegui me firmar e, hoje, tento passar minha experiência para os outros meninos”, ressalta Milagres.

Certamente, é o que precisarão nomes como Renato Silva, Patrick (meias), Xavier e Sávio (atacantes), destaques do atual sub-20 do Coelho.
 

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por