entrevista

Do interior de Minas aos grandes feitos no futebol brasileiro, conheça o trabalho de Lucas Drubscky

Diretor executivo de futebol do Ceará fala do acesso à elite do futebol brasileiro e da passagem por Cruzeiro e atlético

Angel Drumond
esportes@hojeemdia.com.br
Publicado em 06/01/2025 às 08:08.
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Natural de Governador Valadares, em Minas Gerais, Lucas Drubscky, de 34 anos, construiu uma carreira sólida no futebol, que começou nos clubes de Belo Horizonte e ganhou destaque no Nordeste. De funções nas categorias de base a diretor de futebol, ele se consolidou como um dos principais nomes da gestão esportiva no país. 

A trajetória de Lucas inclui conquistas marcantes, como a vitória na Copa do Nordeste pelo Bahia, o Campeonato Pernambucano e o vice da Série B do Brasileiro pelo Sport, até o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro pelo Ceará. 

Nesta entrevista ao jornal Hoje em Dia, ele compartilha um pouco sobre sua jornada, a influência do pai, os desafios que enfrentou e o que o futuro reserva para sua carreira.

Lucas, sua trajetória no futebol começou em Minas Gerais, trabalhando no Atlético e no Cruzeiro. O que você trouxe dessas experiências iniciais que ainda aplicou ao longo da sua carreira e, especialmente, na gestão do Ceará nesta temporada?  

Minha trajetória no futebol começou aqui em Minas. Eu sou mineiro, nascido em Governador Valadares, mas criado praticamente a vida inteira em Belo Horizonte. Tive a oportunidade de fazer um estágio de gestão na base do Atlético, na época com o André Figueiredo, que era o diretor da base e o Fred Cascado, que hoje é diretor de futebol do América, como coordenador técnico, mas não fui funcionário de fato. Funcionário de fato, eu fui do Cruzeiro. E aí sim, já com carteira assinada, e o que eu trago dessas experiências, na verdade, é o começo do lidar com o futebol. Então, foi bom o dia a dia, não só com atletas, mas com os entes que compõem um departamento de futebol: treinador, presidente…Então, acho que foi importante para mim. Essa foi a primeira experiência que trouxe para o meu trabalho hoje no Ceará. Mas nos dois clubes, estive muito vinculado ao futebol de base. Então no futebol profissional, comecei a trabalhar fora do Estado.

Ao longo da sua caminhada, você também teve passagens marcantes por clubes como Bahia, Sport, Guarani e Coritiba. Quais foram os maiores aprendizados nesses diferentes contextos e como eles influenciaram sua atuação no Ceará, culminando no acesso à Série A? 

Aprendizado é muito vasto. Cada clube que cheguei, durante a minha carreira, e já estou completando 10 anos de carreira, trago um pouquinho de experiência. Anos inseridos, e de uma maneira muito forte no mercado. Então, cada clube que passo, e cada clube que chego, trago comigo um profissional mais experiente, com mais anos acumulados de mercado no futebol. Então, por consequência, me tornei um profissional melhor, um profissional mais capacitado. É claro que cada clube tem a sua peculiaridade. Alguns clubes tive que lidar com os entes políticos de uma maneira mais firme, outros tive que aprender a lidar com a gestão específica do departamento de uma maneira muito mais abrangente, com mais atenção. Já outros, tive a oportunidade, de pela falta de pessoal envolvido, fazer duas, três, quatro funções, e por mais que tenha sido desgastante, me entregou uma bagagem muito boa de poder militar em várias áreas no departamento e chegar hoje como um profissional mais completo, mais experimentado, tanto na área técnica, quanto área de gestão. O que culminou o acesso à série A do Ceará foi a junção de muita gente boa envolvida no processo dentro do departamento, dos atletas, enfim, decisões acertadas tomadas por nós ao longo do ano. 

O Ceará tem uma das torcidas mais apaixonadas do país, que nunca deixou de apoiar o clube, mesmo nos momentos mais difíceis. Como você enxerga a importância desse apoio no retorno à elite do futebol brasileiro?  

Fundamental. O que a torcida do Ceará fez esse ano de 2024 foi algo que nunca tinha visto na minha carreira. Ela começou um ano com desconfiança e com muita razão, pelo ano de 2023, que o clube, apesar do título da Copa do Nordeste, terminou saindo muito cedo da briga pelo acesso à elite, que era o maior objetivo da temporada. Então, ao longo de 2024, a gente pôde reconquistar essa confiança do torcedor. Fomos entregando para eles motivos para confiar e acreditar, e quando a união se firmou, essa confiança foi reconquistada de uma maneira sem limites no nosso estádio: o Castelão. O que a torcida fazia ali nas arquibancadas, na recepção em nosso estádio, na chegada em aeroportos, foi alguma coisa que beira o absurdo. A torcida vai ser fundamental para a gente conseguir e alcançar voos maiores neste ano de 2025.

(Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Ricardo Drubscky, seu pai, é uma figura muito respeitada no futebol brasileiro, tanto como treinador quanto dirigente. Como a convivência com ele influenciou sua visão de gestão e tomada de decisões no futebol?  

Praticamente tudo. Eu sou novo, mas não sou jovem, tanto quanto já fui no começo de carreira, tenho 34 anos, são 10 anos de carreira, então comecei a trabalhar com futebol com 24. Deus abriu as portas e me direcionou nos caminhos que me interessaram, leais a minha capacidade e a minha qualidade. Não estaria em lugar nenhum se não fosse por ele e em segundo a meu pai. Desde pequeno pude ter oportunidade de frequentar o ambiente interno do futebol de maneira muito viva. E além disso, ter a companhia dele durante todos esses anos conversando sobre o futebol, sobre o jogo, sobre as coisas que permeiam o futebol. Pude aprender um conteúdo riquíssimo, que muita gente paga caro para ter um curso. Claro que isso influenciou demais, não só meu interesse em trabalhar, ainda que de uma maneira um pouco diferente da dele, porque ele é mais da parte técnica, específica de campo, e eu gosto dessa parte do backstage, essa parte de fazer o futebol como todo, e não só fazer o jogo que é o caso dele. Acho que talvez a principal influência, enquanto profissional, tirando os fatores óbvios, é de tratar as coisas com seriedade, que isso ele sempre me passou, sempre foi um profissional de excelência e eu procuro muito copiá-lo nisso.

Neste ano, o Ceará foi muito eficiente em campo, garantindo o acesso à Série A. Quais foram as estratégias ou mudanças mais significativas que você ajudou a implementar para alcançar esse objetivo?  

De fazer um trabalho muito técnico, muito profissional e com um departamento de futebol muito robusto, com vários profissionais extremamente capacitados, exercendo a sua função sem vaidade. Isso aí é do presidente até o massagista. Implementamos algumas mudanças de paradigma no clube. A gente trouxe um protagonismo maior para o departamento de mercado, que até então era bastante coadjuvante no clube. Fizemos alguns movimentos de ajuste salarial para trazer alguns profissionais mais para perto. Criamos o departamento de performance mental, que tem a ideia de treinar mentalmente os atletas. Ele é composto por um um psiquiatra, um psicólogo e uma assistente social, que hoje é fundamental para uma entrega de performance. A questão do futebol é muito muito maleável, muito volátil. Cada dia é uma situação diferente. Claro que somos julgados pelos resultados, a maioria das vezes, mas os resultados, nesse caso aí, apenas corroboram o trabalho que é feito no dia a dia dentro do departamento de futebol.  

(Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Com o Ceará de volta à Série A, quais são os principais desafios e prioridades para a próxima temporada? Existe algum planejamento especial para fortalecer a equipe e se manter competitivo na elite? 

Eu diria que não tem um planejamento especial. O planejamento é ter que ser competitivo dentro de um contexto em que 85 a 90% dos seus adversários tem mais condição financeira que você. Ao mesmo tempo não pode cruzar os braços e usar isso de bengala e falar que a gente não tem condição de lutar, pelo contrário é esse que é o desafio. Conseguir ser competitivo de uma maneira inteligente, e de uma maneira que a gente consiga entregar os resultados que temos como meta neste ano de 2025. Acho que o planejamento especial foi fazer, uma semana antes da série B terminar, um trabalho de prospecção e montagem de elenco. Nós estamos falando, mais ou menos, ali pelo dia 15 e 16 de novembro. Então acho que esse start mais cedo do que os outros clubes foi um fator diferencial para a gente estar aqui hoje. Estou aqui fazendo essa entrevista com você e bem adiantado nos nossos planejamentos de montagem de elenco para o ano de 2025. Sabemos que vai ser um ano de dificuldade, um ano de luta, mas com os mesmos princípios que nos guiaram em 2024. 

Por fim, olhando para sua trajetória, que começou em Belo Horizonte e ganhou força fora de Minas Gerais, qual conselho você daria para jovens profissionais que desejam seguir carreira na gestão esportiva, especialmente em um mercado tão desafiador como o futebol?

Acho que o principal conselho que posso dar é o de não desprezar os pequenos começos. Eu com 23 para 24 anos já tinha feito meus estágios ali, aqui, mas eu sou advogado, formado na UFMG. Trabalhando no escritório, surgiu essa possibilidade para ir para o Cruzeiro, começar de fato a carreira como um profissional do futebol, como um secretário na base. Como advogado resolvi largar e confiar nessa possibilidade que se abria, que era meu sonho. Eu vejo muita gente perguntando "poxa, o que que eu tenho que fazer para entrar nessa área?” Já vai querer começar na prateleira de cima e não tem jeito. Futebol, infelizmente ou felizmente, o que manda, acima de qualquer coisa, é a prática. E a prática muitas vezes é no empirismo, não tem cursos, tirando alguns casos específicos como treinador ou alguns profissionais da área técnica, mas na gestão, especificamente, não tem, é um ou outro curso online. Tem que aprender fazendo. Você sai daquela visão de torcedor, de espectador, do lado de fora e você começa a entender do lado de dentro, o que é um jogador, o que é um treinador, o que é um presidente de clube, o que é uma estrutura, o que é um departamento de futebol. E aí você começa a formar um profissional. Meu pai sempre falava muito isso, se você precisar pegar um avião rodar o mundo para apertar a mão de uma pessoa e depois voltar: faça. Eu trouxe vários profissionais para o Ceará. Pessoas que trabalharam comigo no Cruzeiro, que trabalharam comigo no Coritiba, então assim, eu só trouxe porque conhecia e trabalhei com eles. Então, conhecer o networking das pessoas é fundamental para você conseguir crescer na profissão.

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