(Washington Alves/Light Press/Cruzeiro)
Desde sempre, o torcedor do Cruzeiro é ensinado que super-heróis existem. Não, não se trata de personagens fictícios, como Superman, Homem de Ferro ou Mulher-Maravilha, mas de “seres sobrenaturais” de verdade, cujo superpoder era transformar o imponderável em uma pintura surrealista com a bola nos pés. Esses eram chamados de os “camisas 10”, que tantas vezes “salvaram o dia” de uma nação com feitos épicos imortalizados em forma de taças.
Ao longo das décadas, foi-se criada a mística do camisa 10 do Cruzeiro, que tem em Guerino Isoni seu primeiro representante oficial, a partir de 1950, início da numeração dos uniformes (história essa que virou até livro). Nem sempre, era a ‘10’ que esses legendários seres carregavam, mas levavam para dentro de campo a mesma missão: reger o meio-campo celeste. E aí, cada torcedor tem seu super-herói favorito: Tostão, Dirceu, Palhinha, Alex, Everton Ribeiro, Ricardo Goulart...
Só que o rebaixamento da Raposa para a Série B teve um efeito similar a uma Kryptonita, e a mística do camisa 10 caiu junto com o clube, como ilustrado desde o pênalti perdido por Thiago Neves – um herói que veio a se tornar vilão – no dia 28 de novembro de 2019, contra o CSA, no Mineirão. Depois daquela data, uma era de trevas passou a imperar na Toca.
Confirmado o descenso dos azuis, três rodadas depois, o Cruzeiro enfrenta dificuldades para encontrar seu ‘10’ ideal. Em 2020, primeiro ano do time na Segundona, a diretoria e os treinadores apostaram em vários candidatos a maestro; nenhum deles, deu conta do recado. Rodriguinho, Maurício, Pedro Bicalho, Everton Felipe, Régis, Stênio, Riquelmo e Giovanni constam na lista dos desafinados.
Em 2021, o problema volta a se repetir. A derrota por 1 a 0 para o América, no último domingo (21), ratifica essa dificuldade. Após testar Marcinho três vezes como titular (diante de Uberlândia, Caldense e Athletic) e acionar Claudinho em duas (URT e São Raimundo), o treinador arriscou uma improvisação com o lateral Alan Ruschel na função de armador ante o Coelho. Não deu certo!
Obviamente, a falta de um meia de qualidade não é a única das adversidades em um elenco que ainda carece de outros bons valores. No entanto, a centenária história do Cruzeiro não mente: em todo time campeão, havia um maestro; havia um herói.