Primeiro sobrevivente brasileiro da tragédia da Chapecoense a ter alta, o lateral Alan Ruschel concedeu entrevista coletiva na manhã deste sábado (17), após deixar o hospital na tarde de sexta, em Chapecó. Muito emocionado, ele disse não se lembrar do acidente, afirmou ser objeto de um "milagre de Deus" e projetou seu retorno aos gramados daqui a seis meses.
"Farei de tudo para voltar a jogar, com muita paciência. Mas farei de tudo para dar alegria ao Plínio [David de Nes Filho, novo presidente do clube], aos médicos, farei de tudo para dar alegria a esse pessoal aqui", afirmou Ruschel. "Eu calculei três meses para calcificar a coluna, já se passou um. E mais dois meses para fortalecer a musculatura. Estou só na capa."
A entrevista foi marcada por muitas lágrimas antes mesmo do início. Emocionado, o sobrevivente do acidente aéreo, que matou 71 pessoas, encarou como "milagre" o fato de estar vivo e de ainda poder andar.
"No momento em que caiu aquele avião, Deus me pegou no colo e falou que eu tinha mais missão aqui na Terra. Por isso, ele não me levou. A única explicação são dois milagres: eu estar vivo e eu poder estar andando. Os médicos falaram que foi uma lesão grave a que eu tive na coluna. Poder estar andando é um milagre de Deus", declarou.
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Abalado pela tragédia, na qual perdeu 19 companheiros de time, Ruschel disse conviver com uma "mistura de sentimentos", em razão da morte dos colegas e da alegria por ter sobrevivido.
"Não tem palavras para explicar o que estou sentindo. É uma mistura de sentimentos, uma alegria grande por poder estar aqui de novo, sentado aqui. Mas ao mesmo tempo é um luto, por ter perdido muitos amigos", declarou, sem conter o choro. "Postei foto esses dias, falando que seguirei em frente, honrando os que foram morar com Deus. Honrarei os seus familiares que aqui ficaram, que hoje estão sentindo dor."
Quanto ao acidente, o lateral disse não ter lembranças da forte batida contra um morro, a 30 km de Medellín, na Colômbia, onde a equipe da Chapecoense iria enfrentar o Atlético Nacional pelo jogo de ida da final da Copa Sul-Americana.
"Eu me lembro de sair de São Paulo, depois a gente estava chegando em Santa Cruz de la Sierra. Depois, me lembro de estarmos saindo de lá. Não me lembro do voo, do acidente. O que eu lembro, depois, é da minha esposa Marina falando no hospital", afirmou.
Ele revelou que mudou de assento antes do início do voo e acabou se sentando próximo a Jackson Follmann, que também sobreviveu ao acidente. "Quando a gente chegou em Santa Cruz de la Sierra, a gente ia pegar o voo fretado. O Cadu pediu para eu me sentar um pouco mais para frente, para deixar os jornalistas se sentarem no fundo. Na hora eu não quis sair dali. Aí, eu vi o Follmann e, por olhar para ele, ele (Follmann) insistiu para eu me sentar com ele. Aí eu saí de lá de trás e fui sentar com o Follmann. É uma parte que eu me lembro", declarou.
Por fim, Ruschel disse que encara o acidente como uma grande lição de vida. "Estava indo para um jogo e simplesmente você não sabe se vai voltar. Não sabe o que vai acontecer daqui a dez minutos. O que eu levo de lição é aproveitar a vida e fazer o bem. O que fizeram comigo durante esses dias não tem explicação. O jeito que me trataram na Colômbia e aqui no Brasil, o que os médicos fizeram por mim não tem explicação."
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