(Orlando Bento/Minas Tênis Clube)
Ela é o cérebro, as mãos e o coração da Seleção Brasileira e do time feminino de vôlei do Minas Tênis Clube. Medalhista de prata nos Jogos de Tóquio e atual bicampeã da Superliga, a levantadora Macris é um dos principais nomes da atualidade no esporte nacional e mundial.
Após subir ao pódio logo em sua primeira participação na principal competição do planeta, a jogadora se tornou uma das referências para o próximo ciclo olímpico, desta vez mais curto, de apenas três anos, até Paris 2024. Em paralelo ao trabalho na Seleção, Macris é peça-chave na missão do Minas de se manter no topo dos campeonatos.
Em um bate-papo com o Hoje em Dia, a levantadora abordou esses e outros assuntos, como o corte da oposta Tandara durante os Jogos de Tóquio, e também abriu o coração sobre a relação de mais de quatro anos com a exigente e apaixonada torcida minastenista. Orlando Bento/Minas Tênis Clube
Qual a sensação em conquistar uma medalha logo em sua primeira Olimpíada, após uma excelente competição?
É uma sensação mágica, de muita gratidão, porque realmente é um trabalho árduo. Desde criança, me dedico a esse esporte, a estar melhor e preparada para grandes desafios. Conquistar essa medalha foi algo incrível, não só pela medalha em si, mas também pela trajetória de superação e trabalho em grupo.
Como você viu o carinho e a comoção das pessoas com relação à sua lesão durante os Jogos Olímpicos?
Realmente foi incrível o tanto de mensagens e energias positivas de pessoas. Elas me mandavam apoio, torciam pela minha melhora e enviavam essas energias que, com certeza, fizeram toda a diferença para minha recuperação. Tanto carinho de todos do Brasil, mesmo à distância! Todas as meninas (jogadoras) do Brasil se uniram ainda mais e lutaram por mim quando eu não pude estar presente em quadra (N.R.: Macris retornou ao time nas quartas de final, na vitória sobre a Rússia).Divulgação/FIVB
Passados alguns dias, com a "poeira baixando", já é possível determinar o peso que a situação da Tandara teve na reta final da campanha da Seleção? (N.R.: A oposta Tandara foi cortada durante a Olimpíada de Tóquio por conta de 'potencial violação da regra antidopagem').
A ‘Tand’, sendo nossa companheira, fazendo parte da família e do grupo, de toda essa construção que fizemos ao longo do ciclo olímpico, é muito essencial. Todas as jogadoras têm seu papel e seu peso. Essa situação complicada foi um grande desafio para ela e para nós também, por não termos tido a presença dela como atleta dentro de quadra e como companheira. Então, tivemos que sair de uma situação muito difícil e nos unir, fazer nosso melhor por ela também. Ela nos deu toda a energia, todo o apoio, mesmo que à distância. Foi importantíssimo que, diante dessas situações adversas que passamos nos Jogos, nós, como grupo, soubemos nos fechar, nos unir e tirar isso de combustível para nos fortalecer, lutar ainda mais e buscar a vitória nos Jogos. Fica todo nosso desejo para que a Tandara possa provar a inocência dela e passar por esse momento da melhor maneira. Vamos estar sempre presentes para apoiá-la.
Com um ciclo mais curto do que o habitual para as próximas Olimpíadas, qual caminho a Seleção deve tomar para chegar forte nos Jogos de Paris?
A gente fica muito grata, claro, pela medalha de prata. Com certeza, todos os atletas buscam o lugar mais alto do pódio, que é a medalha de ouro. Mas também fica um indicativo daquilo que precisamos fazer para conquistar essa medalha de campeã. A gente sabe que precisa estar bem como grupo, de as 12 (jogadoras) ali presentes estarem em condições físicas, técnicas e mentais. É uma corrida olímpica necessária, com uma dedicação diária. É a gente focar para crescer no nosso voleibol. E, com certeza, os bons resultados vêm dessa preparação.
Acredita que é necessária uma renovação na Seleção neste momento, que é algo natural, ou que boa parte do grupo tem condições de chegar em alto nível em Paris?
Eu acredito que o que vai ditar o grupo, sendo necessária uma reformulação ou mantendo uma base, é a situação de cada jogadora em tal momento. Então, por isso, acredito que seja importantíssimo que todas busquem estar na melhor condição, na melhor performance, porque vimos exemplos de jogadoras jovens ou mais experientes tendo oportunidade na Seleção, e o que dita muito é o momento.
Como evitar a acomodação em um time, o Minas, que vem de grandes temporadas?
Cada ano vem com um grande desafio, um novo trabalho, novas peças se agregando ao time, e os adversários se reestruturando. O trabalho diário e a busca pela conexão, por aquela sinergia dentro de quadra, são importantíssimos. Com muito treino, muita paciência e muita vontade.Orlando Bento/Minas Tênis Clube
Como principal pensadora do time dentro de quadra, como avalia essas mudanças no elenco para esta temporada?
Essa análise da mudança vai vir com o tempo, sentindo como cada jogadora está se conectando com o time e reagindo em uma nova temporada. Fica difícil fazer uma análise neste momento, mas vejo que sempre vamos buscar um estilo de jogo, de velocidade, porque essa é a tendência mundial. Acredito que a equipe, para conseguir bons resultados, tem que tentar se fortalecer a cada ano naquilo que é a exigência dos campeonatos e dos maiores desafios e buscar uma identidade que traga esse algo a mais.
Neste momento, quais equipes que você aponta como principais adversárias do Minas na disputa pelos principais títulos?
Nós, por estarmos conquistando os títulos nos campeonatos, nos tornamos alvo das outras equipes. Então, a gente sabe que contra qualquer time será sempre um jogo muito perigoso. Só saberemos quem são os principais adversários pelo desempenho de cada um no campeonato. Mas, historicamente, sempre houve muitos confrontos com o Praia Clube em campeonatos mineiros – e que provavelmente teremos pela Supercopa.
Você tem o desejo de atuar no voleibol do exterior? Caso sim, em qual país ou liga em especial?
Acredito que será necessária essa ida para o exterior, para adquirir essa bagagem que novos desafios podem trazer. A princípio, sempre tive a preferência por estar no Brasil, de crescer dentro do país, e me identifiquei muito com o trabalho feito no Minas. É uma estrutura incrível, com uma linha de trabalho que tem me auxiliado muito a crescer como jogadora. Então, estou muito feliz no Minas. Mas talvez, mais para frente, eu busque essa possibilidade de jogar no exterior para somar a essa bagagem. A princípio, eu pensaria em jogar na liga italiana, que é um dos campeonatos mais fortes do mundo. São jogadoras de nível internacional que participam do campeonato. Orlando Bento/Minas Tênis Clube
Quais os principais impactos dentro de quadra em um jogo sem público? Quais os pontos negativos e positivos (se houver)?
Realmente o público faz muita diferença, faz muita falta no jogo. Inicialmente, trouxe muitas diferenças para nós, atletas, no momento que sucede um ponto. Acredito que para muitos tenha sido necessária uma preparação mental para entender que quando a gente entra em quadra para o aquecimento já é diferente, por não ter a torcida, independentemente se é a nosso favor ou a favor do adversário. Para muitos, isso impactou negativamente e exigiu que todos se adaptassem a essa situação. Nossa torcida sempre mandava boas energias e se tornava nosso sétimo jogador dentro de quadra. Faz muita falta não ter isso nos jogos. Talvez, para algumas pessoas, tenha sido um ponto positivo, por não ter uma torcida adversária pegando no pé, tentando desequilibrar emocionalmente. Porém, para a maioria, não ter essa conexão descaracteriza os jogos, o esporte em si. Espero que o quanto antes tenhamos de volta essa interação.
Além dos títulos, sua personalidade, seu carisma e sua liderança a fizeram cair nas graças dos torcedores do Minas. Qual sua relação com o clube e com um torcedor tão apaixonado por voleibol como o minastenista?
Foi incrível conhecer essa torcida, que a gente sabe que é apaixonada, que vai e se entrega a cada partida. Antes, quando jogava como adversária, sofria com a pressão dessa torcida que vai junto com sua equipe, enviando sempre as melhores energias. Desde que cheguei ao Minas, me identifiquei mesmo com toda essa energia. Sempre houve uma troca muito positiva. Eu até venci barreiras de uma certa timidez, de ficar mais contida nos jogos, e a torcida me estimulou a comemorar com ela. É algo muito positivo estar ali diante dessa torcida. Sabemos que é um torcedor muito exigente também (risos), e a gente se esforça a cada dia para dar nosso melhor, assim como a torcida.