(CRISTIANO ANDUJAR/CBT/Divulgação )
Atual número 12 do ranking de duplas da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), o mineiro Bruno Soares, de 33 anos, aproveita a pausa na agenda de jogos para descansar na Califórnia e curtir o primogênito Noah, de apenas um mês. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Bruno fala dos bastidores da derrota brasileira para a Argentina na Copa Davis, em Buenos Aires, na semana passada. O tenista, que deverá representar o Brasil como duplista na Olimpíada do Rio-2016, ao lado do também mineiro Marcelo Melo, conta quais são os planos para a temporada e não garante que jogará o Aberto da Austrália de 2016 com Melo. O Brasil esteve perto de eliminar a Argentina em Buenos Aires na Copa Davis, com 2 a 1 no placar de jogos após a sua vitória em duplas com o Marcelo, mas tomou a virada com as derrotas em simples de Feijão e Bellucci. O jejum de 14 anos sem passar da primeira fase do grupo mundial pesou ou perdemos para a pressão da torcida argentina? Nossa equipe no papel é igual ou pior que muitas que enfrentamos. Levando isso em consideração, estamos fazendo um grande trabalho. A nossa equipe está cada vez melhor e já conseguimos grandes vitórias, como aquela diante da Espanha, no ano passado. Descreva o clima e o ambiente hostis vividos por vocês em meio aos confrontos na Argentina. Não vou te falar que o clima foi hostil. Teve um clima de provocação, mas as ofensas pesadas saíram da boca de uma minoria. Eles cantaram, fizeram bagunça o tempo inteiro, mas isso já era esperado. Nossa torcida faz o mesmo no Brasil. Nossa torcida também estava lá e deu um show. No geral, num Brasil x Argentina, foi um espetáculo muito bacana. O Feijão acusou os torcedores argentinos de racismo durante a Davis. Como foi? Testemunhou isso? Foi um caso à parte. Duas ou três vezes, mas víamos que era a mesma pessoa gritando coisas para o Feijão, faltando com o respeito. Sabemos que isso não cabe no esporte, mas não podemos culpar a torcida inteira da Argentina. Para os integrantes do time, como você, como foi acompanhar o duelo do Feijão com o Leonardo Mayer, que durou 6h42 e se tornou o mais longo da história da Davis? Estive ali o tempo inteiro, ao lado da quadra, apoiando o Feijão. O que esses dois caras fizeram foi algo desumano. Quem presenciou o calor e a umidade, mais a pressão de disputar uma Davis, viu um duelo fantástico. Ficamos emocionados por fazer parte. Temos que tirar o chapéu para os dois. Foram dois guerreiros que deixaram tudo em quadra. Após a derrota de Feijão, Bellucci perdeu o jogo decisivo, quando o confronto estava 2 a 2. Como ele reagiu à derrota e como foi o apoio de vocês? Foi uma derrota dura. É muito difícil ter que decidir na Davis. Ele é experiente, às vezes é criticado por ser um cara mais fechado, mas provou contra a Espanha, ano passado, o que é capaz de fazer. Infelizmente, neste ano não conseguiu fazer aquilo que é capaz. Talvez a confiança não esteja em alta. Mas temos que destacar o que o adversário dele fez em quadra. Você, antes de se dedicar exclusivamente às duplas, começou em simples. Acredita que tomou a decisão certa ou se pega perguntando como teria se saído em simples nesses anos? Tenho certeza de que tomei a decisão certa. Joguei simples durante cinco anos até me lesionar. Eu tinha um potencial legal, mas não acredito que seria um jogador top, estando entre os 80 ou 100 do mundo. Optei pelas duplas por sempre gostar muito. Fui em busca disso para ver até onde poderia chegar. Tudo aconteceu de uma maneira tão rápida e boa, que não tem como pensar em algo diferente. Quais são os planos para esta temporada? Seguirá jogando com o austríaco Alexander Peya, seu parceiro nos últimos anos? Ficarei com ele até o restante da temporada. Vai jogar este ano novamente com o Marcelo somente na Davis? A nossa ideia é começar a jogar alguns torneios, quando for possível. Como dupla, eu com o Alexander e ele com o Ivan (Dodig) temos outros objetivos. O deles é classificar para o ATP Finals. Quem sabe em julho podemos deixar tudo encaminhado para separarmos do nossos parceiros para isso. Vocês formam a dupla brasileira para o Rio-2016. Não seria interessante jogarem mais juntos este ano? Essa preparação já existe desde 2012. Somos de Belo Horizonte e treinamos juntos com os mesmos profissionais. Nos conhecemos há 20 anos e não vemos esta necessidade de competir juntos sempre. Provamos na Copa Davis que o entrosamento está sempre lá. Jogarão mesmo juntos o Aberto da Austrália em 2016? Jogando como dupla a gente ainda não sabe. Para o ano que vem é difícil a gente programar tão longe assim. Você é bem sucedido também em duplas mistas, nas quais é bicampeão do US Open (2012 e 2014). Qual a diferença no jogo quando seu parceiro é uma mulher? O estilo é bastante diferente. Na dupla mista, querendo ou não, tem um pouco menos de força. A grande coisa da dupla mista é saber usar as qualidades de ambos. Depois é como saber encarar os adversários. Mas é um jogo muito interessante e eu, particularmente, gosto muito desses jogos. Por que não vemos uma mulher se destacando no tênis brasileiro? Depois de Maria Ester Bueno, nenhuma outra conseguiu se destacar... Maria Ester tem 19 Grand Slams e isso não veremos nunca mais. O Brasil passou um tempo muito grande sem uma grande jogadora, mas o que eu sinto é que isso vem mudando. A Bia (Haddad), por exemplo, é uma das grandes promessas e acho que pode figurar entre as 20 melhores do mundo. Você soma cerca de R$ 8 milhões em premiações em quase 14 anos de carreira. Parece muito para alguns, mas é uma luta, não? Exatamente. A gente começa a gastar dinheiro quando tem 16 anos. Até conseguir ser lucrativo é uma luta muito grande e um prejuízo muito grande. Cada jogador é dono da sua própria empresa. Eu, por exemplo, pago o salário do treinador, preparador físico, fisioterapeuta, nutricionista e outros profissionais. Os gastos são muito grandes. Os números acabam enganando bastante. Nos três últimos anos, não posso reclamar porque foram muito bons financeiramente, mas isso não é sempre que acontece. Atualmente, quantos patrocinadores investem em você? Tenho atualmente oito patrocinadores. E o seu Cruzeiro em 2015? Tem chance na Libertadores? Será tri do Brasileiro? Acho que vai ser um ano mais complicado. Saiu muita gente e é difícil falar. O Cruzeiro de 2013 e 2014 tem um dos melhores times que eu já vi, assim como o de 2003. Com a saída de algumas peças importantes, a coisa muda muito. Mas tomara que dê certo.