Especialista aponta pontos positivos e negativos da Copa e Olimpíadas

Bruno Moreno - Hoje em Dia
04/03/2013 às 08:38.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:32
 (Maurício de Souza)

(Maurício de Souza)

Atualmente, o orçamento dos megaeventos que serão realizados no Brasil, até 2016, superam os R$ 41 bilhões. Esse dinheiro está sendo utilizado para que a Copa das Confederações, o Mundial de 2014 e as Olimpíadas coloquem e reafirmem a posição do Brasil nos mapas esportivo, econômico e político mundiais.

Mas a maior preocupação do país, além de receber com competência os eventos, deve ser também com o legado. A afirmação é do professor Holger Preuss, da Universidade de Mainz, na Alemanha, uma das maiores autoridades do assunto no mundo.

Preuss esteve em Belo Horizonte para participar, na Fundação João Pinheiro, do Encontro Regional Preparatório da V Mineps (Conferência Internacional de Ministros e Oficiais de Esportes), que será realizada em Berlim, em maio. Os temas da Mineps, organizada pela Unesco e o Ministério do Interior da Alemanha, são acesso aos esportes como direito fundamental, promoção e investimento em programas esportivos e de educação física, e preservação da integridade dos esportes.

Neste último tópico, serão discutidos meios de combate à corrupção nos esportes, principalmente o match fixing, compra de resultados nos esportes, favorecendo um pequeno grupo.

Entre uma palestra e outra, na última terça-feira, o professor concedeu entrevista exclusiva ao Hoje em Dia.

Que tipo de legado teremos no Brasil por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas?

Certamente, há a infraestrutura esportiva nova, mais cedo. A reforma dos estádios, em si, não é um legado, mas, sim, a reforma antecipada. O Brasil é um país fascinado por futebol e, em algum momento, os estádios seriam reformados. Talvez haja um superdimensionamento, em Manaus, ou em algumas regiões em que não há necessidade de estádios tão grandes. Mas em muitos dos estádios, como em Belo Horizonte, não haverá problema. Em segundo lugar, em relação à infraestrutura, talvez haverá uma mudança relacionada a estradas, parques e melhorias em hotéis e assim por diante.

Aeroportos?

Sim, aeroportos. Eu ouvi que vocês têm muitos problemas com aeroportos. Mas, novamente, a questão é que a construção ou a ampliação de aeroportos teria acontecido de qualquer forma. Então, a pergunta é se isso é um legado ou não. O legado é que, certamente, as obras acontecem mais rápido. Mas o legado negativo é que, por serem feitas mais rápido, custarão mais. Então, você tem que pensar que pagou 20% ou 30% a mais, mas que terá um desenvolvimento mais rápido. Em cinco ou dez anos, você poderá ganhar muito dinheiro por ter uma infraestrutura melhor.

Em que mais?

Temos o conhecimento de universidades, de estudantes que pesquisam o tema; há muitos voluntários que recebem treinamento de segurança; há muitos hotéis que empregam cozinheiros e pessoal de serviços; servidores públicos. Até mesmo os lixeiros recebem algum treinamento. Há muito potencial no campo do conhecimento.

E nas relações profissionais e políticas?

Não há apenas as relações de esportes, mas também as políticas e de negócios. Depois, temos as emoções, que são relacionadas ao momentum. Acredito que haverá muitas memórias criadas e relacionadas a toda a população. Espero que Brasil jogue bem na Copa do Mundo. Do contrário, podem haver não tão boas recordações. Mas, ainda assim, há o orgulho nacional. E, por último, é a imagem. Haverá gente de todo o mundo assistindo à Copa do Mundo, e turistas podem vir para cá. Um legado negativo que pode ficar é se algo ruim acontecer (um atentado terrorista, por exemplo), o que é sempre um risco. Todos estão olhando para você e também olham pelo lado negativo. Os milhares de jornalistas que virão aqui irão querer mostrar reportagens interessantes. E, certamente, poderão ser reportagens que você não quer promover, como crimes, favelas, corrupção. Mas posso te dizer que, quando começam os esportes, a atmosfera é muito positiva.

Qual deve ser a preocupação do Brasil com relação à Copa do Mundo e às Olimpíadas?

Definitivamente, haverá escândalos de ingressos. Muitas pessoas não conseguirão comprar, ou o preço será muito alto. Em segundo lugar, muitos ficarão desapontados de alguma forma, porque há uma super-expectativa de que milhões de turistas virão e todos os hotéis farão muitos negócios, e não serão tantos assim. A estratégia é como o dinheiro é usado para criar a imagem da cidade ou do país. Isso é um legado verdadeiro. Mas o desapontamento virá com a super-expectativa.

O que o senhor acha que o Brasil deve fazer para tirar o melhor da Copa e das Olimpíadas?

Ter planos. Você tem que planejar agora. A Copa já é amanhã, mas para as Olimpíadas ainda dá tempo ou para a Exibição Mundial de 2020 (à qual São Paulo está pleiteando). Deve ser gasto muito tempo com planejamento. Pode ser inteligente fazer com que Belo Horizonte seja mais atrativa para os turistas. Isso significa mais custos em equipamentos, como museus, que não estão ligados diretamente à Copa do Mundo. Mas, para se ter um bom legado é preciso realizar atividades extras que custam dinheiro. Você pode usar a Copa do Mundo para construir algo que alimente a cadeia de negócios do turismo e criar mais postos de trabalho.

Mas ainda temos tempo?

Sim. Há muitos projetos em diferentes níveis e, certamente, muitos podem ser feitos em curto espaço de tempo. Por exemplo, convidar jornalistas internacionais para virem ao Brasil, além de construir museus ou exibições interessantes.

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