Estados Unidos investem forte e descobrem a febre do futebol

Felipe Drummond Neto e Felipe Torres - Hoje em Dia
10/08/2014 às 09:08.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:43
 (AFP)

(AFP)

“Yes, we can”. Sim, ninguém duvida que eles possam. Quando os norte-americanos colocam um projeto em prática, o sucesso midiático torna-se questão de tempo, tamanho o poderio econômico e a mobilização social na “Terra do Tio Sam”. Tratando-se de esporte, então, o boom impressiona.

Os Estados Unidos, até pela rivalidade histórica com os ex-colonizadores ingleses, “reinventaram” o próprio futebol e renegaram o chamado soccer. Mas quando o país recebeu a Copa do Mundo, em 1994, os investidores perceberam que era hora de abrir os olhos para os craques com a bola nos pés. Não havia porquê a atividade esportiva de maior alcance no planeta estar tão distante do principal mercado financeiro do globo.

Os yankees agiram. Duas décadas depois, a Major League Soccer (MLS), a Liga Americana de Futebol, já é a oitava em média de público entre os 20 principais campeonatos do mundo, com quase 19 mil torcedores por partida, deixando para trás torneios tradicionais, como o próprio Brasileirão.

São 19 times, incluindo três de origem canadense, na atual temporada da MLS. O número passará a 21 em 2015, com a chegada de New York City e Orlando City, que apostam em “velhas” estrelas dos gramados.

O representante da Big Apple trouxe o inglês Lampard e o espanhol David Villa. O time da Flórida fechou com o brasileiro Kaká. O interessante é que a MLS estipula um teto salarial aos atletas, de cerca de R$ 7 milhões. Porém, três peças de cada time podem ganhar mais, estratégia adotada para atrair nomes de peso.

Durante a apresentação de Kaká, o dono do Orlando City, o empresário carioca Flávio Augusto da Silva, declarou que sonha em ter 40 milhões de torcedores, no patamar de Flamengo e Corinthians. Para isso, quer “catequizar” os fãs do soccer que ainda não decidiram qual equipe apoiarão.
 
Bom nível técnico

A MLS também já chama a atenção pela qualidade. Na última quarta, a seleção do campeonato, a MLS All Stars, bateu o Bayern de Munique, por 2 a 1, em amistoso. Os vencedores contaram com astros como Donovan, Henry, Tim Cahill e Dempsey.

Por sua vez, um confronto de exibição entre Real Madrid e Manchester United, semana passada, levou 109.901 espectadores ao Michigan Stadium, em Amm Harbor. Bem ao estilo do público dos EUA, os duelos do soccer são complementados por eventos de entretenimento.
 
Primeira ‘revolução’ foi com Pelé
 
Assim que Pelé desembarcou em Nova Iorque, os fãs foram à loucura. O Rei tornou-se ídolo no país ao vestir a lendária camisa do Cosmos na década de 1970, na tentativa de se popularizar o soccer.
 
O eterno camisa 10 canarinho atuou ao lado de craques como Carlos Alberto Torres, alemão Franz Beckenbauer e o italiano Giorgio Chinaglia. Outros times seguiram o mesmo caminho. O Los Angeles Aztecs, por exemplo, levou o inglês George Best e o holandês Johan Cruyff.
 
Em 1977, Pelé conquistou a então melhor liga dos EUA, a North American Soccer League (NASL), que ainda existe. A aposentadoria foi num amistoso entre Cosmos e Santos, naquele ano, com o gênio atuando um tempo em cada time.

Busca por audiência

Os atuais investidores do futebol nos EUA acreditam que em até 10 anos a MLS será uma das mais badaladas ligas em todo o planeta. Para isso, prometem seguir apostando em nomes de peso e na formação de novos atletas. As universidades, imprescindíveis na formação de jogadores locais, trabalham em conjunto com as franquias.
 
A Fifa, inclusive, pressiona para que a MLS adote o calendário europeu, o que facilitaria o intercâmbio de atletas e encaminharia acordos comerciais, na busca por audiência.

Porém, a Confederação Norte-Americana de Futebol (NAFC) se mostra cautelosa. A troca geraria a concorrência direta com as ligas de basquete, futebol americano, hóquei e beisebol, modalidades muito tradicionais na “Terra do Tio Sam”.
 
Interesse não surgiu do dia pra noite
 
Quem acompanha o futebol nos EUA de perto diz que a popularização não acontece apenas no âmbito profissional. Há cinco anos país, o belo-horizontino Alysson de Almeida Mohl garante que o esporte vem ganhando cada vez mais adeptos.

“O que aconteceu na Copa (recorde de audiência) foi apenas uma demonstração do potencial desse esporte. Os norte-americanos gostam mais e praticam o futebol”, garante ele, que jogou nos torneios universitários.

Formado em business pela Junior Union University, no Tennessee, Alysson acredita que a modalidade já ultrapassou o hóquei na preferência popular e está próxima de superar o beisebol.

“As faculdades estão levando muitos adolescentes de outros países para atuar e estudar lá. Esses jogadores podem participar do Draft e passam a integrar os times da MLS”, explica.

O torneio de futebol segue o mesmo padrão das tradicionais ligas dos EUA. O rebaixamento não existe, e o campeonato é dividido em duas conferências (Leste e Oeste). Os melhores de cada uma se enfrentam na fase seguinte.
 

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por