Formiga é a primeira mulher a ter as pegadas eternizadas no Mineirão. (Pedro Vilela/Agência i7/Mineirão)
Aos 44 anos, sendo 26 deles dedicados à Seleção Brasileira, Formiga se aposentou da equipe verde e amarela, mas ainda traça grandes projetos para sua carreira e para o futebol feminino. Nessa terça-feira (15), a volante foi homenageada no Mineirão e tornou-se a primeira mulher a gravar os pés na Calçada da Fama do estádio. Ela aproveitou o evento para comentar sobre a modalidade no Brasil, sua visibilidade e ainda revelou alguns de seus planos.
Largar o futebol não é uma opção para a eterna camisa 8. Ser treinadora, gestora ou comentarista são possibilidades que ela está considerando. Formiga já tinha comentado anteriormente que encerraria sua carreira neste ano, pelo São Paulo. No entanto, o desejo mudou.
“Acho que estou adiando minha aposentadoria”, contou. "Estão surgindo coisas e propostas que estou estudando. Quero fazer o curso para treinadores ou para gestão. Talvez eu vá me encaixar melhor na gestão, justamente por estar ali dentro brigando, buscando melhorias. Sabendo um pouco de cada coisa, vai me ajudar bastante. Espero estar contribuindo”, acrescentou.
Formiga já recebeu propostas para ser comentarista e até narrar partidas na Copa do Mundo de 2022. “Espero um dia estar falando sobre futebol masculino. É importante também para nós, mulheres e ex-jogadoras, termos essa oportunidade. O convite já chegou, mas (a resposta) é segredo de estado”, disse em tom de brincadeira.
Sonhos
A lista de feitos da jogadora é extensa: são sete participações em Copas do Mundo e outras sete em Jogos Olímpicos. Pela Seleção Brasileira, conquistou medalhas de prata nos Jogos de Atenas, em 2004, e Pequim, em 2008. Em 2007, obteve o vice-campeonato mundial.
Mesmo com tantas façanhas, Formiga afirmou que ainda vive de sonhos. E aquilo que ela não conseguiu realizar como atleta, pretende alcançar ocupando outra função.
“Sonhos eu tenho muitos, jamais vou deixar de sonhar. Um sonho que ainda tenho é ganhar a medalha de ouro, ser campeã mundial para ajudar essa modalidade. Não foi possível enquanto estava jogando, mas talvez ali, na beirada do campo, estando na gestão da Seleção, eu consiga isso, mas vou correr atrás desse sonho”, projetou.
Seleção Feminina atual
Formiga se despediu da Seleção em novembro do ano passado, em uma goleada do Brasil, por 6 a 1, sobre a Índia, em Manaus. A camisa 8 esteve presente em diferentes momentos da equipe e, agora, olhando “de fora” faz uma análise do atual período das Canarinhas.
“A Seleção é renovação. Temos uma técnica estrangeira que está colocando muitas coisas positivas, mudando nosso jeito de jogar, mas de maneira alguma nos impedindo de ter nossa alegria e habilidade. Uma dificuldade que vejo é que a maioria das nossas atletas principais estão atuando fora do país. Quem dera se nosso país conseguisse manter nossa base aqui, treinando mais e facilitando o contato com a treinadora. Mas acredito que estamos evoluindo. Há o que ajustar, isso é questão de tempo, confiar no trabalho e não deixar a qualidade técnica cair. Espero que o Brasil continue em alta e disputando com grandes seleções”, comentou.
Mercado Publicitário
Formiga tocou em um assunto pertinente frente à luta por reconhecimento da modalidade feminina: o apoio de marcas publicitárias, porém, com utilização de narrativas vazias, pouco práticas. A atleta entende que nos dias atuais, estar nas mídias digitais é uma forma de ganhar visibilidade e que essa ferramenta deve ser uma responsabilidade dos clubes.
“Eu vejo que o clube tem um papel muito importante. A gente vive na era da internet, as redes sociais trazem muita visibilidade. As federações precisam enfatizar isso, fazer um planejamento. As marcas têm que acreditar e apostar realmente na mulher. E se o clube não fizer seu papel e virar as costas, não colocar nas redes sociais as coisas boas sobre futebol feminino, talvez a gente não atinja o nível que precisa em relação a patrocínio”, comentou.
“Trabalho de Formiga”
A atleta relembrou dos tempos em que começou sua carreira no futebol de várzea e contou o que gostaria de dizer à Formiga de 15 anos de idade.
“É muito gratificante saber que minha luta não foi em vão. Que todas essas dificuldades que passei sirvam de combustível. Nada é fácil, mas a gente precisa continuar acreditando e lutando por seu espaço. Eu agradeceria a Formiga do passado por ser resistente, guerreira e passar pelas barreiras, sempre pensando positivo, grata por tudo que passou e se manteve firme, pois não foi fácil. Mesmo devagarinho, as coisas estão mudando”, disse.
“Quando as pessoas adentrarem o mundo futebol feminino vão entender o porquê de a gente pedir apoio e respeito. É muito precário. Mas toda essa dificuldade serve de parâmetro para que, quando atingirem o nível máximo de atleta, saibam o valor que têm que dar quando estiverem em um estádio como esse (o Mineirão). A parte da várzea é boa porque dá uma estrutura bacana para todas as atletas, não só para valorizar suas histórias. A várzea ensina a respeitar o próximo e ter disciplina”, pontuou Formiga.
Calçada da Fama
Em cerca de 56 anos de Mineirão, 23 homens foram homenageados e tiveram seus pés gravados no Mineirão. Formiga foi a primeira mulher a ser eternizada no estádio e se emocionou com o feito: “fico muito feliz de ser a primeira mulher negra em um dos estádios mais importantes do país. É claro que isso me enche de orgulho e de vontade de continuar na luta. Quero que outras mulheres tenham a oportunidade de cravar os pés aqui. Neste momento estou feliz, me faltam até palavras. Fui pega de surpresa”.
A pegada da jogadora ficará exposta no Museu do Futebol, dentro do Mineirão, inaugurado em 2013.