A crise no futebol brasileiro não está só dentro de campo. Uma apuração do FBI, a mais famosa agência de investigação norte-americana, deve levar ao indiciamento nos próximos dias de outros executivos da CBF, Fifa e Conmebol. Entre eles pode estar o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, acusado de pertencer a um esquema milionário de recebimento de propinas.
Como a investigação corre em sigilo absoluto, o FBI se limitou a confirmar que dois brasileiros estão na lista. Além de Del Nero, o outro seria Ricardo Teixeira, que comandou a CBF de 1989 a 2012, quando renunciou ao cargo após várias denúncias de corrupção. O FBI entrou no caso porque muitas movimentações foram feitas em bancos norte-americanos.
Del Nero bate o pé e garante que não entrega o cargo. Mas os bastidores da CBF estão aquecidos. Se o destino dele for o mesmo de Marin, preso em maio, Delfim Peixoto, de 74 anos, vice mais velho e adversário de Del Nero, assume a cadeira. Caso o atual presidente peça licença por seis meses, pode indicar um dos cinco vices. O nome de confiança de Del Nero seria o do deputado federal capixaba Marcus Vicente (PP-ES), que consultou a Câmara para saber se poderia conciliar as duas funções, o que provocou mal-estar na entidade.
Propina de R$ 2 milhões
Entre outras irregularidades, Del Nero é acusado de ter recebido propina junto com Marin de direitos de transmissão da Copa do Brasil, esquema que existiria desde 1990, quando Teixeira era o presidente. As investigações do FBI sugerem que, de 2012 para cá, o trio Marin, Del Nero e Teixeira teria recebido R$ 2 milhões por ano só neste esquema.
O relatório do Departamento de Justiça Norte-Americano diz que “os comparsas corromperam o negócio através de diversas atividades criminosas, incluindo fraude, suborno e lavagem de dinheiro. Para montar o esquema, os acusados recebiam propinas da comercialização dos direitos de mídia e marketing de partidas e torneios da Copa do Brasil, Copa do Mundo, Copa Libertadores e Copa América”.
Cargo ameaçado na Fifa
Por causa das constantes ausências em reuniões da Fifa e Conmebol, a entidade sul-americana estuda a possibilidade de tirar Del Nero do cargo que ocupa no Comitê Executivo da Fifa. Caso não participe do próximo encontro na Suíça, dia 27, será a nona ausência do presidente da CBF em compromissos oficiais. E o dirigente já indicou que não deve mesmo viajar.
Desde que Marin – de quem era um dos vices – e outros executivos foram presos, em 28 de maio, na Suíça, Del Nero trocou o estilo bon vivant por uma vida mais discreta. Uma de suas poucas aparições públicas foi na última quinta-feira na convocação do Brasil para as eliminatórias da Copa do Mundo da Rússia, em 2018.
Questionado sobre as ausências, Del Nero se esquivou. “Estamos tratando da convocação da Seleção Brasileira. No momento oportuno falaremos sobre isso, em outra coletiva”.