Fernando Alonso e a conquista da América em Indianápolis

Rodrigo Gini
Hoje em Dia - Belo Horizonte
25/05/2017 às 19:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:43

Foram necessárias quase quatro décadas e um bocado de insatisfação de um dos mais talentosos pilotos da atual geração para que um titular da Fórmula 1 resolvesse cruzar o Atlântico e encarar as 500 Milhas de Indianápolis. Se era normal que craques como Graham Hill e Jim Clark encontrassem disponibilidade na agenda para desafiar os especialistas norte-americanos no oval mais famoso do mundo, com o tempo as exigências do “circo” e a coincidência de datas com o GP de Mônaco, tornou-se algo cada vez mais raro. Situação que Fernando Alonso vai reescrever domingo, às 12h (de Brasília), quando ouvir, pela primeira vez, a famosa ordem: “senhoras e senhores, liguem seus motores”.

Basta perguntar a outros campeões como Emerson Fittipaldi ou Alain Prost e a resposta será quase unânime: o asturiano, melhor do mundo em 2005 e 2006, com seu estilo cerebral, é mais completo do que Lewis Hamilton ou Sebastian Vettel. Mas o fim do ciclo na Ferrari, em 2014 ­– chegou a jurar que se aposentaria pelo time de Maranello –, acabou não trazendo o efeito esperado. De volta à McLaren, por onde passou apenas um ano (2007, saindo devido ao duelo interno com o então estreante Hamilton), confiava na capacidade da Honda de produzir uma unidade de potência à altura da tradição. A parceria chega ao terceiro ano ainda sem grandes resultados (os poucos lampejos são mérito do talento do espanhol).

A saída de Ron Dennis do comando da escuderia britânica e a efetivação do norte-americano Zak Brown como homem do marketing foram a centelha que faltava para o desafio inédito. Alonso não tem nada a perder por ficar fora do GP de domingo, enquanto a Honda oferece uma espécie de compensação pelo rendimento decepcionante na F-1, colocando o piloto de Oviedo no time campeão ano passado, a Andretti Autosport, parceira da McLaren na operação do carro 29.

Que Alonso se adaptaria com facilidade e em poucos treinos se sentiria em casa a mais de 370km/h não era propriamente uma surpresa, assim como o interesse provocado por sua participação. No primeiro contato com o “novo mundo”, dia 3, havia, em média, mais de 70 mil pessoas por minuto em todo o mundo à frente de uma tela esperando por seus primeiros metros de pista.

Em menos de duas semanas, o espanhol passou do seu limite para o limite do carro, a ponto de afirmar que teria lutado pela pole caso um excesso de pressão no turbo não tivesse acionado a válvula limitadora na sua tentativa de qualificação. Ainda assim, sai numa promissora quinta posição entre os 33 que largam, com média de 372,16km/h. E sabe, por toda a inteligência de quase três décadas acelerando, que o que importa é estar entre os primeiros nas 30 voltas finais, quando a corrida realmente se decide. Entre os rivais eventuais, não é visto como um forasteiro abusado, mas como candidato real à vitória.

Longe de ser o mais simpático do grid, Alonso se mostrou supreendentemente paciente e animado para um calendário de eventos paralelos que envolveu centenas de autógrafos, visita a Nova York, compromissos com patrocinadores, entrevistas e participação em gincanas escolares. O mundo da velocidade sabe que Fernando Alonso, motivação, novo desafio e um equipamento de ponta formam uma combinação explosiva. O automobilismo agradece.

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