Fiasco da Seleção na Copa do Mundo colocou treinadores na berlinda

Guyanne Araújo - Hoje em Dia
17/08/2014 às 12:11.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:49

Quando a Seleção Brasileira perdeu para a Alemanha por 7 a 1, em 8 de julho, pelas semifinais da Copa do Mundo, no Mineirão, o sonho do hexacampeonato se transformou numa dura realidade. Se para alguns foi surpresa, para outros a goleada foi um duro aviso. Não pelo placar, mas pelo desempenho dos comandados de Luiz Felipe Scolari em campo. O certo é que o banho de aula tática que os brasileiros levaram no Mundial é só a ponta do iceberg do momento vivido pelo nosso futebol.

Na análise do correspondente da BBC na América do Sul, Tim Vickery, o futebol brasileiro se esqueceu do que deu certo nos cinco títulos Mundiais. “Aprende-se mais na derrota do que na vitória. As cinco Copas viraram um escudo ao desenvolvimento. A partir do momento em que o Brasil começou a conquistar títulos mundiais, perdeu um pouco da curiosidade e da mente aberta”, analisa.

Para Vickery, a “decadência” da Seleção não está isolada do futebol atual. Ele acusa o calendário brasileiro, ponderando que os técnicos não têm muito tempo para apresentar resultados.

“O longo prazo para os técnicos apresentarem resultados é um mês. O futebol brasileiro desenvolveu uma forma tática quando o técnico tinha mais tempo de emprego. Hoje, o time tem obrigação de ganhar para sustentar o clube”, diz.

O correspondente, entretanto, não tira o dever dos técnicos. “Os treinadores trabalham num contexto difícil. Mesmo assim, são responsáveis pelas faltas de ideias”, completa.

Com o fim da Copa, a discussão sobre a qualidade dos técnicos brasileiros, pelo menos em termos táticos, reascendeu. No cenário mundial, os brasileiros estão perdendo espaço para concorrentes sul-americanos no maior e melhor mercado do futebol, o da Europa.

O chileno Manoel Pellegrini, no Manchester City, e o argentino Diego Simeone, no Atlético de Madrid, são apenas dois exemplos de treinadores sul-americanos que foram adotados pelo futebol do Velho Mundo.

“Não temos nenhum técnico brasileiro trabalhando em alto nível no futebol europeu. Aos brasileiros faltam competência e ambição. O futebol brasileiro não é apto a competir no cenário global, ficou ultrapassado”, aponta Vickery. Ele salienta ainda que, apesar da vantagem financeira em relação aos concorrentes, nenhum clube se classificou para as quartas de final da Libertadores.

Para melhorar

Atual comandante do Goiás e autor do livro “O Universo Tático do Futebol - Escola Brasileira”, Ricardo Drubscky, que é formado em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que, pelos jogadores em atividade hoje, o Brasil teria condições de fazer frente às grandes seleções mundiais. Mas com outro sistema de jogo: o coletivo.

“Não estamos deficitários, o jogo é que mudou. Temos que fazer com que esses atletas joguem o coletivo. Nosso jogo está baseado na individualidade. E isso é responsabilidade dos treinadores”, avalia.

Drubscky ainda lista fatores que contribuem para a atual situação do futebol brasileiro, como a falta de regulamentação da profissão de técnico e a capacitação do profissional. “É tudo uma conjuntura. É gestão, imprensa especializada, torcida, tudo. Colocar a culpa só em cima de treinadores e jogadores é sacanagem”, argumenta.

O técnico Enderson Moreira, que recentemente deixou o comando do Grêmio, concorda com Drubscky. Por outro lado, em relação ao resultado da Copa, ele se mostra cauteloso: “Não podemos transformar tudo por um resultado ruim, inesperado. É preciso reconhecer que há coisas boas sendo feitas”.

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