Uma das principais bandeiras do governo brasileiro para justificar os exorbitantes gastos federais, estaduais e municipais com a organização da Copa do Mundo, o legado que tal evento deixará para o País sempre foi tema de muito debate e questionamentos. Estradas melhores, aeroportos mais eficientes, transporte público de qualidade? Para o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, tudo isso é secundário. "O maior legado que a Copa deixará é a alegria do povo brasileiro em acolher uma competição como essa", discursou o político, para, em seguida, destacar a geração de empregos que a construção de estádios, hotéis e reformas de aeroportos proporcionam na economia do Brasil.
Rebelo, durante palestra em congresso sobre negócios e futebol, nesta segunda-feira, no Rio, parecia não se preocupar em explicar para os empresários e a imprensa estrangeiros os problemas enfrentados pelo Brasil na preparação para o Mundial de 2014. Os atrasos na obras de infraestrutura foram abordados, mas o ministro se estendia sobre a história do futebol no País e sua importância na formação de uma identidade nacional.
"Todas as obras que constam da Matriz de Responsabilidade serão concluídas dentro do prazo. As que não forem concluídas serão retiradas da Matriz", disse Rebelo. Sua declaração provocou risos na plateia. Mais surpreendente foi a fala do ministro logo em seguida. "Eles (da imprensa) vão dizer que as obras não ficarão prontas e nós vamos dizer que sim. Eu sou o burocrata que tem que dizer isso", confessou, num misto de sinceridade e ironia.
Também presente ao evento, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, foi mais taxativo e confirmou que muitas das obras previstas "não estarão prontas". "Mas não será o problema. Elas podem ficar para 2015, 2016 ou 2018", afirmou. O cartola disse ainda, para reforçar que a Copa é um bom negócio para o povo brasileiro, que o governo terá investido R$ 30 bilhões até o fim de 2014.
Valcke ressaltou que o principal legado para o País será a estrutura que ficará para o futebol, como os estádios, e contou que a Fifa trabalha com o ministério do Esporte para apoiar o futebol brasileiro.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, participou do encontro e estava desinibido durante a sua palestra, ao contrário de quando enfrentou os microfones dos jornalistas na saída e foi abordado sobre os protestos na cidade. Ao falar sobre o que espera ter como legado do Mundial, ele disse: "O legado tangível está sendo construído. O principal será o legado intangível, o legado para a cultura do nosso futebol. Precisamos profissionalizar a administração dos nossos clubes".
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