(Rafael Ribeiro)
O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, deve receber uma punição severa no primeiro trimestre de 2016 e até mesmo suas decisões como chefe da entidade podem ser invalidadas. Fontes de alto escalão da Fifa confirmam que o cartola brasileiro deve ter seu caso examinado nas primeiras semanas do ano que vem.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo apurou que Del Nero está sendo investigado por pelo menos três violações ao Comitê de Ética da Fifa, entre elas corrupção, gestão desleal e violação de regras de conduta. "Se confirmadas as violações, a punição deve ser severa", diz uma alta fonte em Zurique.
O Comitê de Ética da Fifa está examinando contratos que teriam a participação de Del Nero e que foram assinados durante os preparativos para Copa do Mundo de 2014, além de suspeitas de superfaturamento na compra e obra do prédio da CBF, na Barra da Tijuca, no Rio, e de desvio de recursos do futebol por conta de acordos comerciais da Copa do Brasil, Libertadores e Copa América.
A eleição na CBF para vice-presidente também está sob avaliação do Comitê de Ética da Fifa e pode ser cancelada. A oposição alega que o pleito foi orquestrado por Del Nero para indicar um aliado ao cargo.
A disputa chegou a ser suspensa pela Justiça, mas a CBF conseguiu derrubar a liminar. Candidato único, o coronel Antônio Carlos Nunes, presidente da Federação Paraense de Futebol, foi eleito com 44 votos de 67 possíveis. Aos 77 anos, ele tornou-se o vice mais velho da entidade, superando Delfim de Pádua Peixoto Filho, que tem 74 e faz oposição à atual administração da entidade.
Se Del Nero for punido, o Comitê de Ética não exclui também a possibilidade de que todos seus atos como presidente sejam considerados como "inválidos". O cartola assumiu a CBF no dia 16 de abril e pediu licença do cargo no último dia 3, após ser acusado de corrupção pelo FBI.
Num primeiro momento, Del Nero corre risco de ser suspenso por 90 dias, enquanto os juízes avaliam o caso completo. Uma decisão definitiva viria ainda no primeiro trimestre do ano. Caso seja suspenso, o brasileiro poderá recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês).
Desde o mês passado, a Fifa já interrompeu todos os recursos para a CBF, prometidos como parte do fundo de desenvolvimento do futebol nacional. O dinheiro era parte do legado da Copa do Mundo.
Entre as medidas avaliadas pelo Comitê de Ética da Fifa está bani-lo do futebol, inclusive impedindo a sua entrada em estádios.
Punição
O órgão tem se mostrado rigoroso em suas últimas decisões. Nesta segunda-feira, por exemplo, suspendeu Joseph Blatter e Michel Platini do futebol por oito anos por "abuso de poder".
José Maria Marin e Ricardo Teixeira, ex-presidentes da CBF, também devem ser punidos pelo Comitê de Ética da Fifa. Marin está em prisão domiciliar em Nova York, onde tem um apartamento. O cartola é acusado de receber propina em negociações da Copa América e suborno em contratos da Copa do
Brasil.
Teixeira é acusado de dividir com Del Nero e Marin propinas pagas pela Traffic, empresa do brasileiro J. Hawilla, delator do escândalo de corrupção da Fifa.
Del Nero só falará em comitê
O Departamento de Comunicação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) afirmou nesta segunda-feira que Del Nero comentará a investigação do Comitê de Ética da Fifa contra ele apenas diretamente ao órgão, quando for solicitado.
"O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, responderá exclusiva e oportunamente a tudo o que lhe for questionado ao próprio Comitê de Ética, demonstrando sua isenção em relação a qualquer conduta inadequada que lhe seja eventualmente atribuída", diz nota enviada pela assessoria da entidade à reportagem.
Del Nero ainda não foi convocado pela Fifa para prestar esclarecimentos, o que deve acontecer nas próximas semanas. O dirigente pediu licença da presidência da CBF sob a alegação de que iria se dedicar a sua defesa, após ser acusado de corrupção pelo FBI e de a Fifa ter anunciado que estava investigando o cartola brasileiro. Para o seu lugar na CBF, Del Nero indicou o deputado federal Marcus Vicente (PP-ES).