'Fizemos as pessoas mudarem o discurso', diz Réver sobre a Libertadores de 2013

Cristiano Martins
csmartins@hojeemdia.com.br
01/04/2016 às 21:10.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:45
 (Bruno Cantini/Divulgação)

(Bruno Cantini/Divulgação)

Do topo da América ao banco de reservas em pouco mais de uma temporada. A satisfação pelos momentos de glória no Atlético e na Seleção se misturam ao pesar pelas lesões que interromperam a escalada na carreira. Quando olha para o futuro, porém, o zagueiro Réver não reserva espaço para mágoas, pois sabe que já tem o nome gravado na história do futebol brasileiro. Em entrevista ao Hoje em Dia, o eterno capitão da Libertadores 2013 exalta a conquista e abre o jogo sobre o Mundial de Clubes e a saída do Galo, entre outros episódios marcantes da carreira.


Você não se firmou no Internacional e tem ficado mais jogos na reserva. Que avaliação faz da fase atual?

Após a cirurgia, tive uma queda de produção. É natural, pois foi uma cirurgia um pouco agressiva. Na verdade, foram duas cirurgias em pouco tempo (fevereiro e agosto de 2014). Isso acabou atrapalhando bastante os meus planos. Mas, depois de uma pré-temporada bem executada, estou me sentindo bem fisicamente e tecnicamente para voltar a ter aquela confiança que tinha no Atlético.

O seu passado no Grêmio gerou alguma pressão? Acha que atrapalhou?

Acredito que não. Até porque eu já tinha saído do Grêmio havia muito tempo, e tinha ficado lá só um ano e meio. Foi onde tive um crescimento e uma visibilidade maior no cenário do futebol, mas, até pelo fato de eu ter me identificado muito mais com a camisa e a torcida do Atlético, acho que essa passagem não interferiu.

Como avalia o trabalho do técnico Diego Aguirre? Ele pode levar o Atlético longe na Libertadores?

Tive a felicidade de trabalhar com ele no Inter. É uma pessoa de um caráter fora do comum. No futebol, é difícil ter pessoas assim, de caráter, de palavra. O Atlético está bem servido nessa função, porque o Diego é uma excelente pessoa e um excelente treinador. Mesmo em pouco tempo no Inter (oito meses e 48 jogos), ele mostrou isso na Libertadores. Mostrou que tem condições de estar à frente de uma grande equipe do Brasil. Acredito que ele terá sucesso, já que o Atlético vem de grandes anos se mantendo como um dos principais clubes do país e proporciona uma estrutura muito boa.

Naquele momento, a sensação era de dever cumprido, de colocar o clube no seu devido lugar, que são os títulos importantes. Muito se falava que o Atlético não tinha a tal sonhada Libertadores, e nós conquistamos, fizemos com que muitas pessoas mudassem o discurso a respeito do clube"

Qual foi a sensação de erguer a Taça Libertadores em 2013? Teve, ali na hora, a noção do tamanho que aquilo teria para o clube?

Olha, para ser sincero, é uma sensação que até hoje passa pela minha cabeça. Por onde nós passamos, somos lembrados por esse título. Não que o Atlético não seria grande, muito pelo contrário. O Atlético sempre foi e será sempre muito grande. Mas, naquele momento, a sensação era de dever cumprido, de colocar o clube no seu devido lugar, que são os títulos importantes. Muito se falava que o Atlético não tinha a tal sonhada Libertadores, e nós conquistamos, fizemos com que muitas pessoas mudassem o discurso a respeito do clube. É isso que me deixa satisfeito e orgulhoso do nosso trabalho, e essa minha história vai se tornar eterna assim como o título. Fico feliz de ter representado o Atlético, e ficarei grato pelo resto da vida.

Muito antes da Libertadores, você havia conquistado outro título “milagroso”, na Copa do Brasil de 2005. Como explica aquela campanha surpreendente do Paulista, passando inclusive por Botafogo, Inter, Cruzeiro e Fluminense?

Iniciei a carreira lá no Paulista, onde tivemos esse fato histórico. Era um time pouco conhecido, e eliminamos grandes clubes mesmo sendo um time considerado sem tradição alguma. Esse feito me projetou para o cenário do futebol brasileiro e mostra como é importante o clube pequeno revelar jogadores. Assim como eu, outros nomes ali e se destacaram (goleiro Victor, volante Cristian, técnico Vagner Mancini...)Internacional/Divulgação

 O Victor, inclusive, foi um colega constante na sua carreira. Como é a relação com ele?

Na minha carreira toda, o Victor só não esteve presente em dois clubes: em 2007, nos Emirados Árabes (Al-Wahda), onde eu fiquei pouco tempo devido a uma lesão, e agora, no Inter. Jogamos no Paulista, no Grêmio e no Atlético, e até mesmo na Seleção nós fomos convocados juntos. Já são 10, 11 anos, ou mais. Somos muito amigos, e ainda compadres, porque ele aceitou ser o padrinho do meu filho (Réver Júnior, 2 anos). Temos um elo muito grande também fora de campo. O futebol felizmente acaba te proporcionando essas coisas.

Você foi sucedido como capitão pelo Léo Silva e perdeu para ele o posto de maior zagueiro-artilheiro do Galo. Vocês conversaram sobre isso?

Fiz muitos amigos de verdade no Atlético, e o Léo é um deles, pois tínhamos uma proximidade muito grande. Fico feliz com essa marca que ele alcançou me ultrapassando. Acabou que já nos encontramos, mas nem tocamos nesse assunto. O Léo merece, é uma pessoa especial na minha vida e um grande jogador, com quem eu tive um prazer muito grande de trabalhar. Ele vem fazendo muito pelo Atlético com todas essas conquistas pessoais, e espero que ele possa fazer ainda mais.

Conversei com o Kalil e com meu empresário, e a partir do momento que você dá a sua palavra, você tem que cumprir. Foi justamente o que aconteceu, e acredito que essa tenha sido a melhor escolha que já fiz até hoje na minha vida. Isso se prova na história que construí no Atlético"

Com quem mais manteve amizade no Atlético?

Depois da minha saída, tive alguns encontros com os meninos aí, o Léo, o Victor e o Donizete, entre outros. Ainda tenho amizade com quase todos do plantel, até porque fiquei muito tempo no clube. Tenho um carinho muito grande pelo Atlético, inclusive torço e acompanho, mesmo estando longe.

Antes de você ser anunciado pelo Alexandre Kalil (2010), o então presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, revelou interesse na sua contratação. Houve alguma proposta oficial? Por quê escolheu o Atlético?

Na verdade, não chegou nada oficial do Cruzeiro até mim. Acredito que, se saiu alguma coisa na imprensa, foi só especulação. Conversei com o Kalil e com meu empresário, e a partir do momento que você dá a sua palavra, você tem que cumprir. Foi justamente o que aconteceu, e acredito que essa tenha sido a melhor escolha que já fiz até hoje na minha vida. Isso se prova na história que construí no Atlético.

Mas você também esteve presente em dois episódios trágicos: os 6 a 1 para o Cruzeiro e a derrota para o Raja no Mundial. Qual é o impacto dessas derrotas em sua trajetória no Atlético? Acha que fica um "asterisco"?

Acredito que fica, sim, uma marca. Infelizmente estive nesses dois momentos, mas o futebol não proporciona só coisas boas. Posso dizer que vivi coisas ruins também. Claro que a gente fica marcado, mas temos que pensar no que fizemos de bom, no que deixamos gravado para sempre na história. Procuro pensar assim, não só no futebol, mas na vida. Temos que tirar o que fazemos de melhor para seguir em frente.Rafael Ribeiro/CBF

 O que houve no Mundial? Sobrou confiança, faltou preparação ou aconteceu algum problema interno?

Foi um momento de muita tristeza. Nós jogadores tínhamos uma expectativa muito grande, e acredito que os torcedores, até muito mais. Você deposita muita confiança, e às vezes o excesso de vontade acaba te atrapalhando. Essa equipe (Raja) eliminou um time mexicano que seria, no papel, muito mais forte (Monterrey). Naquele momento, a gente até gostaria mesmo de pegar essa equipe, que seria considerada um pouco mais fácil para a gente passar. Mas o futebol acabou nos ensinando de uma maneira totalmente dolorosa que precisa haver o respeito sempre. Acabamos sendo pegos de surpresa e sofrendo essa eliminação diante de um time que não tinha um reconhecimento mundial no futebol. Nos serviu de lição, mas vai acabar ficando marcado.

As lesões precipitaram sua saída do Atlético, pela forma como aconteceu?

Fico muito triste pela maneira como foi. Acabou que nem teve uma despedida mesmo. As coisas aconteceram rápido, e até hoje não entendo muito bem o motivo. Mas o futebol é dessa maneira. Se eu falar que não fiquei um pouco frustrado, triste, eu vou estar mentido. Claro que fiquei. Queria que tivesse sido diferente. De repente, gostaria de nem ter saído, até porque o Atlético me proporcionou momentos maravilhosos, e sou muito grato por tudo. Sinceramente, não sei dizer o que realmente houve. Devido à lesão, eu não estava sendo utilizado pelo treinador (Levir Culpi), e isso acabou gerando um desconforto. Acho que isso pode ter levado o Atlético a me negociar (os direitos econômicos eram divididos entre o Wolfsburg-ALE e o Banco BMG).

Fico muito triste pela maneira como foi. Acabou que nem teve uma despedida mesmo. As coisas aconteceram rápido, e até hoje não entendo muito bem o motivo. Mas o futebol é dessa maneira. Se eu falar que não fiquei um pouco frustrado, triste, eu vou estar mentido. Claro que fiquei"

Você foi bicampeão do Superclássico das Américas, um deles como capitão (2012), e ainda campeão da Copa das Confederações (2013), mas não foi à Copa do Mundo de 2014. Qual o tamanho da frustração em relação a isso?

Claro que gera uma tristeza. Naquele momento, por ter me lesionado, acabei ficando um pouco atrás das outras opções do treinador (Luiz Felipe Scolari). Vendo hoje, talvez tenha sido até bom para a minha carreira, por tudo que aconteceu na Copa (7 a 1 para a Alemanha). Mas é claro que gera uma frustração mesmo assim, porque é o sonho de todo jogador disputar uma Copa. Infelizmente, não aconteceu. Por outro lado, fico muito feliz por todo o resto que vivi na Seleção. Foram momentos maravilhosos.

Você teve uma passagem-relâmpago pelo Wolfsburg. O que determinou a sua volta ao Brasil após pouquíssimos jogos?

O que mais pesou, além da adaptação, foram alguns detalhes contratuais colocados no momento da negociação e que, depois, acabaram não sendo cumpridos. Isso dificultou bastante, pois já existia toda a dificuldade de estar fora do país, ter que me adaptar da maneira mais rápida possível... Isso fez com que eu pensasse bastante e voltasse atrás na decisão.

Recentemente, seu nome apareceu na imprensa italiana como possível alvo da Lazio. Você ainda pensa em jogar no exterior?

Até mim, não chegou nada. Tenho uma abertura grande com meu empresário e procuro não me envolver em especulações, só no que for concreto. É difícil definir, falar que algo está descartado. Não posso dizer que não faria isso ou aquilo, e não descarto uma transferência. Todo jogador tem esse sonho de jogar na Europa, e mesmo com essas coisas que aconteceram comigo na Alemanha, seria uma coisa a se pensar, desde que apareça alguma proposta boa para o clube, para mim e para a minha família.

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