Fonteles supera Pistorius e é ouro nos 200m em Londres

Valéria Zukeran
02/09/2012 às 20:45.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:57

A noite deste domingo foi gloriosa para o atletismo brasileiro na Paralimpíada de Londres. Para começar, uma dobradinha de atletas do País, com Terezinha Guilhermina e Jerusa Santos, seguida por um ouro com um pedido de casamento de Yohansson do Nascimento. O grand finale, no entanto, ficou reservado a Alan Fonteles que ganhou a medalha de ouro sobre o maior astro da Paralimpíada, o sul-africano Oscar Pistorius, na final dos 200 metros classe T44.

Alan foi o grande astro da noite, ofuscando Pistorius e virando pivô involuntário de uma grande polêmica por causa do aumento de cinco centímetros em suas próteses. Na prova, o sul-africano, que na noite anterior havia estabelecido novo recorde mundial (21s30), tomou a dianteira e parecia fadado a mais uma vitória, mas Alan, em um sprint final histórico, surpreendeu o adversário e todo o público no Estádio Olímpico e concluiu a prova na frente, com tempo de 21s45.

Pistorius saiu da pista visivelmente abalado. Falou pouco com os repórteres das emissoras de TV e entrou na área reservada aos atletas. Somente depois de algum tempo voltou para falar com a imprensa escrita e reclamou. "Não acho que foi injusto. Ele (Fonteles) competiu respeitando as regras, mas é fato que antes (da troca das próteses) ele não corria na casa dos 21 segundos e eu nunca vi alguém tirar uma diferença nos oito metros finais como ele fez. Foi a minha primeira derrota em uma disputa de medalha."

Alan agradeceu a Deus, à família e aos torcedores, mas dedicou em especial seu título para duas pessoas: o técnico Amauri Veríssimo e ao "amigo-irmão" Yohansson do Nascimento. Depois teve de falar sobre as declarações de Pistorius. "Percebi que ele nem falou comigo antes da prova, só deu um oi meio assim", contou o brasileiro. O velocista admitiu que ficou triste com a reação de seu ídolo. "Eu quero ser amigo de todo mundo." No entanto, o brasileiro defendeu seu resultado. "Eu estava dentro das regras", disse em tom sério. "Ele (Pistorius) tem o recorde mundial, mas o que vale no fim é quem chega primeiro."

O coordenador de atletismo do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Ciro Winckler, explicou a questão das próteses. Disse que Alan corria com o mesmo equipamento desde que tinha 16 anos e foi pedido ao Comitê Paralímpico Internacional (CPI) uma readequação do equipamento agora que o atleta completou 20 anos. Ele conta que o tamanho da prótese é determinado pelo estudo do biotipo do atleta e o resultado final foi de que Alan, que tinha 1,76 metro com o equipamento antigo, poderia chegar até 1,85 metro. Mas optou por prótese que o deixa com 1,81 metro.

Nos 200 metros classe T11 pelo menos duas medalhas brasileiras estavam garantidas no pódio porque haviam três atletas do país, com seus respectivos guias - Terezinha Guilhermina com Guilherme Santana (seu tradicional parceiro, Jorge Souza, o Chocolate, estava contundido), Jerusa Santos acompanhada de Henrique da Silva e Jhulia Santos com Fábio Oliveira Silva. De estrangeira, somente a chinesa Juntingxian Jia e seu guia Donglin Xu. Na corrida, Terezinha ganhou com larga vantagem dos adversários, com Jerusa em segundo e a chinesa em terceiro.

A premiação foi adiada por causa de uma grande confusão. Inicialmente os chineses foram desclassificados por infringir o regulamento que não permite que o guia puxe a atleta durante o percurso. Os dirigentes do país recorreram e foram atendidos. Aí foi a vez do Brasil protestar, sem sucesso. O sonhado inédito pódio triplo terá de esperar. A entrega das medalhas será nesta segunda, assim como a de Alan Fonteles.

"Estou muito feliz, sou muito grata a Deus pela oportunidade de estar em primeiro lugar novamente e com um resultado impressionante, diferente do que eu consegui em Pequim", disse Terezinha, que dançou antes de sua performance. "Eu gosto de dançar. Isso me relaxa e me ajuda a concentrar na corrida."

Casa cheia. A participação da torcida britânica nos eventos disputados neste fim de semana foi massiva. Os 82 mil lugares do Estádio Olímpico foram preenchidos para as provas de atletismo e a tendência foi seguida por outras arenas do Parque Olímpico que também tiveram grande presença de espectadores. Em especial o velódromo, de longe o local mais animado. As praças do Parque Olímpico ficaram apinhadas de gente. Quem não pôde entrar nas arenas, torceu por seus atletas favoritos pelo telão. Um exemplo para o Brasil em 2016.
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