Garota de 15 anos joga futebol entre os homens e sonha com time feminino

Émile Patrício - Do Hoje em Dia
15/10/2012 às 21:54.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:15
 (Divulgação)

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Olhando de longe é fácil se confundir. Os dribles, a agilidade, a competência de colocar a bola no gol, as "malandragens" e até o cabelo grande que muitos homens usam não permitem que se identifique logo de cara uma garota jogando futebol entre os marmanjos. A diferença em campo são as unhas pintadas. Afinal, a meia-atacante Bruna tem apenas 15 anos e faz questão de se sentir bonita. Ela é atleta do Grêmio de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e assim, no time masculino, segue sonhando em pertencer a uma grande equipe feminina de futebol. 

O sonho de ser jogadora de futebol começou quando assistia ao pai, Odiberto Oliveira, nas peladas de fim de semana. Quando faltava um jogador, ela se dispunha a completar o time. E surpreendia os amigos da família, que lhe rendiam muitos elogios.

Moradora de Uberlândia, ela convenceu o Grêmio, escolinha da equipe gaúcha, de que poderia jogar entre os meninos. Mostrou habilidade no meio de campo, chamou a atenção, alcançou a titularidade e agora faz parte da equipe que lidera o torneio Capotão sub-16 na cidade.

O campeonato conta com mais sete equipes da região de Uberlândia. "No começo tinha muito preconceito por eu ser mulher. Os meninos não tocavam para mim com medo de eu me machucar ou errar a jogada. Mas, com o passar do tempo, fui me enturmando. Agora é como se eu fosse um homem para eles", conta Bruna.

No ano passado, ela fez teste na equipe feminina do Santos, passou com louvor após fazer um gol, mas não conseguiu vestir a camisa do alvinegro praiano. O time paulista encerrou as atividades femininas um mês depois da peneirada.

Mas a garota continua sonhando. O próximo passo é tentar sair de Uberlândia em busca de uma experiência em times com força no futebol feminino. E para isso terá que andar longe, pois as equipes femininas mais próximas da cidade ficam em Belo Horizonte, a cerca de 540 quilômetros, ou Goiânia, a 340. Em janeiro, ela fará um teste no Centro Olímpico, que fica também em Santos. "Vou em busca de uma oportunidade e será um sonho se conseguir um lugar", diz.

A mãe, Maria Aparecida de Oliveira, conta que a paixão de Bruna pelo futebol incentivou até o irmão mais novo, Breno de Luca, de 9 anos. "Ele começou a gostar de futebol porque a irmã sempre o chamava pra bater bola na garagem e nos campinhos da rua. Ele passou na primeira fase de testes do Santos e também fará novos exames em janeiro (de 2013)", conta a mãe.

Bruna é atleta do Grêmio de Uberlândia, no Triângulo Mineiro (Foto: Divulgação)

Opiniões masculinas

Os companheiros de equipe justificam a falta de entrosamento inicial. "É difícil jogar com menina. Sempre tem que ser mais delicado. Mas dentro de campo e na hora do trabalho é jogo duro pra todo mundo. E se bobear, ela é até melhor do que muitos meninos que jogam aqui", admite o volante do Grêmio de Uberlândia Leonardo Oliveira.

O técnico, Adilson Moura, acredita no potencial da moça. "Eu deixava ela na reserva, mas teve um jogo que entrou em campo no segundo tempo e foi bem, acabou mudando os rumos da partida. Agora tenho essa opção de começar o jogo com a Bruna de titular. Ela tem muito potencial e a gente vê que é talento, pois chegou aqui com muita habilidade. A comparo à Marta, da seleção brasileira, mesmo que sejam posições diferentes. Mas, tecnicamente, no estilo de jogo, elas são muito parecidas", observa o treinador, otimista.

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