(Fred Mancini/YSports)
Que o clima em Curvelo normalmente é quente na maior parte do tempo, quem conhece a cidade sabe. Mas o calor das disputas por posições no mais novo autódromo do Brasil ainda é novidade, e vem fazendo sucesso. Que o diga a segunda etapa do GP Gerais, que movimentou o Circuito dos Cristais no fim de semana, com as corridas válidas pelos mineiros de Motovelocidade (esse um campeonato inédito) e Marcas e Pilotos.
Além de animar o público com ótimos pegas e várias atrações, o evento mostrou ainda um lado menos conhecido e muito positivo da velocidade: se é verdade que o esporte motor exige dinheiro, ele pode ser bem mais democrático do que se imagina. Não faltam pilotos, sobre duas ou quatro rodas, que conseguem acelerar na base da raça, apostando na ajuda de amigos, em rifas e pequenos patrocínios, com orçamento contado, mas suficiente para competir e lutar por boas posições. É moto transportada na pequena picape; equipamento completo do carro que cabe numa velha Veraneio, histórias de quem tinha tudo para desistir mas, com muita garra, marca presença. Lógico que há quem disponha de estrutura de ponta mas, quando os sinais vermelhos se apagam, o braço ainda faz uma grande diferença.
E um desses casos de superação é o da capixaba Gabriela Campos, a Gabi, de 33 anos, que se inscreveu na categoria Light (para pilotos de menor experiência), no comando de uma imponente Kawasaki Ninja ZX10-R com mais de 200cv. Em vez de optar pela viagem ou por um vestido quando fez 15 anos, pediu de presente à mãe uma moto e, surpreendentemente, foi atendida. Começava ali uma paixão que já a levou ao Uruguai, para correr no campeonato local.
Como a moto do companheiro de time (o vencedor na categoria Superbike Fernando Guerra, novo recordista do traçado de 4.420m) havia sido danificada em um treino, os dois dividiram a mesma máquina, o que significava não poder errar para não comprometer o fim de semana de ambos. Nem mesmo o físico modesto para tanta cavalaria a impediu de conquistar o quinto lugar na Light 1.000cc – sua melhor volta ficou a menos de dois segundos do tempo estabelecido pelo vencedor da categoria, Éder "Farofa".
"Estou pegando a mão da moto. Não é fácil, termino cada treino ou corrida com os braços bastante doloridos, mas feliz por fazer algo de que gosto tanto", diz a pequena piloto, que festeja o interesse cada vez maior das mulheres pela motovelocidade, citando Samara Andrade e Indiana Munhoz como exemplos. Ela admite que em algumas provas o macacão com detalhe rosa ainda incomoda alguns rivais homens. "Tem piloto que joga pesado para não ser ultrapassado, não aceita de jeito nenhum". Não foi o caso no GP Gerais, em que só recebeu cumprimentos e elogios na pista e de quem não pôde competir, mas acompanhou pelo grupo de pilotos no Whatsapp.