Holofotes para Luiz Felipe Scolari e Joachim Löw

Mamede Filho - Hoje em Dia
08/07/2014 às 07:44.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:18
 (Editoria de Arte)

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Os holofotes do futebol estão quase sempre voltados para os talentos dentro de campo. São eles os responsáveis por colocar a bola no fundo da rede, pelo lance que arranca o sorriso do torcedor. No entanto, no duelo desta terça-feira (8) entre Brasil e Alemanha, no Mineirão, às 17h, que decidirá uma vaga na grande final da Copa do Mundo, as atenções também estarão nos bancos de reservas.   Não se pode dizer que o brasileiro Luiz Felipe Scolari e o alemão Joachim Löw estão tranquilos em seus respectivos empregos. E não se trata apenas do fato de comandarem duas das semifinalistas do Mundial. Apesar do inegável sucesso, ambos têm plena consciência de que uma derrota nesta terça poderá representar um duro golpe profissional.   Brasil x Alemanha não vale “apenas” uma vaga na final da Copa. Vale muito para o futuro de dois dos profissionais mais gabaritados do futebol mundial. Um deles, Felipão, já consagrado, com um título mundial no currículo. O outro, Löw, apontado na Copa de 2010 como uma grata surpresa e que agora está pronto para colher os frutos do trabalho que plantou há quatro anos, na África do Sul, levando a Alemanha ao terceiro lugar.   RETRANCA   Chance de provar que o sucesso vai além do estilo paizão de ser   O técnico Luiz Felipe Scolari carrega nesta terça a pressão de uma nação inteira nas costas. E não se trata somente dos 200 milhões de brasileiros que estarão na torcida por uma vitória da Seleção sobre a poderosa Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo.   Felipão leva também a responsabilidade de dar sobrevida ao velho estilo brasileiro de ser treinador de futebol. Famoso pelo jeito paizão de se relacionar com os comandados, o gaúcho de Passo Fundo é um exemplo cada vez mais raro num esporte de rendimento tão alto que os números costumam ser mais valorizados que a improvisação de um gênio.   Quando voltou à Seleção, Scolari recebeu a bênção popular porque se dizia que o combinado nacional precisava de união, companheirismo, disciplina. Características que ele é capaz de empregar como ninguém, mas que parecem cada vez mais restritas ao futebol brasileiro.   O retorno imediato do “investimento Felipão” foi maior que o esperado, com a conquista da Copa das Confederações, no ano passado, com direito a goleada sobre Espanha na final. Mas o desempenho não se repetiu até agora no Mundial, e a cobrança voltou a cercar o treinador, uma situação que ele considera normal no futebol.   “Não é só na Alemanha que o treinador não está capacitado para vencer a Copa do Mundo. Para muita gente eu também não estou. É tudo igual, em qualquer lugar”, resume Scolari ao responder à pergunta de um jornalista alemão sobre a pressão vivida por Joachim Löw.   Sem Neymar, Felipão terá a chance de mostrar que não é limitado, como muitos o acusam. Mas esconder o jogo faz parte do teatro do futebol.   “Posso entrar em campo com três volantes, liberando os laterais. Mas também posso manter apenas dois volantes, com uma surpresa para pegar os alemães desprevenidos”, garante o professor, que se orgulha de ter um grupo capaz de entender o que é pedido apenas no olhar.   “Sou uma pessoa muito transparente, não consigo enganar a ninguém. Apenas o jeito de olhar para eles já é suficiente para deixar claro se fiquei feliz ou não com uma jogada. Também consigo entendê-los apenas com a troca de olhares”, confidencia.   Uma ligação que parece coisa de família. E que tem de funcionar nesta terça-feira (8) para que Felipão não acorde nesta quarta-feira (9) como um sujeito fora de seu tempo.   RETRANCA   Bom trabalho iniciado em 2006 precisa ser ratificado com título   Levando-se em conta os serviços prestados à seleção da Alemanha, Joachim Löw poderia dormir com a consciência tranquila de que seu emprego está assegurado. Pela terceira vez consecutiva, o treinador disputa uma semifinal de torneio no comando do combinado germânico. Mas as derrotas à beira da decisão no Mundial da África do Sul, em 2010, e na Euro da Polônia e Ucrânia, em 2012, colocaram uma nuvem de tensão sobre o técnico.   Löw tem um trabalho inegavelmente consistente. Mas parece faltar aquele algo mais que transforma um sujeito dedicado em um vencedor. E o duelo com o Brasil é a oportunidade perfeita para ele mudar a opinião que atualmente toma conta em seu país. “O que vai valer no fim das contas não é vencer ou perder o jogo contra o Brasil, mas a postura da Alemanha em campo. Se for uma equipe aguerrida, com o controle do jogo, Löw deixará uma boa impressão e poderá continuar empregado”, analisa o jornalista Jörg Wolfrum, da revista alemã Kicker, que reconhece o mérito do trabalho do comandante germânico.   “A Alemanha chegou a um novo patamar desde que ele assumiu, em 2006. O problema é que Löw parece estar estacionado nesse patamar, que é alcançar as semifinais. Ele foi muito criticado pelo modo como o time se portou nas derrotas para a Espanha, em 2010, e depois a Itália, dois anos atrás. Foram atuações que fizeram todos se questionarem se ele é o homem certo para levar o time a uma decisão”, diz Wolfrum.   Mas o que serve como instrumento de crítica para alguns acaba motivando outros. Nesse caso não é diferente. Além das eliminações como treinador, em 2010 e 2012, Löw era auxiliar de Jürgen Klinsmann na seleção germânica que caiu para a Itália, na semifinal do Mundial de 2006, realizado justamente na Alemanha. Agora, ele espera usar esta derrota como aprendizado.   “Já tive essa experiência de jogar uma semifinal como país anfitrião. Claro que todo jogo tem uma história, e a semifinal é um estágio muito dinâmico, um grande desafio, ainda mais diante da nação que recebe o torneio. Mas já passamos por isso, sabemos como tirar proveito a nosso favor. O jogo contra o Brasil será muito difícil, mas já conhecemos os atalhos para alcançar a vitória”, garante o treinador.

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