Inventores do futebol, Ingleses ficaram em Nova Lima em 1950

Ernesto Braga - Hoje em Dia
23/06/2014 às 09:51.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:06
 (Reprodução/Frederico Haikal)

(Reprodução/Frederico Haikal)

A data era 26 de junho de 1950 e o Brasil sediava a Copa do Mundo. Como neste sábado, a seleção da Inglaterra desembarcava em Minas Gerais. Era o primeiro Mundial dos inventores do futebol, que enfrentariam os Estados Unidos no Independência, em Belo Horizonte.

As circunstâncias, no entanto, eram mais favoráveis ao England Team, que havia estreado com vitória, por 2 a 0, sobre o Chile, no Rio de Janeiro, pelo Grupo 2. Com duas derrotas em dois jogos, os ingleses estão eliminados da Copa de 2014 e apenas cumprem tabela, terça-feira, contra a Costa Rica, no Mineirão.

Candidata ao título e, portanto, favorita no duelo com os norte-americanos, em 29 de junho de 1950, a seleção da terra da rainha passou direto pela capital mineira. De trem, seguiu viagem até Nova Lima.

A cidade do ciclo do ouro abrigava desde 1834 a empresa de mineração britânica Saint John Del Rey Mining Company (que deu origem à Morro Velho). Portanto, a delegação da Inglaterra sabia que encontraria o ambiente perfeito para a preparação da equipe. E tinha razão.

“Por causa da forte influência inglesa em Nova Lima, os jogadores se sentiram mais confortáveis na cidade”, destaca a historiadora Juliana Alvarenga Sampaio.

EMPATIA

Coordenadora do Centro de Memória Morro Velho, espaço da AngloGold Ashanti, que em 1999 passou a controlar a antiga mineradora, a especialista explica que Nova Lima parou para acompanhar a seleção da Inglaterra. “Os jogadores foram muito sociáveis com os moradores, sobretudo com as crianças”, diz Juliana.

A delegação desceu na estação de Honório Bicalho, a sete quilômetros do centro da cidade. Ficou alojada na hospedaria de diretores da empresa de mineração, chamada de casa grande, onde hoje funciona o Centro de Memória. A fachada do imóvel de mais de 180 anos foi preservada.

“A hospedaria tinha quartos individuais. Os jogadores ficaram muito à vontade, como se estivessem passeando. Há relatos de brincadeiras, como eles mordendo barrinhas de ouro”, afirma a historiadora. A delegação também conheceu a área industrial da mineradora.

Para o lazer, jogadores e comissão técnica deixavam a hospedaria e seguiam até a Pensão Retiro, no Centro de Nova Lima. “Era uma pensão para homens solteiros, com sinuca, área para outros jogos e restaurante”, diz Juliana.

No acervo do Centro de Memória há fotografias da seleção da Inglaterra de 1950, entre elas uma restaurada recentemente. No documento histórico, além da imagem da delegação em frente à casa grande, estão os nomes e assinaturas de todos os jogadores e integrantes da comissão técnica.

Mesmo com todo o clima favorável em Nova Lima, a seleção da Inglaterra foi derrotada pelos EUA, por 1 a 0, no Independência.

Campo sob medida para os ilustres visitantes

O alojamento da delegação inglesa de 1950 estava preparado para recebê-la. Mas faltava em Nova Lima um espaço adequado para os treinamentos do England Team.

E ele surgiu bem próximo à antiga hospedaria, atual Centro de Memória Morro Velho. Fundado em 1896, o Clube das Quintas foi o local escolhido para que a Inglaterra fizesse os treinos.

“O clube não tinha campo de futebol, que foi construído exatamente em 1950, com esse propósito. Ele foi feito com as mesmas dimensões que o Independência tinha e até o mesmo tipo de grama, para que a adaptação dos jogadores fosse a melhor possível”, afirma o gerente do Quintas, Waltencyr Teófilo de Souza Júnior.

Segundo a historiadora Juliana Alvarenga Sampaio, coordenadora do Centro de Memória, os treinamentos eram acompanhados por um grande número de pessoas.

“A população de Nova Lima ficou muito entusiasmada com a presença da seleção inglesa e famílias inteiras assistiam às atividades”. Também por influência inglesa, no Clube das Quintas foi construída a primeira quadra de squash da América Latina, segundo Waltencyr Júnior.

Zebra histórica liga para a eternidade britânicos ao Horto

Criadores do futebol, os ingleses encaravam a Copa do Mundo como uma coisa menor, por isso ficaram de fora das disputas de 1930, no Uruguai, 1934, na Itália, e 1938, na França. O argumento era de que eles dominavam o esporte e não precisavam medir forças com ninguém.
A primeira vez da Inglaterra em um Mundial foi no Brasil, em 1950, na primeira edição do torneio após a Segunda Guerra Mundial.

Eles chegaram ao Brasil como um dos favoritos ao título. Para a partida contra os Estados Unidos, a segunda da fase de grupos, a certeza de vitória era tamanha que o craque do time, Stanley Matthews, foi poupado pelo técnico Walter Winterbottom, já pensando na partida contra a Espanha, que seria disputada três dias depois, no Maracanã.

O jogo teve um enredo anormal. A superioridade inglesa era evidente e foram várias as chances criadas. Mas a poderosa seleção inglesa esbarrava no goleiro Frank Borghi, que era motorista de carro fúnebre.

Como o futebol nos Estados Unidos não era profissional, os jogadores eram amadores. Todos tinham uma atividade além do esporte.
Aos 38 minutos do primeiro tempo, em um lance despretensioso na área inglesa, Gaetjens se antecipou ao goleiro Williams e marcou o gol dos Estados Unidos.

Na segunda etapa, a Inglaterra partiu para o desespero. Criou várias oportunidades, mas não conseguiu impedir que o Estádio Independência fosse o palco daquela que é considerada a maior zebra da história das Copas do Mundo.

Após a partida, os torcedores mineiros invadiram o campo e carregaram os jogadores dos Estados Unidos. Os ingleses deixaram o campo envergonhados.


 

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