Mal-estar com Neymar isola o uruguaio Cavani no ataque do Paris Saint-Germain

Estadão Conteúdo
19/09/2017 às 08:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:37
 (Christophe Simon/AFP)

(Christophe Simon/AFP)

Com 18 pontos conquistados em 18 em jogo, o Paris Saint-Germain é líder isolado do Campeonato Francês e poderia viver um momento de paz, projetando a Liga dos Campeões da Europa. A realidade, no entanto, é bem diferente. O mal-estar entre o craque brasileiro Neymar e o goleador uruguaio Cavani não é mais segredo desde o último domingo, quando os dois se desentenderam em uma cobrança de pênalti, minutos após um atrito na cobrança de uma falta na vitória de 2 a 0 contra o Lyon, no estádio Parque dos Príncipes, em Paris. Por trás do clima pesado, as estatísticas mostram que o centroavante está ficando isolado entre os novos astros milionários do clube.

Os primeiros sinais de desentendimento entre Neymar e Cavani datam dos primeiros minutos do brasileiro em campo. Logo no segundo jogo de ambos lado a lado, em sua estreia no estádio Parque dos Príncipes, em Paris, contra o Toulouse, o brasileiro pediu para bater um pênalti, mas o uruguaio tomou a bola nas mãos e converteu a cobrança. No último domingo, o clima de insatisfação ficou claro em dois momentos: primeiro aos 12 minutos do segundo tempo, quando o lateral-direito brasileiro Daniel Alves "confiscou" a bola e a repassou a Neymar no momento de uma cobrança de falta na entrada da área. Cavani queria bater.

Minutos depois, o atacante francês Mbappé cavou um pênalti e o uruguaio teve a sua vingança. Pegou a bola, disse não a Neymar, bateu, mas não converteu - são 17 pênaltis convertidos pelo artilheiro e 3 perdidos até aqui no Paris Saint-Germain.

Se aguentou a sombra do sueco Ibrahimovic durante uma temporada, Cavani não parece disposto a ceder o status de ídolo absoluto do Paris Saint-Germain a Neymar. Depois de conquistar a confiança da torcida com 49 gols na última temporada, o uruguaio está com moral no clube. No último domingo, não escondeu a insatisfação e saiu do vestiário menos de meia hora após o jogo, partindo por uma porta lateral que dá acesso ao estacionamento do estádio, sem passar pela zona mista, onde teria contato com a imprensa.

O mau humor pode estar relacionado com a sua situação no clube. Estatísticas reunidas pelo jornal L'Équipe mostraram que o artilheiro uruguaio vem sendo pouco a pouco isolado no ataque depois da chegada de Neymar e, sobretudo, após a de Mbappé. No último domingo, Cavani trocou apenas oito passes em todo o jogo, seu pior desempenho em todos os jogos que já disputou no Campeonato Francês.

Do outro lado, o uruguaio recebeu apenas 12 passes de seus companheiros - curiosamente Daniel Alves foi quem mais lhe serviu, com quatro toques. O total é perto da metade do jogo anterior contra o Metz. Neymar e Mbappé, que têm se entendido às maravilhas até aqui, serviram Cavani apenas duas vezes cada um. Já Mbappé tocou a bola a Neymar nove vezes, recebendo de Neymar outras nove vezes. Os números mostram um isolamento do uruguaio no centro do ataque entre o astro brasileiro e o fenômeno francês. Em três jogos - frente ao Toulouse, ao Saint-Étienne e ao Lyon -, Cavani só deu um passe certo a Neymar.

Não bastasse, o Paris Saint-Germain do técnico espanhol Unai Emery se concentra cada vez mais em jogadas pelas pontas - ou seja, com Neymar e Mbappé -, do que pelo centro: 41,5% dos ataques acontecem pela esquerda, 34% pela direita e só 24,5% pelo centro, onde atua Cavani.

No meio da controvérsia, o uruguaio veio a público, por meio de seu irmão e conselheiro de imprensa, Walter Guglielmone, desmentir que exista uma briga de egos no Paris Saint-Germain. "Não sei por que criam todas essas histórias. A verdade é que são coisas normais, que acontecem no futebol", afirmou em entrevista à rádio Universal, do Uruguai. Segundo ele, o brasileiro ainda está se adaptando. "Neymar acaba de chegar. Nós temos toda a boa vontade para que ele possa se adaptar o melhor possível. Acho que vocês vão poder constatar isso rapidamente".

Sem demonstrar pulso firme, Unai Emery por ora deixou a polêmica acontecer. "Neymar e Cavani poderiam se entender entre cavalheiros para decidir quem bate os pênaltis", afirmou o espanhol. Mas, a julgar pelas estatísticas, o entendimento tem sido cada vez menos cordial entre os ídolos da equipe parisiense.
 

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