(Bruno Cantini/Divulgação/Atlético)
Ser o zagueiro que mais fez gols pelo Atlético (28) é só uma das marcas que fazem de Leonardo Silva um dos principais personagens da centenária história do clube alvinegro.
Aos 38 anos e com 312 partidas disputadas com a camisa do Galo, o capitão, assim como o goleiro Victor, precisa apenas de mais quatro jogos pelo Campeonato Brasileiro para chegar aos 193 na competição e ultrapassar o ex-atacante Marques como recordista no quesito.
Neste Papo em Dia, o jogador fala sobre a desejada renovação de contrato com o Atlético, comenta a identificação com o clube que defende desde 2011, relembra os bons momentos vividos com a camisa atleticana e projeta o próximo ano mirando o time na sexta Copa Libertadores consecutiva.
Neste ano, você só disputou metade dos jogos. Se vê em plenas condições físicas para pensar em renovar o contrato por mais um ano?
Me sinto em condições de jogar, independentemente da quantidade de jogos que fiz neste ano. Estou apto, sim, e espero renovar com o clube para que as coisas se acertem.
O que espera para 2018?
Hoje, queremos nos classificar para a Libertadores. O planejamento é conquistar títulos e evoluir dentro de campo para que aconteça. Quando não dá, não é fracasso. São as circunstâncias do futebol. Temos que lembrar que existem muitas outras equipes fortes, com capacidade de chegar.
Com mais quatro partidas, você e o Victor chegarão a 193 atuações pelo Atlético na Série A, ultrapassando o Marques, líder neste quesito. O que isso representa?
Muita coisa. Uma história muito longa. Fico feliz de bater essa marca, passando grandes jogadores. É uma felicidade imensa, e espero continuar trazendo títulos para ratificar toda essa trajetória.
Falando em títulos, o que fez com as chuteiras e os uniformes usados nas finais da Libertadores de 2013 e da Copa do Brasil de 2014? Tiveram algum destino especial?
A faixa de capitão e a camisa da Copa do Brasil estão bem guardadas, assim como a camisa da Libertadores. A chuteira eu doei.Bruno Cantini/Divulgação/Atlético
Preterido após uma lesão no joelho direito, Leonardo Silva trocou a Raposa pelo Galo em 2011
Belo Horizonte será sua cidade mesmo após pendurar as chuteiras?
Já decidi junto com minha esposa que vamos ficar na cidade. É onde vou seguir a vida. Tenho negócios em BH e vou continuar construindo por aqui, mesmo tendo minha família no Rio de Janeiro.
Vai usar com frequência o cartão “Galo na Veia”?
Claro. Mas vou ter que mudar para o Black. Hoje, eu sou Prata (risos).
Jogador de futebol tem medo da aposentadoria?
Não é fácil para ninguém. O futebol é uma coisa com a qual sonho desde criança, e não é fácil você largar tudo assim e começar uma nova carreira. A gente demora para estar pronto. Mas vou vivendo temporada por temporada, tentando prolongar ao máximo possível. Não é medo, é a circunstância.
Se for continuar trabalhando no futebol, pensa em ser técnico, dirigente ou empresário?
Não decidi nada ainda. E não é uma decisão só minha. Ainda penso em jogar e trabalhar para ter condições de representar o clube dentro de campo. Vou pensar nisso depois.
Você foi convidado por um partido político recentemente para se filiar e concorrer às eleições do ano que vem. Acha que poderia desenvolver um bom trabalho na Assembleia Legislativa?
Não sei se é algo que eu queira fazer. Não é a minha praia. Fiquei lisonjeado e surpreso com esse convite, mas uma carreira política não é brincadeira. Ainda mais pela situação do nosso país atualmente.
Voltando aos gramados, o Galo foi o melhor time da fase de grupos da Libertadores de 2017, mas caiu no mata-mata diante do modesto Jorge Wilstermann. Diria que foi uma das maiores decepções da sua carreira?
Neste ano, sim. Pela expectativa que tínhamos, pela classificação que conseguimos também. Perdemos o primeiro jogo e, no segundo, infelizmente, a bola não entrou. Não faltou garra nem determinação. Apenas, eficiência. Se tivéssemos feito um gol, faríamos três ou quatro.
A goleada do River Plate por 8 a 0 sobre os bolivianos na fase seguinte do torneio piorou essa sensação de frustração?
Não. Aconteceu porque a bola deles (River) entrou logo no primeiro minuto. O jogo fluiu, obrigaram o adversário a se abrir.Bruno Cantini/Divulgação/Atlético
Atlético decepcionou torcida e foi eliminado pelo boliviano Jorge Wilstermann nas oitavas da Libertadores
O “Caiu no Horto, tá morto” não existiu em 2017, e o Atlético perdeu oito jogos como mandante no Brasileirão. Por quê?
Essa é a nossa maior frustração. Não conseguir, em casa, ter o mesmo desempenho dos últimos anos. A ansiedade tem tomado conta da maioria dos atletas e refletido nos resultados. Estamos tomando decisões erradas. Quando é para controlar o jogo, estamos querendo atacar de qualquer maneira, e quando é para defender, não conseguimos ter a solidez. O torcedor perde a paciência e acaba nos tirando do controle. Talvez seja mais o controle emocional para termos um padrão, independentemente das circunstâncias do jogo.
Você estreou pelo Galo contra o Cruzeiro e, ao voltar da última lesão, também encarou o rival. O que enfrentar a Raposa representa para você?
Representa uma adrenalina muito grande para todos os atletas. Clássico é um campeonato à parte, é um jogo diferente, independentemente de tudo aquilo que você já fez na competição. É uma partida na qual você tem que fazer muito mais, ter muito foco e atenção. É um desafio na minha carreira.
Você não gosta de falar muito do passado pelo Cruzeiro. Por quê?
Porque já passou, não tem mais o que falar. A minha história já foi criada aqui no Atlético, então não tem motivo para lembrar da passagem que tive pelo Cruzeiro. Fui campeão lá, mas só penso no Galo.
O contexto da sua transferência, em meio a uma lesão no joelho, é um motivo que te incomoda?
Vim para o Atlético para focar no meu trabalho. O que eu fiz aqui no clube mostra que todos aqueles que falaram coisas ruins estavam errados. A história mostra quem estava certo.
Pode revelar algum episódio marcante de pré-jogo, ou uma preleção, algo que tenha te motivado de alguma maneira diferente e tido um resultado especial também dentro de campo?
Na final do Campeonato Mineiro de 2013, ganhamos do Cruzeiro por 3 a 0 no jogo de ida. E, no primeiro tempo da segunda partida, estávamos perdendo por 2 a 0. O intervalo foi muito intenso, houve uma conversa, e o Pierre (ex-volante do Atlético) fez uma colocação muito importante, que trouxe a gente de volta. Estávamos em queda e voltamos de uma forma bem melhor. Conseguimos ser campeões por causa daquela chacoalhada no nosso vestiário.
Se você fosse o técnico Tite, quem seriam os quatro zagueiros da sua Seleção Brasileira hoje?
Se eu fosse o Tite (risos)? A Seleção Brasileira está muito bem representada com os que estão lá, pela proposta de renovação e de sequência. Miranda e Thiago Silva seriam os meus titulares. O Jemerson também vem de uma crescente muito boa, como referência na Europa, sempre prestando atenção em tudo que precisa ser feito. Ele já está pronto e preparado, então tem um futuro muito bonito na Seleção.
E qual foi a sua participação nisso?
Só a de ser parceiro de zaga, orientando da melhor maneira possível dentro de campo.