Quem vê a felicidade estampada no rosto de Juninho, goleiro da URT, não imagina que a razão do sorriso largo vai muito além da classificação do time de Patos de Minas às semifinais do Campeonato Mineiro. O outro motivo, bem mais especial para o camisa 1, é o fim do drama vivido ao lado da esposa, durante quase dois anos.
Fabiana, que é policial militar, reagiu a uma tentativa de assalto, em setembro de 2015 – quando participava de um ensaio fotográfico com Juninho –, e, devido a morte do bandido, precisou responder judicialmente pelo ato.
Vendo a rotina da família desmoronar, o casal se uniu e encarou de frente a batalha para provar a legítima defesa. E conseguiu. Há poucos dias, Fabiana e Juninho receberam a notícia do arquivamento do processo. O troféu mais importante da casa.
“Passamos por muitas dificuldades financeiras e pessoais. Não sabíamos como enfrentar isso. Ficamos abalados e gastamos muito dinheiro”, conta Juninho ao Hoje em Dia. “Infelizmente o governo não dá ajuda aos policiais neste sentido. Foi um aprendizado e tanto”, acrescenta.
Para ajudar nas despesas da casa durante os dias de angústia, o goleiro conciliava as atividades no Nacional-SP com um “corre” de emergência: quando não estava com as luvas, ele usava o próprio carro para trabalhar como Uber.
“Vivi a pior situação da minha carreira que foi ter milhões na conta num dia e de repente não ter mais nada, tendo que contar com a ajuda da família”, relata o camisa 1. “Não temos vergonha disso. Temos orgulho. Deus me deu a oportunidade de viver e começar de novo”, conclui.
Goleiro dos quatro
Feliz com o momento, dentro e fora das quatro linhas, Juninho, de 35 anos, pode se orgulhar de outros feitos, pois é o goleiro do interior que menos sofreu gols na primeira fase do Estadual (11).
Além disso, ele é o único que já vestiu a camisa dos quatro semifinalistas.
“O Cruzeiro foi o clube que me trouxe (em 2006), mas não tive muitas oportunidades lá. Não foi uma passagem marcante. O América me abriu as portas (em 2007) e eu pude disputar o Mineiro e me destacar”, conta o goleiro.
Já o Atlético me deu estrutura familiar, dinheiro e todas as outras coisas. Foi onde aprendi a ter paixão pela torcida, que é maravilhosa. Tenho só coisas boas de Minas”, finaliza.
Em relação ao recomeço na URT, o arqueiro encara como mais que uma oportunidade profissional. Para ele, vestir a camisa do time de Patos é poder voltar a viver em paz.
“Fiquei sete meses parado. Abriram as portas para mim, mesmo depois de estar longe do futebol. A diretoria me deu muita confiança”, conta.
Sonho possível
Apesar de saber o quão difícil será superar o Atlético nos dois próximos domingos, atuando em Belo Horizonte – o primeiro, no Mineirão, como mandante, e o outro como visitante –, Juninho acredita que a URT possa surpreender o líder da primeira fase.
Contudo, caso não aconteça e fique pelo caminho, o goleiro sabe que os torcedores do Trovão Azul terão motivos suficientes para se orgulhar. O título de Campeão do Interior, conquistado pelo segundo ano consecutivo, é o maior deles.
“Fico feliz por voltar a Minas Gerais, por mais um clube diferente, e fazer história novamente”, comemora Juninho.
Curiosamente, as duas equipes se enfrentaram pela mesma fase do Estadual em 2016. Após empate em Patos e vitória do Atlético em BH, o time da capital avançou e deixou para trás o mais forte do interior.Cristiane Mattos/Futura Press/Estadão Conteúdo