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O sonho de Debora Benevides de chegar à final da categoria KL2 na canoagem velocidade da Paralimpíada do Rio-2016 não se concretizou nesta quarta-feira com o quinto e último lugar na segunda bateria de disputa, mas o desempenho mostrou que o caminho escolhido por Indiazinha, como é conhecida a garota por seus colegas, está no sentido certo.
Filha de índios do Mato Grosso do Sul, ela não sabe a etnia nem a aldeia de seus parentes. "Quando eu tinha 3 anos de idade, minha mãe faleceu. Depois meu pai biológico me abandonou. Ele me largou na casa de sua ex-esposa e foi embora", contou a atleta, que a partir deste momento foi criada por uma nova família. "Meu pai biológico nunca ligou e nem quero saber dele. Me jogou na casa da ex-esposa e nunca mais voltou".
Ela era de Água Clara, a 198 quilômetros de Campo Grande, cidade para onde foi levada. E cresceu em um lar com pai, mãe, irmã e foi nesse ambiente que tomou gosto pelo esporte. "Foi lá onde tudo começou. Eles me mostraram o esporte e foi lá que eu tive uma família de verdade", explicou.
Do pouco que consegue se lembrar, não tem memórias de vida em aldeia ou algo do tipo. Como nasceu em 1985, momento que a urbanização já transformava a paisagem local, ela desde cedo morou em cidade. "Na verdade só sei que meus país eram índios. A história não sei ao certo, pois não cheguei a morar em aldeia, mas tenho as características", contou.
Durante a sua adolescência na capital do Mato Grosso do Sul, começou a praticar atletismo, estimulada pela família. Mas um ano depois conheceu a canoagem e se apaixonou. "Minha técnica Marli Cassoli me apresentou o Admir Arantes, que treinava o pessoal da canoagem", explicou a garota, que tinha 16 anos na época.
Com uma má formação no período que sua mãe estava em gestação, Debora nasceu com artrogripose congênita, uma doença rara. "Eu consigo mexer as pernas apenas da coxa para cima e só para frente e para trás", explicou a atleta, que para evoluir na modalidade decidiu se mudar para o Rio de Janeiro quando tinha 18 anos.
"Vim sem condições para cá e meu técnico, o Jorge Souza de Freitas, me adotou como filha. Faço parte da família dele e muitos vieram ver eu competir. Estava todo mundo lá, tia, primo, avô", contou Debora, que também recebeu o carinho de sua outra família de criação. "Depois da prova me mandaram os parabéns".
Nesta sexta-feira ela completa 21 anos e garante que sai feliz por seu desempenho na Paralimpíada. "Não saio frustrada. Com pouco tempo de treino consegui estar aqui e só lamento não ter chegado à final. Vou rever meus erros e trabalhar nisso para brigar por uma medalha em Tóquio. Nem que seja de bronze", concluiu Indiazinha, mirando um futuro promissor.
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