(AFP PHOTO / GUSTAVO ANDRADE)
O Complexo arquitetônico da Pampulha, agora Patrimônio Cultural da Humanidade, e que contempla dentre suas várias obras de arte, o Mineirão, amanheceu diferente neste sábado. A data de 20 de agosto de 2016 marcou a despedida do Gigante da Pampulha dos Jogos Olímpicos Rio-2016. O décimo e último capítulo após nove jogos de mais uma bela história internacional no estádio teve como protagonistas nigerianos e hondurenhos, na disputa pela medalha de bronze no futebol masculino. Tarde feliz para a Nigéria, que terminou com a terceira colocação ao vencer o duelo por 3 a 2. Os gols da tarde foram marcados por Sadiq Umar (2) e Aminu Umar para os africanos, com Alberth Elis e Marcelo Pereira descontando para a seleção da América Central.
Primeiro estádio no Brasil a completar a trinca de jogos das mais importantes competições do futebol mundial, Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíada, o Mineirão recebeu um público pequeno neste sábado. Muito em função da pouca expressão dos adversários em relação a outros competidores que caíram de forma precoce nos Jogos, como a Argentina, por exemplo.- E também pelo preço “salgado” do ingresso, já que o bilhete mais barato custou R$ 240. Mas nem isso impediu que uma festa fosse feita em um dos palcos mais importantes do esporte brasileiro.
Apesar dos pesares e dos entraves que fizeram o Gigante da Pampulha receber um público pequeno, quem mostrou ânimo para comparecer, em sua maioria, não escondeu preferência em torcer para os nigerianos. Enquanto a bola rolava no gramado, nas arquibancadas a torcida gritava “Nigéria, Nigéria”. E se os jogadores de Honduras encostavam na bola ou tentavam uma investida ofensiva, levavam tímidas vaias.
Em alguns momentos, como no segundo tempo do jogo, torcedores mais animados gritavam “olé, olé” durante troca de passes dos atletas de Honduras. Depois de bons toques na bola e um chapéu de Alberth Elis em Aminu Umar, autor de um dos gols nigerianos, o público se animou. Ao delírio mesmo eles foram com o gol de Anthony Lozano, o primeiro da equipe da América Central.
Apesar do clima amistoso, a atmosfera do jogo era diferente de uma partida corriqueira do futebol nacional. Como o evento reuniu duas seleções de menor expressão – em relação à finalíssima dos Jogos entre Brasil e Alemanha - e sem tanta ligação com Belo Horizonte, até “parabéns para alguém de nome Marina” cantaram nas arquibancadas. E quase deixaram a tal Marina um pouco constrangida com a musiquinha: “A rá, Uh rú, ô Marina eu vou comer seu... bolo”. Para a alegria de muitos e tranquilidade, principalmente, dos familiares da aniversariante do dia.
De volta ao futebol, o som que ecoava das arquibancadas, além das comemorações de gol, se dividia entre “Uhh, Uhh” a cada chance de ataque desperdiçada, aplausos, vaias e até algumas provocações machistas – comuns no futebol brasileiro – direcionadas aos atletas de Honduras. A se comemorar o fato de os gritos de “ohhhhhh bicha” após cobranças de tiros de meta não terem sido proferidos. Palmas!
Depois esse clima pouco hostil mudou. Houve muito apoio aos hondurenhos, que ficaram no quase para fazer história, já que seria a primeira medalha do país nos Jogos. Os nigerianos, ouro em Atlanta, em 1996, e prata em Pequim, em 2008, agora ficaram com o bronze.
Ao fim do confronto, até uma “ola” foi ensaiada, mostrando que a alegria e descontração ditaram o ritmo dos Jogos Olímpicos na capital mineira. Quando Marcelo Pereira balançou as redes nigerianas pela segunda vez, a menos de quatro minutos para o fim da partida, gritos de “eu acredito” e “si se puede”, em tradução literal “Sim, se pode” – uma versão gringa do mantra atleticano também foi ouvido.
Emocionados, atletas e comissão técnica de Honduras, ao apito final do árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci, se dirigiram ao centro do gramado e se ajoelharam, como se estivessem em um momento de oração. Eles agradeceram ao público com acenos e foram, de forma muito bonita, saudados. á os nigerianos subiram ao pódio, receberam a medalha de bronze e fizeram festa no gramado do Mineirão. Eles tiraram fotos, se abraçaram, foram ovacionados pela torcida em imagens que vão ficar marcadas na história. Lindas cenas que deixaram a tarde ensolarada de Belo Horizonte ainda mais bonita.