(Abelardo Mendes Jr/ Ministério do Esporte)
A capixaba Natália Gaudio pratica ginástica rítmica desde os seis anos. Nessas mais de duas décadas, ela construiu uma carreira cheia de conquistas. O hexa brasileiro, hepta sul-americano, o bronze no Pan de Lima e a vaga olímpica para os Jogos de 2016 (Rio de Janeiro) no individual são algumas delas. Sem sombra de dúvidas, vitórias importantes dentro das quadras. Porém, a atleta busca uma outra conquista fora delas, o reconhecimento da importância de uma maior longevidade para ginastas da modalidade. “Infelizmente é uma carreira curta. Gostaria que fosse diferente, mas posso dizer que é praticamente a reta final da minha carreira”, declarou à Agência Brasil.
Muito da cultura de as atletas se aposentarem cedo na ginástica rítmica tem relação com a Rússia. “Eles têm pela ginástica rítmica o mesmo sentimento que os brasileiros têm pelo futebol. A Rússia tem muito material humano. As atletas acabam se tornando descartáveis. Um caso clássico é a Yevgeniya Kanayeva, única bicampeã olímpica, que se aposentou aos 22 anos”, diz.
Segundo Natália, “a ginástica precisa tratar melhor as atletas de mais idade. Somos mulheres na hora de entrar na quadra, temos uma experiência totalmente diferente. A ginástica rítmica foi feita também para nós. Tenho lutado muito por isso e gosto de ver que essa realidade tem mudado bastante aqui no Brasil”.
Vale lembrar que a modalidade é exclusivamente feminina, e ingressou no programa olímpico nos Jogos de 1984 (Los Angeles). Naquela edição, os países da antiga União Soviética não participaram por causa do boicote aos Estados Unidos. Depois, as atletas soviéticas garantiram uma hegemonia na modalidade com muitas conquistas (apenas em 1992 e 1996 o ouro não ficou com russas, mas foi para atletas da Ucrânia, outra antiga república socialista). A atleta mais velha em uma edição olímpica foi a espanhola Carolina Rodríguez, que participou dos Jogos do Rio de Janeiro com 30 anos.
E foi justamente na edição de quatro anos atrás que a brasileira quebrou uma marca de 24 anos sem representantes nacionais na prova individual olímpica, sendo também a terceira atleta a representar o país nos Jogos (a primeira foi Rosana Favila, em 1984, e a segunda foi Marta Schonhurst, em 1992): “Estar nos Jogos era meu maior sonho. Foi a maior emoção da minha vida. Graças a Deus, deu tudo certo. E foi um sonho realizado com felicidade em dobro, porque, além de estar entre as melhores do mundo, foi diante da minha família. Inesquecível".
Agora, o objetivo da Natália é fazer história mais uma vez e se classificar para a segunda olimpíada consecutiva. O caminho mais acessível é buscar a vaga através do Pan-americano da modalidade, que deve ocorrer até junho do ano que vem. “Se mantiver minha posição dos Jogos Pan-americanos do ano passado (bronze), ficando atrás apenas das americanas, estaria classificada para Tóquio. Os Estados Unidos já conquistaram as vagas pelo Mundial de Baku do ano passado. A tendência é que eu e a Bárbara Domingos briguemos pela vaga com as mexicanas e as canadenses”, projeta Natália, que também foi quarta colocada no aparelho fita em 2018 e finalista em 2019 na Copa do Mundo de Portimão (Portugal). “De um tempo para cá, estamos quebrando marcas importantes. Estamos abrindo portas para as próximas gerações, mostrando que as brasileiras são muito fortes no individual também, não só nas disputas em conjunto”, diz.
Para os Jogos de Paris, em 2024, quando Natália estará com 31 anos, ela mantém cautela. “Quem sabe, né? Mas vou deixar a vida me levar. Nunca fui de fazer muitos planos a longo prazo. Prefiro deixar as coisas acontecerem, ainda mais nesse momento. Nem sabemos se as Olimpíadas vão acontecer em 2021, então vou dar tempo ao tempo. Vou vivendo um passo de cada vez”, disse a ginasta em live nas redes sociais da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).