No Japão, Nilton sente saudade do Cruzeiro: 'bi do Brasileirão é maior conquista da minha carreira'

Guilherme Guimarães
gguimaraes@hojeemdia.com.br
31/10/2016 às 20:14.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:28
 (Vissel Kobe/Divulgação)

(Vissel Kobe/Divulgação)

Bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro em 2013 e 2014, o volante Nilton, que conquistou o carinho dos cruzeirenses, deixou o clube celeste em 2015 para defender o Internacional. Nem mesmo com a saída do volante, os torcedores celestes esqueceram o meio-campista, que hoje defende as cores do Vissel Kobe, do Japão. 

Mesmo de longe e lá do outro lado do mundo, Nilton também não se esquece dos adeptos da Raposa, que até hoje enviam inúmeras mensagens para o jogador por meio das redes sociais. 

Em entrevista ao Hoje em Dia, o ex-volante cinco estrelas relembra sua passagem pela Toca II, conta detalhes de sua saída do clube, inclusive da negociação frustrada com a Internazionale de Milão-ITA - entre 2013 e 2014 -, e fala de sua passagem Vissel Kobe, do Japão. 

Dois títulos do Campeonato Brasileiro em sequência. O Cruzeiro de 2013/2014 foi o melhor time que você jogou na carreira?

Passei por vários clubes grandes no Brasil, e sou grato por isso. Em 2013 e 2014 foram dois títulos brasileiros que ficam na memória, conquistas mais importantes. Tenho o Brasileiro de 2005 pelo Corinthians, mas por ter me tornado um dos protagonistas daqueles bicampeonato, posso dizer que foi um dos melhores grupos pelos quais passei. É até difícil montar uma equipe igual aquela que o Alexandre Mattos reuniu. Fica guardado na lembrança os anos de 2013 e 2014 pela harmonia e amizade que criei com o grupo. São os dois melhores títulos da minha carreira, por ter protagonismo e por ter ajudado o Cruzeiro, que há dez anos não ganhava um Brasileirão. Depois de dez anos você conseguir títulos dessa grandeza, fica inesquecível. Está guardado na memória.  

Em 2015 você saiu do Cruzeiro, mas até hoje suas redes sociais são inundadas de mensagens de cruzeirenses. Dá saudade dos tempos de Toca da Raposa II?

Acabei passando dois anos no Cruzeiro e em 2015 me transferi para o Internacional. Era um sonho antigo do Inter me contratar. Gosto de desafios, gosto de passar por cima das adversidades, já tinha minha vida estabilizada, tinha um nome no Cruzeiro. Tentei me surpreender, fui para outra grande equipe. Minhas redes sociais até hoje tem muita participação de cruzeirenses, mais até do que de corintianos, vascaínos, e torcedores do próprio Internacional. Os torcedores que guardam com carinho a conquista desses dois títulos nacionais, fico feliz demais por isso, sou feliz pela forma como me tratam até hoje. Não só nas redes sociais, mas quando acabam me vendo nas ruas, nos shoppings. Eles me parabenizam, pedem minha volta ao clube. É muito legal você deixar uma história bacana em um clube grande. A gente não fala nunca, pois não se sabe o dia de amanhã. Mas, tentamos deixar boas impressões por onde passamos, para que as portas fiquem abertas para um possível retorno no futuro.Arquivo Pessoal/Nilton

Sua saída do Cruzeiro já era esperada, até mesmo pelo interesse de outras equipes, inclusive a Internazionale de Milão-ITA. Qual o real motivo que fez o Nilton não ir à Europa naquela oportunidade? Ficou uma ponta de frustração pelo negócio ter falhado?

A Internazionale de Milão desde 2013 teve interesse no meu futebol. Desde o começo do ano me observavam, e no meio daquela temporada queriam um jogador para substituir o Cambiasso (volante argentino que jogava na equipe italiana). Eles vieram e me perguntaram se eu tinha interesse. Pensei muito, pois estava bem no Cruzeiro, mas acabei aceitando. O clube também se interessou, estaria bom para os dois lados pelo lado financeiro. Viajei para assinar o contrato, tinha até um documento de gaveta com eles. Estava tudo preparado para fechar o contrato, mas foram diferentes os termos daqueles que haviam sido apresentados para o Cruzeiro. Para mim estava tudo certo, mas para o clube não. Então, não poderia virar as costas para o Cruzeiro naquele momento, por tudo que o clube me proporcionou. Era uma grande chance de ir para a Europa, mas não fui, não seria coerente da minha parte sair daquela forma. Claro que fiquei chateado e triste, pois quem não gostaria de jogar na Inter de Milão, campeã da Champions League, vários outros troféus importantes. Não abaixei a cabeça, mas me automotivei. Liguei para o Marcelo (Oliveira) lá da Itália mesmo e disse que voltaria para ganharmos mais um Brasileiro. E foi o que aconteceu. 

Naquela época, o presidente do Cruzeiro chegou a dizer que uma transferência seria importante para sua independência financeira. 

Eu, minha esposa e mais um agente do Internacional sentamos com o presidente (Gilvan), e vimos que, naquele momento, (sair do clube) seria bom para a minha vida profissional. Mais um obstáculo para eu superar, passar por cima e mostrar minha capacidade. Gosto de deixar boas impressões por onde eu passo. Foi um teste para mim ir para o Internacional, eu estava bem no Cruzeiro. E o presidente cedeu ao que o Inter ofereceu, e teve o meu interesse de ir. Claro que dá uma tristeza de deixar a cidade, o clube e a torcida que me idolatrava. Vi o que seria melhor para os dois lados, não enxerguei meu próprio nariz. Foi uma quantia boa, uma negociação boa para ambos. As três partes ficaram bem com a negociação e acabei seguindo meu rumo àquela época. E hoje estou aqui no Japão. 

Com a ida para o Internacional e, agora, sua ida para o Japão, deu para fazer um bom pé de meia?

Pé de meia a gente quer fazer sempre, ter uma vida financeira tranquila. Isso pesou também na hora que o Vissel Kobe apareceu querendo minha contratação junto ao Internacional. É um sonho de qualquer jogador atuar fora do país, o meu sonho não era diferente. Talvez essa seria minha ultima transferência internacional. Conversei com os dirigentes do Inter, pois eu estava retornando de uma suspensão por doping. No começo eles não queriam me liberar, mas depois acabaram aceitando, para não brecar a minha carreira. Aqui a gente acaba, na medida do possível, tentando fazer o melhor e conquistar título e cravar o nosso nome no Japão também.Divulgação/Vissel Kobe

Você fez gols bonitos pelo Cruzeiro e Internacional. No Vissel Kobe o pessoal tem medo das suas cobranças de falta? Já saiu gol de “pedrada” por aí?

Passei por grandes clubes e fiz gols importantes, bonitos também, e sempre sou lembrado pelo chute de longa distância e força que eu tenho. Consegui fazer isso pelo Internacional, Cruzeiro, Corinthians e Vasco também. O Internacional eu fiz gols, mas não dentro da minha principal característica. No Vissel Kobe eu cheguei e eles já sabiam das minhas características, dos chutes de longa distância e forte. Aqui eu não fiz gol de falta ou longa distância, mas a cabeça está funcionando, foram três gols, todos de cabeça. Além de duas assistências. A gente tenta trabalhar os chutes para tentar surpreender os goleiros aqui. 

O Nelsinho Baptista, seu treinador no Vissel Kobe, já treinou o Cruzeiro. Já rolou alguma conversa sua com ele sobre o clube mineiro? Algum caso interessante que ele te contou?

Nem me recordava dessa passagem do Nelsinho pelo Cruzeiro. Por enquanto a gente não conversou sobre isso, sobre o clube. Mas já conversamos sobre o Corinthians, sobre a Copa do Brasil que ele venceu pelo Sport enquanto eu era jogador do clube paulista. É sempre bom relembrar os velhos tempos, mas ainda não falamos a respeito do Cruzeiro.

O Cruzeiro passa por uma situação difícil no Campeonato Brasileiro. Mesmo longe você acompanha, pelo menos um pouco, as notícias da equipe? 

Hoje o Cruzeiro está bem melhor do que anteriormente, claro que o contato eu mantenho, pois temos um grupo dos jogadores que atuaram desde 2013. A gente brinca, tira sarro um do outro, e não perco os contatos, formei amigos. A minha torcida é grande pelos companheiros e pela grandeza que o Cruzeiro representa no futebol brasileiro. Fico na torcida para que o clube possa se distanciar dessa zona que não é confortável. Hoje eles estão mais tranquilos, a chegada do Mano Menezes junto com a determinação dos jogadores fizeram com que o grupo buscasse vitórias dentro e fora de casa. A gente fica feliz e sempre torcendo para que eles deixem o Cruzeiro nas primeiras colocações, devido lugar desse clube.

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