Notáveis investigam pagamento de R$ 500 mil a intermediário por contrato da Adidas com o Cruzeiro

Guilherme Piu e Alexandre Simões
30/12/2019 às 10:46.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:08
 (Divulgação / Cruzeiro)

(Divulgação / Cruzeiro)

Divulgação / Cruzeiro 

O que era para ser um feito histórico se tornou uma bomba relógio para o Cruzeiro. O retorno da Adidas ao clube após mais de 30 anos (empresa vestiu a Raposa nos anos 1980) está causando enorme dor de cabeça e a cada análise feita pelo Núcleo Dirigente Transitório nos documentos um fato novo é descoberto. Por isso está marcada para a primeira semana de 2020 uma reunião que discutirá o caminho a ser trilhado. E, além da possibilidade de rescisão, um outro assunto tomará conta de boa parte da conversa, marcada para o dia 9 de janeiro: a suspeita de pagamento de comissão a um intermediário pelo acordo com a empresa alemã.

Segundo apurou o Hoje em Dia, o acerto entre Cruzeiro e Adidas teria beneficiado um terceiro elemento. E esse “player” teria recebido algo em torno de meio milhão de reais pelo simples fato de ter intermediado a assinatura do contrato entre a fornecedora de material esportivo e o clube celeste. 

A reportagem recebeu informações de que o caso está sendo investigado internamente e também será repassado à Polícia Civil. O assunto é tratado com urgência pela cúpula do Núcleo Dirigente Transitório. Por intermédio do vice presidente do grupo, Vittorio Medioli, aventou-se a possibilidade de o Cruzeiro produzir os seus próprios uniformes. Assunto que também será tratado na reunião do dia 9 de janeiro.

Problemas no contrato 

“Fazer um contrato em que a Adidas ganha dinheiro e o Cruzeiro segura a brocha, não dá”. Com essas palavras, Vittorio Medioli iniciou toda a discussão em torno do contrato envolvendo o Cruzeiro e a Adidas. 

Segundo o blog do jornalista Victor Martins, no Yahoo, o Cruzeiro pagará por cada uniforme que utilizar.  De acordo com a publicação, o clube terá que pagar pelo uniforme toda vez que houver um jogo, seja no time principal, no feminino ou nas categorias de base. 

Ainda de acordo com Martins, o valor será descontado do montante acumulado nos royalties que a empresa alemã teria que pagar ao Cruzeiro pela venda de produtos com a sua marca. 

Conforme apurou o Hoje em Dia, caso o Cruzeiro necessite de qualquer produto da linha Adidas, ele não mais poderá solicitar os materiais em suas lojas oficiais. Terá que adquirir em um fornecedor indicado pela Adidas. 

Por exemplo, o clube precisando de materiais para fixar números nas camisas oficiais, não mais poderá solicitar aos lojistas esse tipo de produto. Pegará diretamente com uma fornecedora autorizada pela empresa alemã. E tudo isso terá um custo ao Cruzeiro, que pode chegar a até R$ 2 milhões anuais.  

Lembrando que a diretoria anterior, presidida por Wagner Pires de Sá, adiantou cerca de R$ 2,5 milhões desses royalties para quitar dívidas recentes. 

Ou seja, como já está devendo a Adidas pelo adiantamento de royalties e teria acordado pagar mais R$ 500 mil a um intermediário pelo fechamento do contrato, em um cenário pessimista mas muito realista, o Cruzeiro pode terminar o ano sem faturar nada com a parceria. Pelo contrário, poderia finalizar 2020 pagando para jogar de Adidas. 

Na última semana o site "Deus Me Dibre" (DMD) publicou matéria revelando e-mails trocados entre personagens importantes da antiga diretoria. As conversas mostravam a negociação para a assinatura do contrato com a Adidas, chamado de "insustentável" por Vittorio Medioli.

Nas conversas vazadas pelo DMD, Sérgio Nonato, diretor geral à época, contestou os termos contratuais apresentados. O ex-vice de futebol Itair Machado, mesmo assim, pediu que a assinatura do contrato fosse acelerada, e reiterou que a parceria entre o Cruzeiro e Adidas acontecia por causa de seus esforços. 

Desespero dos lojistas 

Essa indefinição sobre o acordo entre Cruzeiro e Adidas influencia diretamente no trabalho dos lojistas proprietários das franquias oficiais. 

É que todas as lojas já foram abastecidas com a primeira remessa, principalmente de camisas oficiais da Adidas, e no dia 2 de janeiro as vendas serão iniciadas para o público em geral. 

Com o estoque muito cheio há o temor por um prejuízo por parte dos proprietários das franquias com a possível rescisão de contrato com a empresa alemã. 

O Hoje em Dia conversou com alguns lojistas nos últimos dias e apurou que os pedidos de materiais começaram a ser feitos ainda em maio, momento em que o Cruzeiro estava muito bem na temporada, brigando pela melhor campanha da fase de grupos da Libertadores e com o título recente de campeão mineiro.

Por conta dessa euforia e da expectativa por uma temporada de glórias - o que ficou longe de acontecer - o pedido na fábrica foi, ainda de acordo com a reportagem, três vezes maior se comparado ao primeiro fornecimento de materiais da Umbro. 

Como as lojas oficiais iniciarão a comercialização dos produtos Adidas no próximo 2 de janeiro, os vendedores das franqueadas estão se preparando com treinamentos específicos. E os proprietários das lojas adequando-as com a identidade visual da nova fornecedora. 

“Estou com milhares de sacolas com a marca da Adidas no estoque. Como que vou fazer se essa parceria que foi anunciada sequer começar? E o prejuízo?”, destacou um dos lojistas que, temendo represálias, pediu para sua identidade ser preservada.

Cruzeiro e Adidas firmaram contrato por três anos, com início do vínculo em 2020 e término em  dezembro de 2022. 

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