CEO da “Feel The Match” fala sobre a série A Máfia do Apito e os desafios de levar grandes histórias do esporte para o audiovisual
Diretor do Documentário Máfia do Apito, também dirigiu o dvd do Romário (Bruno Bezerra /Feel the match)
Com mais de duas décadas de atuação no mercado, Bruno Maia construiu uma carreira marcada pela intersecção entre esporte, comunicação e entretenimento. À frente da “Feel The Match”, empresa criada em 2021, o executivo tem se destacado na produção de conteúdos audiovisuais que dialogam diretamente com o universo esportivo e suas contradições.
Criador e diretor de projetos de impacto, Maia esteve por trás de séries como “Nos Armários dos Vestiários”, que discutiu a homofobia no futebol, e “Romário - O Cara”, produção da Max que se tornou a maior já feita sobre um jogador brasileiro. Agora, ele volta a explorar um dos capítulos mais polêmicos da história recente do esporte no país.
Edilson Pereira de Carvalho (Reprodução: Spotv)
Lançada em parceria com o Sportv e disponível no Globoplay, “A Máfia do Apito” revisita o escândalo de manipulação de resultados de 2005. A série mistura elementos de investigação, humor e ritmo narrativo próximo ao cinema de ação para retratar como personagens comuns se viram no centro de um dos maiores casos de corrupção do futebol brasileiro.
Em entrevista ao Hoje em Dia, Bruno Maia conta detalhes sobre o processo criativo, os bastidores da produção e como enxerga o futuro do audiovisual esportivo no Brasil.
Como surgiu a ideia de transformar a história da Máfia do Apito em uma série documental?
A Máfia do Apito é, antes de tudo, uma grande história. Uma história vivida por personagens comuns que, de repente, se viram envolvidos em um escândalo de grandes proporções. Para os criminosos, no início, parecia algo trivial, mas o caso ganhou dimensão e envolveu jornalistas, promotores e a Justiça. Tornou-se um espetáculo de crime, cinismo, aventura e investigação. Isso nos estimulou a criar a série e também a refletir sobre a fragilidade do futebol brasileiro. Não é apenas sobre uma pessoa, mas sobre um sistema que pode desmoronar se não houver atenção.
Durante as gravações, houve algum depoimento ou situação que mais surpreendeu você?
O que mais nos surpreendeu foi o Gibão, principal apostador, que nunca havia dado entrevista. Sempre o imaginávamos como um personagem mafioso, sofisticado, responsável por um grande esquema. No entanto, encontramos alguém muito mais cômico e desajeitado, um perfil bem diferente do que imaginávamos. Sem desmerecer os crimes que cometeu, sua figura nos surpreendeu pela forma distinta de como era visto.
Quais foram os principais desafios técnicos e narrativos da produção?
O maior desafio foi transformar uma história que poderia ser um grande podcast em uma série audiovisual atraente. Não havia imagens diretas dos crimes, apenas registros subjetivos de arbitragem. Então, precisávamos criar um universo visual interessante, com ritmo de filme de ação. Trabalhamos com uma estética rápida, trilha musical que dialoga com as cenas e elementos gráficos que traduzissem a psicologia dos personagens. Conseguimos dar dinamismo e criar algo além de uma reportagem ou podcast.
O que a parceria com a Globo representa para a série e para a Feel The Match?
Foi muito importante. O Sportv acreditou no projeto desde o início, entendeu o potencial da série e nos deu liberdade para trabalhar. Foi o melhor lugar para lançar A Máfia do Apito. Agora, com a disponibilidade no Globoplay, o alcance se torna ainda maior. Foi nossa primeira parceria com o canal, e espero que possamos desenvolver outros projetos juntos.
Quais são suas expectativas em relação à repercussão da série após o lançamento no Globoplay?
O Globoplay é uma vitrine muito relevante no Brasil. Ele permite que as pessoas assistam no tempo delas, em família, e isso é essencial para esse tipo de conteúdo. Como a série tem elementos de “true crime”, gênero que funciona bem nas plataformas, acredito que terá boa repercussão, sobretudo por conseguir equilibrar responsabilidade com um tom de humor que traz frescor à narrativa.
Você acredita que a série pode ajudar a reabrir o debate sobre ética e corrupção no futebol?
Acredito que esse debate nunca se fechou. O que a série propõe é reforçar a necessidade de mantê-lo vivo. A vontade de corromper o sistema existe desde que a ordem foi criada. O futebol não é exceção, e as fraudes vão se sofisticando ao longo do tempo. Hoje, por exemplo, discutimos também a influência de jogadores e apostas individuais. É fundamental manter a vigilância para preservar o espetáculo.
Houve inspiração em produções internacionais para a construção da narrativa?
Sim, mas não de forma direta. Buscamos referências em diferentes universos: documentários, filmes de ação, faroestes e até produções que exploram criminosos comuns. Queríamos construir uma narrativa frenética, com cortes rápidos e falas ágeis, transmitindo a sensação de movimento constante. A ideia era fugir do convencional e trazer uma linguagem documental mais cinematográfica.
Quais os próximos projetos da Feel The Match após Máfia do Apito?
Produtores audiovisuais no Brasil trabalham com muitos projetos em paralelo, e alguns acabam ganhando ritmo até se tornarem produção. Temos várias ideias em andamento, mas nada anunciado ainda. Em breve, espero poder compartilhar uma nova história interessante com o público.
Como você enxerga o futuro do audiovisual esportivo no Brasil?
Acredito que o futebol precisa se aproximar mais do cinema, e o cinema precisa abraçar mais o futebol. É um dos maiores símbolos da nossa identidade cultural, ao lado da música, mas ainda pouco explorado. Os documentários têm um espaço importante, especialmente quando usam linguagem cinematográfica. Há uma geração de novos diretores investindo nessa área, como Raphael Pirrho e Susana Lira, e isso é animador. Ainda há muito espaço para crescer, e continuaremos contribuindo com novas produções.
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