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‘O pôquer ganhou legitimidade e é visto como uma atividade intelectual’, diz Cavarge

CEO da Federação Mundial analisa ganhos do reconhecimento como esporte da mente

Angel Drumond
esportes@hojeemdia.com.br
Publicado em 16/12/2024 às 07:30.
 (WPF)

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Em uma vitória histórica para o pôquer, a International Mind Sports Association (IMSA) reconheceu oficialmente a modalidade como um esporte da mente, após dois anos como membro provisório. A decisão foi anunciada durante uma cerimônia promovida pela World Poker Federation (WPF), ou Federação Mundial de Pôquer, em São Paulo. Executivos de federações internacionais e representantes da IMSA marcaram presença e confirmaram a mudança de status do pôquer, que agora se junta a outros esportes da mente, como o xadrez e os eSports.

A Federação Mundial de Pôquer, que tem trabalhado há mais de 20 anos para promover o jogo como uma disciplina intelectual, celebra o avanço. O CEO da entidade, o paulista Leonardo Cavarge, responsável por otimizar as operações e impulsionar o crescimento estratégico da organização, celebrou a conquista que, segundo ele, vai construir uma verdadeira estrutura esportiva global.

Cavarge, que se destacou como jogador profissional de pôquer, tendo conquistado mais de R$ 2 milhões de premiação em torneios espalhados por todo o mundo e sendo o primeiro paulista a obter o título de campeão brasileiro de pôquer, conversou com o Hoje em Dia e explicou como a mudança pode impactar o agora “esporte da mente”, em todo o mundo, tendo o Brasil como protagonista.

(WPF)

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Como o reconhecimento oficial da IMSA influencia a estrutura de torneios e competições de pôquer ao redor do mundo?

O reconhecimento oficial da IMSA transforma a forma como os torneios e competições de pôquer são percebidos e organizados globalmente. Consolida a modalidade como um esporte da mente, atraindo maior atenção de veículos de comunicação esportiva. Isso amplia a cobertura dos eventos e contribui para alcançar novos públicos. Além disso, também cria oportunidades para atrair patrocinadores de fora do universo tradicional do pôquer, trazendo maior diversidade e investimento para os torneios. Com isso, é possível criar competições mais estruturadas, acessíveis e atraentes, tanto para os jogadores quanto para as federações e empresas envolvidas. Essa evolução é um marco que impulsiona a modalidade a alcançar novos públicos, consolidar sua estrutura e ampliar seu impacto no mundo esportivo.

O que significa para a comunidade de pôquer o fato de o Brasil ter protagonismo nessa mudança, com a sede da WPF no país?

Representa o esforço coletivo de toda a comunidade global do pôquer. A organização reúne 49 federações nacionais, jogadores, marcas, organizadores e outras partes interessadas, que trabalham juntas em prol do reconhecimento e crescimento da modalidade. O protagonismo do Brasil simboliza o papel pioneiro do país na regulamentação, que serviu como exemplo de como a modalidade pode ser distinguida dos jogos de azar e reconhecida como um esporte de habilidade e estratégia. A sede da WPF no país reflete esse histórico, mas o sucesso alcançado só foi possível graças ao engajamento e colaboração de federações e comunidades de diversos países. Para a comunidade global, o Brasil representa um ponto de união e um modelo de liderança que inspira outras nações. Já para os brasileiros, é um reconhecimento de seu impacto no cenário internacional e uma oportunidade de reforçar sua contribuição para o futuro do pôquer como um esporte da mente.

Qual a contribuição da WPF no processo? Como foi o passo a passo para que a modalidade pudesse se tornar um esporte da mente?

O processo começou com a aprovação inicial da WPF como membro observador. A partir daí a entidade teve a oportunidade de apresentar o pôquer como uma modalidade com todas as características necessárias para se tornar um membro definitivo. Para isso, foi realizado um rigoroso processo de análise em duas frentes. Primeiro, o pôquer foi avaliado como modalidade, comprovando que é um esporte baseado em habilidade, estratégia, raciocínio lógico e desenvolvimento intelectual. Em paralelo, a IMSA analisou a WPF como entidade global responsável por representar o pôquer. Esse processo incluiu a verificação de seu alcance ao redor do mundo, com 49 federações filiadas em seis continentes, e da capacidade dessas federações de organizarem alguns dos maiores e mais relevantes torneios do mundo. Outro critério importante foi a estrutura organizacional e regulatória da WPF, que atende aos padrões internacionais de governança esportiva, incluindo a implementação de estatutos, políticas antidoping e regulamentos que garantem um ambiente justo e seguro para a prática do pôquer.

Como esse reconhecimento pode contribuir para a formação de parcerias com outras modalidades esportivas e intelectuais?

O reconhecimento pela IMSA cria um ponto de conexão natural entre o pôquer e outras modalidades esportivas e intelectuais. Ele abre portas para colaborações em eventos conjuntos, como competições multiesportivas, e permite que o pôquer seja inserido em espaços que celebram atividades baseadas em habilidade e estratégia. Além disso, essa classificação torna o pôquer mais atrativo para patrocinadores e marcas que já investem em outros esportes. Parcerias entre modalidades podem ampliar o alcance de eventos, aumentar a visibilidade e atrair novos públicos, fortalecendo a imagem do pôquer como um esporte intelectual e estratégico.

(WPF)

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Antes de ser reconhecido como um esporte da mente, havia um preconceito com relação ao pôquer, por confundirem a modalidade com os jogos de azar. De que forma a nova classificação ajuda a combater essa ideia?

A nova classificação reforça a separação entre pôquer e jogos de azar, destacando suas características de habilidade, estratégia e controle emocional. Essa distinção é um argumento sólido para educar o público, governos e patrocinadores sobre a verdadeira natureza da modalidade. Ao ser reconhecido como um esporte da mente, o pôquer ganha legitimidade e passa a ser visto como uma atividade intelectual comparável ao xadrez ou aos eSports, por exemplo. Isso facilita a regulamentação em países onde ainda há preconceito, além de atrair maior apoio institucional e público, combatendo estigmas e promovendo uma imagem mais positiva e justa.

O que o pôquer pode aprender com outros esportes da mente, como o xadrez, para melhorar sua organização e desenvolvimento global?

O pôquer pode se inspirar nesses esportes para fortalecer sua organização e alcance global. Elementos como: rankings centralizados, competições regulares reconhecidas internacionalmente e programas que incentivem o desenvolvimento de novos talentos são exemplos que podem ser adaptados. Além disso, estratégias educacionais, como a inclusão de programas de pôquer em escolas e comunidades, podem ajudar a demonstrar seu valor como ferramenta de aprendizado e desenvolvimento intelectual. Outro ponto importante é adotar modelos de governança que priorizem a colaboração global e a inclusão de todas as partes interessadas, garantindo um crescimento sustentável e estruturado.

Quais os passos agora com a nova classificação da modalidade? Veremos o pôquer nos próximos Jogos Olímpicos?

O próximo passo é consolidar a estrutura global do pôquer. Isso inclui padronizar regulamentos, fortalecer as federações e promover competições internacionais que destaquem a estratégia e a habilidade envolvidas no jogo. Embora a inclusão nos Jogos Olímpicos seja um objetivo aspiracional, não é o foco no momento. Nosso trabalho está voltado para solidificar o pôquer como um esporte respeitado, acessível e sustentável. Com o tempo, à medida que a modalidade continuar a ganhar legitimidade e popularidade, estaremos mais preparados para pleitear essa oportunidade em fóruns internacionais.

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