Papo em Dia: 'A cidade inteira me chama de General', destaca volante Leandro Donizete

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
17/08/2018 às 17:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:58
 (Henrique André)

(Henrique André)

Falar de Leandro Donizete e não citar a raça e a determinação do volante em campo é impossível. Aos 36 anos e titular absoluto de Adilson Batista no América, o paulista, nascido em Araraquara, quer provar que ainda tem muita lenha para queimar na elite do futebol brasileiro.

Ídolo no Atlético, onde fez 231 partidas e conquistou Libertadores (2013) e Copa do Brasil (2014), o “General” quer deixar de lado a rejeição sofrida no Santos, clube com o qual tem vínculo de mais um ano, e ser um dos protagonistas do Coelho em 2018.

Nesta entrevista ao Hoje em Dia, ele fala sobre o desafio de evitar o rebaixamento na Série A, como têm sido os dias no alviverde, relembra o passado pelo Galo e muito mais.

O que te incentivou a voltar a Belo Horizonte para defender o América?

Para mim foi maravilhoso né? Estava passando apertado em Santos, não sendo utilizado, treinando praticamente separado. Precisava buscar forças em outro lugar e provar novamente que eu tenho qualidade, que estou motivado para jogar ainda. Tive oportunidade de jogar no Rio, mas BH se tornou minha casa. O projeto do América também pesou. Gostei da sinceridade do Salum e do Ricardo (Drubscky). Eles conversaram olho no olho, assim como o Enderson (Moreira), e o time era muito bom. Vim ser feliz aqui e espero que a gente se mantenha na Série A e busque coisas maiores.

Como foi o processo para esta transferência? Foi demorado?

Da nossa parte foi rápido. Era mais o Santos que estava enrolando. Não estavam me querendo lá e não queriam me liberar; não entendi. Demorou uns três, quatro dias para dar certo.

Como você encara essa missão de, ao invés de brigar pelo título, permanecer na Primeira Divisão?

Eu vivi isso no Coritiba também. O objetivo era ficar em meio de tabela, mas quase fomos campeões. Fomos vice campeões (da Copa do Brasil) por duas vezes, ficamos em sexto no Brasileiro, e é diferente. Jogar em time que só quer brigar lá em cima não tem tanta cobrança como aqui. Quando começa a bater lá embaixo, perto da zona, a pressão aumenta, pessoal começa a cobrar, falando que vai cair, então é assim. Mas hoje a cabeça do América é diferente. Os jogadores que estão aqui pensam diferente. Não pode se desesperar, pois é um campeonato longo. 

Tem gostado do Adilson Batista?

Ele é um treinador muito bom, assim como eram os outros (Enderson e Drubscky). Acho que agora a gente entendeu melhor. Com o Ricardo a gente teve uma dificuldade de entender. Mas espero que a gente termine bem o ano. O Adilson pede para o time rodar mais a bola e ter mais a posse. Gosto dele porque ele treina a semana inteira em cima do time adversário. 

Você vai enfrentar neste fim de semana o Fluminense do Marcelo Oliveira, que foi seu técnico no Coritiba e no Atlético. O que espera deste confronto?

Dentro de casa temos que fortalecer. O Fluminense é um time grande. Temos que nos impor, marcar, não deixá-los jogar e é uma alegria reencontrar o Marcelo. É um cara que eu me dei super bem no Coritiba e também no próprio Atlético. Torço por ele, é um amigo meu, mas agora estou defendendo o América e espero que eu o vença (risos).


 

E o apelido de “General”?

É bom demais. Apelido carinhoso que eu peguei na torcida do Atlético e ficou né? Onde eu vou no dia a dia nem me chamam mais de Donizete. É bacana. Conquistei com mérito meu. Corri demais. Não foi fácil. Fico feliz que me chamem assim e principalmente em BH. A cidade inteira me abraçou assim; a torcida do América é uma torcida bacana também e o carinho tem sido muito bom.


Você está com 36 anos. Se acha um velhinho ou ainda está longe da aposentadoria?

Eu não penso em parar não. Ainda tenho chão (risos). Estou com 36 anos, com um percentual (de gordura) baixíssimo, não engordo, me cuido e quero mais. Eu pego sempre bons exemplos. Por que não um Zé Roberto que jogou até os 43? Então, eu vou deixar aí, levando... Na hora que eu sentir muita dificuldade e estiver jogando mal, aí sim eu vou pensar em parar. 

Você é rotulado com o um volante que bate muito em campo. Concorda?Nada. Eu pego firme. Aí o pessoal acha que você está dando porrada. Mas eu sou firme na marcação, não deixo girar, trombo, dou carrinho, então fico com esse nome meio sujo e ouço que só bato. Bato, mas sei jogar também, e tudo tem sua hora. Tem a hora de chegar firme, porque senão os caras bagunçam, né? (risos)

“Onde eu vou no dia a dia, nem me chamam mais de Donizete. É bacana. Conquistei isso com mérito meu. Corri demais em campo. Não foi fácil. Fico muito feliz que me chamem assim em BH. A cidade inteira me abraçou como General”​

Você tem contrato até o final do ano. Voltar pro Santos nem pensar?

Tenho mais um ano de contrato lá no Santos e lá é difícil ficar. O Santos não quer e eu também não quero ficar largado lá. Tenho oportunidade de jogar nestas grandes equipes do Brasil, então primeiramente vou pensar em fazer um grande campeonato no América. Estou gostando demais de tudo aqui.

A Copa do Brasil de 2014, quando o Atlético derrotou o Cruzeiro na final, foi o título mais especial da sua carreira? Mais que a Libertadores de 2013?

Está na memória. A Libertadores não tem como, né? Mas a Copa do Brasil foi bacana porque foi em cima do rival. Foi maravilhoso ganhar deles ali. O Kalil (Alexandre) quando foi concentrar com a gente tava doido, doido, doido. Falei para ele ficar tranquilo que ia dar tudo certo. Ganhamos o primeiro jogo e ele perguntou “e agora o segundo?”. Falei que já era. Nosso time estava muito encaixado, muito confiante. Eles já vinham desgastados, pois estavam em duas competições, e merecidamente a gente venceu. 

E como foi participar daqueles dois anos mágicos na história do clube?

Foi maravilhoso. Não tinha briga e nem nada. Falo que montar um time daquele jeito vai ser difícil. A gente entrava em campo e brincava naquelas viradas doidas. Tomava um gol e todo mundo ficava tranquilo e gritava “vamos jogar!”. O jogo é jogado e ninguém desesperava. E ficava bonito de se ver. Meu filho também adora e sempre vem comentar de certos jogos daquela época. 

Tem sonhado com o Dagoberto ainda?

A rixa era brava ali! (risos) Ele era cascudo, entrava e já vinha para provocar, parece. Eu também não apalpava não, aí era só tapa de um lado, soco do outro... Mas o bom é que ficava só ali. Já topei com ele fora. Ele falava “você é folgado, hein?”, eu respondia “você também!” e ficava assim, entendeu? No último jogo, ele tava no Vitória. Na primeira bola que ele deu uma esticada, eu deixei uma chegada nele e ele falou: “você não parou ainda?”. Eu respondi “eu não posso! Se eu parar eu estou morto, cara”. 

“É uma alegria reencontrar o Marcelo (Oliveira). Torço por ele, é um amigo meu, mas agora estou defendendo o América e espero que eu o vença”


Você acha que falta mais isso no futebol de hoje? Está tudo muito chato ultimamente? Até comemorar gol virou motivo de cartão amarelo...

O futebol está chato sim. No gol, por exemplo, deixa o cara comemorar à vontade. O intuito é esse. Não digo de tirar sarro da torcida, mas dançar, tirar a camisa. Isso é válido, é legal e faz parte. Está ficando tudo muito sério. Faz gol e tem que voltar para trás rápido. A juizada tem que pensar nesse conceito e nos deixar mais à vontade.

Você se sente perseguido pelos árbitros, principalmente pela fama?

Às vezes eu tomo uns cartões e penso logo nisso, que com certeza é a fama. Uma bola normal que eu vou, que trombo, uma falta simplesinha que eu faço e tomo cartão. Parece que é para segurar o jogador. Mas às vezes a gente merece também, quando chega atrasado na jogada.

Você teve uma dupla de sucesso com Pierre no Atlético. Tem um “Pitbull” aqui no América?
Tem o Zé Ricardo. O “bicho” é bravo e forte. Ele é novo e ainda vai dar um jogador bom. Está crescendo cada dia mais. Tem qualidade misturada com força. Bruno Cantini/Atlético 

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